1.º maio: A «nova geografia das profissões» na análise de um economista, um dirigente associativo e um gestor

António Bagão Félix, Américo Monteiro e Jorge Libano Monteiro debatem os novos desafios do trabalho e dos trabalhadores

Lisboa, 01 mai 2018 (Ecclesia) – António Bagão Félix disse à Agência ECCLESIA que são necessárias medidas que favoreçam a justiça laboral e que vão também ao encontro dos desafios da era digital, que trouxe consigo toda uma “nova geografia das profissões”.

No âmbito da comemoração do 1.º de maio, Dia do Trabalhador, o antigo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz destaca em primeiro lugar a importância de “políticas públicas” que garantam a “estabilidade de emprego”.

Num tempo em que “desapareceu” a noção de “um trabalho para a vida”, em que o ciclo laboral percorre “várias fases”, o principal é que todas as pessoas, a começar pelos jovens, tenham acesso a “oportunidades de mudança, de requalificação, de alteração até dos próprios objetivos”.

Só assim, frisa o também ex. ministro das Finanças e da Segurança Social, é que será possível combater a grande “questão social” do presente, que é o problema do “desemprego”, de alguma forma também alimentado pelo advento da era digital.

António Bagão Felix frisa que o “desenvolvimento tecnológico” teve “muitas vantagens”, mas também “alguns inconvenientes”.

“Há postos de trabalho que desaparecem. No sistema financeiro, por exemplo, na banca, nos seguros, milhares de postos de trabalho desaparecem naturalmente, porque as pessoas já não vão ao banco, porque a maior parte das operações são feitas virtualmente, e isso tem que ser uma realidade que suscita algumas preocupações, mas que nos põe perante novos desafios”, sustenta aquele responsável.

Neste contexto, o professor universitário defende que “não vale a pena ser saudosista”, mas avançar com mentalidade “construtiva” rumo a um futuro laboral que permita “sobretudo preservar a dignidade da pessoa humana”.

“É importante conjugar esta ideia com uma nova geografia das profissões: nós temos profissões que desapareceram, temos profissões que têm que ser reabilitadas, temos profissões emergentes e novas”, acrescenta António Bagão Félix, que se refere ainda ao papel que os sindicatos devem desempenhar nesta nova realidade.

“Os sindicatos não se devem limitar a defender aqueles que têm trabalho, mas sobretudo procurar criar condições para que aqueles que não têm trabalho o possam ter com a maior estabilidade possível”, complementa.

As alterações no mundo do trabalho, o avançar da era digital e o papel das organizações laborais, incluindo da Igreja Católica, em toda esta conjuntura, motivou o Programa ECCLESIA ao diálogo com vários representantes do mundo empresarial e dos organismos sindicais católicos.

Na opinião de Américo Monteiro, dirigente da Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos, é essencial que “quem governa o país”, mas também “quem dirige as empresas”, se preocupe com as mudanças em curso no mundo laboral.

“E nem estamos aqui a quase a falar de novos direitos, em Portugal falamos de recuperar direitos”, aponta aquele responsável.

Sobre o trabalho digital, o presidente da LOC – MTC, alerta para o perigo de um conceito de trabalho cada vez mais “individualista”, que “embrutece” e “isola”, que retira a perspetiva de um coletivo, de um grupo que “partilha dificuldades” e que luta junto “para resolver” os seus problemas.

“O trabalho deve funcionar para valorizar a pessoa, para que a pessoa seja feliz, para que a pessoa encontre a felicidade e a realização no trabalho”, sublinha José Paixão.

Sobre a relação no trabalho falou também Jorge Libano Monteiro, secretário da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), para referir que “perante o mundo difícil e complexo em que as empresas hoje em dia funcionam, se não houver conjugação de vontades” tudo ficará “mais difícil”.

“Todos precisam de todos na empresa, trabalhadores e líderes precisam uns dos outros”, evidenciou o empresário cristão, que deixou ainda uma mensagem para os sindicatos de trabalhadores.

“Que a voz dos trabalhadores seja realmente a voz dos trabalhadores e não seja uma voz política, de partidos, não seja uma voz que tem outros interesses que não os dos trabalhadores. O que muitas vezes se sente nas empresas é que os sindicatos não estão a defender os trabalhadores, estão a defender outras opções”, concluiu aquele responsável.

A análise de António Bagão Félix, Américo Monteiro e Jorge Libano Monteiro é transmitida no programa Ecclesia deste 1.º de maio, na RTP2, às 15h00; ao longo desta semana, as perspetiva sobre o trabalha no tempo atual passam também na Antena 1, pelas 22h45, onde se contam também as opiniões de Solange Pereira, presidente da Juventude Operária Católica, e José Paixão, coordenador da Liga Operária Católica.

JCP/SN/LS

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