“A Mim o fizestes…”

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário)
O Papa Francisco dedica a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz a 1 de janeiro aos refugiados. Além de nos ajudar a tomar consciência desta realidade do ponto de vista de quem a vive, e dos desafios de quem acolhe (ou não) pessoas nesta situação, propõe um programa.
Acolher.
Proteger.
Promover.
Integrar.
Ao ler a sua mensagem e reflectindo sobre este convite recordei o sentido e significado das palavras de Jesus no Evangelho de S. Mateus,
“Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolheste-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitaste-me, estive na prisão e fostes ter comigo. (…) Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.” (Mt 25, 35-36;40)
O convite para semear o mundo de Paz é simples: ver Jesus no outro.
Ver Jesus no outro
Cada refugiado é um ser humano que partilha em grande parte do teu património genético. Não é por acaso que tu, eu e ele fazemos parte da mesma família humana.
Apesar da ciência nos ter ajudado a entender isso, parece ainda difícil ver o outro como meu irmão humano. Daí o sentido do convite de Jesus para nós, hoje: aprendermos a ver Ele próprio em cada pessoa que experimenta na sua vida este momento de fragilidade particular. No fundo, não é o refugiado apenas que acolhemos em nossa casa, na nossa cidade ou aldeia, no nosso país, mas é a Jesus que acolhemos. Jesus nele.
Uma Regra de Ouro
Mas, se tens dificuldade em ver Jesus no outro, podes ainda “acolher, proteger, promover e integrar” com base num regra de ouro universal: “faz aos outros o que gostarias que fizessem a ti.” Esta regra leva-nos a pensar na importância de aprendermos a fazermo-nos um com o outro, como se procurássemos entrar na pele do outro, nos seus anseios, tristezas, medos, dúvidas e imaginarmos – “podia ser eu no seu lugar.”
Olhar compassivo
Se o Papa apela a um olhar contemplativo em relação aos migrantes e refugiados, apelo também a um olhar compassivo. Aquele olhar que provém da experiência de sofrer com o outro e que nos impele a agir em prol do seu “acolhimento, proteção, promoção e integração.”
A questão que podes colocar a ti mesmo se não estás envolvido em nada é: o que posso eu fazer? Como contribuir? São inúmeros os modos, mas muito depende da tua criatividade.
Se queres, tu podes
Podes rezar pelo refugiados e por aqueles que os acolhem. Sim, rezar não é um atitude passiva, mas um agir concreto de coração que na união com Deus nos inspira a agir.
Podes estar atento ao que se passa à tua volta e ver se perto de ti surgem iniciativas onde seja oportuno contribuir de modo concreto, indo ao encontro das necessidades dos outros.
Podes criar pequenas e simples iniciativas de solidariedade, por exemplo, jantares temáticos, venda de pequenos brindes feitos pela comunidade local, cujos fundos recolhidos revertem em favor das instituições dedicadas aos migrantes e refugiados.
Não há limites à imaginação se guardares bem no coração as palavras “a Mim o fizestes.”

Miguel Oliveira Panão, professor universitário
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