Ajuda aos católicos brasileiros

Quase todo o mundo conhece o Cristo Redentor do Corcovado, que se ergue majestosamente sobre a cidade do Rio de Janeiro. Todos os dias, numerosos turistas desfrutam desde o monte das impressionantes vistas da cidade e do mar. Também o Padre Werenfried, fundador da organização católica internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) subiu ao alto do Corcovado durante a sua primeira visita ao Brasil, em 1962, mas não como turista. O Padre Werenfried percorreu a América Latina para conhecer a miséria que atingia a região e, no Rio de Janeiro, dirigiu uma oração ao Cristo do Corcovado para protestar contra o sofrimento das pessoas que encontrou na sua viagem. Na sua “Conversa com o Cristo do Rio”, fala sem rodeios: “Senhor Jesus Cristo (…) permite-se dizer-te que aquilo que encontrei neste continente é escandaloso”. O fundador da AIS visitou as favelas miseráveis, com casas de cartão, levou a Cristo o nome das crianças que ali conheceu e que apontou um a um, porque a necessidade é mais do que estatísticas, estruturas e problemas. A pobreza não é uma abstracção, a miséria tem milhões de rostos humanos e cada um tem o seu nome próprio. Muitas das pessoas que acabaram nos subúrbios das grandes cidades provêm do Nordeste brasileiro, onde chega a não chover durante anos. Nesta região não era possível providenciar ao sustento familiar e muitos pensaram que nas cidades a situação melhoraria. Contudo, os sonhos e esperanças caíram por terra. Depois de gastar as últimas poupanças para pagar a viagem rumo à “terra prometida”, o único trabalho que os mais afortunados encontraram foi a recolha do lixo. A maioria, contudo, não conseguiu emprego e assim entrou no círculo vicioso da destruição familiar, da dependência do álcool, das drogas e da violência. Estas pessoas desenraizadas e desiludidas são presas fáceis para muitas seitas, daí a sua proliferação nos subúrbios das grandes cidades. Uma pequena zona chega a contar com uma estreita rede de templos, até 50. A sua mensagem é demasiado bonita para ser verdade, mas mesmo assim são muitos os que acreditam nas promessas de salvação fácil e rápida. A Igreja Católica não pode prometer-lhes um caminho fácil para o bem-estar material, mas pode oferecer-lhes, isso sim, outra coisa: a Boa Nova de Cristo. No entanto, para isso é necessário que alguém a proclame e os 130- 155 milhões de católicos do país apenas dispõem de 18 700 padres. Regra geral, as paróquias abarcam territórios muito extensos e há vários casos com mais de 100 mil paroquianos. No Evangelho encontramos uma passagem que ilustra a situação no Brasil: “A messe é grande e os trabalhadores são poucos”. Por esse motivo, a Ajuda à Igreja que Sofre apoia preferencialmente, neste país, como em muitos outros, a formação de sacerdotes. Além disso, também são necessárias igrejas, sobretudo nos subúrbios das grandes cidades e nas zonas de recente assentamento populacional no Brasil central e na Amazónia. Quando os crentes não dispõem de um local para se reunirem e celebrar a Missa, são apanhados pelas seitas, que dispõem de suficientes recursos económicos para erigir rapidamente vistosos templos. Bíblia para Crianças Nunca é demasiado cedo para lançar a semente do Evangelho nos corações, e os mais pequeninos devem saber que Deus os ama e que têm um lar. Quem, desde criança, lançou raízes por dentro não procura, quando cresce, a sua salvação nas drogas, no álcool ou nas promessas de falsos profetas que apenas querem tirar o dinheiro às pessoas. Há já 29 anos que existe a Bíblia para Crianças “Deus fala aos seus Filos”, traduzida em 153 línguas. O Padre Werenfried queria que a imagem de Jesus ganhasse vida no coração dos meninos e meninas, mas muitos deles não podem sequer sonhar com comprar um livro. Como poderiam conhecer a Palavra de Deus e a Boa Nova? O Padre Werenfried encontrou a solução: a quem não pudesse comprar uma Bíblia, era preciso oferecer uma. Assim surgiu, em 1979 – Ano Internacional da Criança – o projecto da Bíblia para Crianças. Desde o início, o Brasil foi um dos principais países receptores: durante a visita de Bento XVI, ele próprio entregará a edição comemorativa dos 10 milhões de exemplares distribuídos. Este é um número notável e, também aqui, cada exemplar da Bíblia está associada a uma criança, a uma história com nome próprio. Muitos recebem os cuidados e o carinho das religiosas, como as Franciscanas do Campo Limpo, que ajudam meninos especialmente necessitados, na sua maioria abandonados ou rejeitados pelos pais. No seu asilo infantil, 60 crianças encontraram um novo lar e outros 180 meninos de rua passam pelo centro, durante o dia. Na aula da Religião entram em contacto com a Palavra de Deus e as coloridas ilustrações da Bíblia para as Crianças transmitem o amor do Pai e fazem com que a figura de Jesus ganhe vida nos seus corações. Quando os rapazes deste centro receberam os exemplares, encheram-nos de beijos, tal era a sua alegria por causa deste tesouro. Outras crianças estão hospitalizadas e aprendem que Cristo curou os doentes, outras preparam-se com este livro para a Primeira comunhão. A Bíblia para Crianças é recebida em todos os lugares com gratidão e entusiasmo, não só pelos mais pequeninos, mas também por pais e avós, pois é o único livro de que dispõem muitos lares. É também utilizada na pastoral das prisões, porque muitas seitas tentam cativar os presos, pelo que a Igreja deve, fiel ao encargo de Jesus, “redimir os cativos”, estar ao serviço destas pessoas e das suas almas. Neste âmbito, a Missa é importante, mas não suficiente. Fazenda da Esperança Dizem que prevenir é melhor do que remediar e a Igreja realiza grandes esforços para impedir que as pessoas percam o pé. Para os jovens que caíram no círculo vicioso das drogas, da criminalidade e da prostituição também há esperança. Em 1983, o frade franciscano alemão Hans Stapel fundou a primeira Fazenda da Esperança, onde os toxicodependentes aprendem a viver com dignidade, através do trabalho e da oração. Hoje, há 33 fazendas em todo o Brasil. A taxa de sucesso é superior a 84%, sem drogas de substituição ou tratamentos médicos. Em vez disso, os jovens ganham o seu sustento trabalhando em grupo, forma de aprenderem que a comunidade é importante. Cada fazenda desempenha uma tarefa específica, que varia em função da sua localização e das possibilidades de vender determinados produtos. Assim, por exemplo, algumas dedicam-se à agricultura ou à jardinagem, à carpintaria ou mesmo à confecção de pizzas. Todas as manhãs, os grupos reúnem-se para ler uma passagem da Bíblia e para escolher uma citação que os ajudará no decorrer do dia. Como objectivos são propostos pequenos actos, como não faltar o respeito a ninguém, mas pouco a pouco acaba por conseguir-se muito. À noite, voltam a reunir-se e cada um explica como decorreu o seu dia, os problemas e progressos que sentiu. Quando alguém está em risco de crise e em perigo de recaída, os outros mobilizam-se para ajudar. A primeira fase de desintoxicação é particularmente dura, mas a taxa de sucesso fala por si mesma. Uma característica especial destas fazendas são as suas capelas: as obras de arte com que estão decoradas foram realizadas pelos seus habitantes com material de desperdício. Esta circunstância demonstra que, mesmo com o que os outros deitam fora, é possível criar algo belo, um símbolo da transformação da vida destes jovens. O verdadeiro objectivo deste trabalho não se limita à resocialização dos toxicodependentes, mas ajudá-los a descobrir a sua dignidade como filhos de Deus. O Padre Werenfried visitou estes jovens e animou-os a prosseguirem neste caminho. Desde o início pensou neste projecto como “pastoral”, pelo que Frei Hans Stapel, pai das Fazendas da Esperança, recebe o apoio da AIS. Indígenas A Igreja não se limita a enfrentar os desafios das grandes urbes. Em muitas zonas do país, as distâncias são imensas, um problema que já em 1973 deu vida ao projecto AMA. A construção da auto-estrada transamazónica supôs uma enorme mudança para os indígenas que habitavam na zona e também para os que tinham migrado do Nordeste e do Sul do país para a região. Até então, eram os rios as únicas vias de comunicação. Com a nova estrada, os Bispos precisavam de camiões para transportar os produtos agrícolas dos colonos para o mercado, levar as crianças à escola e os doentes aos centros sanitários, bem como os fiéis à igreja. Por acaso, nessa altura o Exército suíço colocou à venda os seus camiões usados e a AIS adquiriu, por um preço simbólico, 300 veículos – um dos quais continua ainda hoje a trabalhar. São os sacerdotes, contudo, os que mais precisam de um meio de transporte, dado que alguns se ocupam de 120 paróquias e muitos fiéis só vêm o padre uma vez por ano. A Fundação AIS apoia aqui a Igreja com automóveis e, nalgumas zonas do Rio Amazonas, onde a deslocação apenas é possível pelo rio, encarrega-se de financiar lanchas. Um dos sacerdotes que se desloca nestas embarcações de alumínio com 15 metros é o capuchinho Gino Alberati, que visita periodicamente as comunidades instaladas nas margens do rio. Na maior parte dos casos permanece durante vários dias nas povoações, celebra a Missa, baptiza crianças e adultos, casa os jovens e ouve os fiéis em onfissão. Sem a lancha, muitas povoações não poderiam receber a sua visita e, mesmo assim, a presença de um sacerdote continua a ser excepcional. Durante o resto do tempo, são os meios de comunicação social a “substituir” os sacerdotes. Media católicos A Fundação AIS apoia vários canais católicos de rádio e televisão como, por exemplo, a TV Nazaré ou a TV Rede Vida, esta última de alcance nacional. As seitas estão muito activos neste campo, por disporem de muito dinheiro, o que as capacita para oferecer somas quatro vezes superiores a outros por uma emissora. Para a Igreja Católica não é fácil competir neste âmbito. O trabalho pastoral nos meios de comunicação serve para combater a ignorância religiosa das pessoas e, quando uma diocese dispõe de um programalocal, a identificação dos crentes com a Igreja é reforçada. Por ocasião da visita do Papa, a AIS financiou numerosos repetidores (dispositivos que recebem e retransmitem um sinal) para o canal TV Rede Vida, a fim de que o maior número possível de brasileiros possa participar neste evento. A ajuda segue uma tradição da Fundação, pois um dos primeiros projectos que receberam o apoio da AIS foi a criação de uma escola radiofónica na Arquidiocese de Natal, no Nordeste do país: através da rádio, os ouvintes, organizados em pequenos grupos liderados por professores voluntários, recebiam ensinamento geral e religioso. Uma solução simples e barata, mas certamente genial. As Missões Populares deram um forte impulso para a consciência missionária dos leigos: eles vão de casa em casa, escutam as famílias, rezam com elas e convidam-nas a participar na Missa. Desse forma é mobilizado um grande número de crentes e desperta neles o entusiasmo pelo Evangelho. A formação dos leigos que se empenham nas tarefas eclesiais é outra das prioridades dos Bispos brasileiros e também aqui a AIS dá o seu contributo. Para a formação religiosa, o pequeno catecismo “Eu creio”, editado pela Fundação desde 1988, desempenha um papel fundamental, porque serve sacerdotes, catequistas, famílias, jovens e adultos nas suas aulas de Religião e porque é a base de numerosas actividades pastorais. A Ir. Isabel João Panzo, coordenadora do trabalho catequético da Diocese de Quixadá, assegura que “este livro contribui para que as pessoas tomem consciência de que, em virtude do Baptismo, o Povo de Deus também é responsável pela proclamação do Evangelho”. O catecismo “Eu Creio” chegou, no Brasil, aos 1,3 milhões de exemplares. Nos anos mais recentes, a AIS ajudou a Igreja brasileira com mais de 4 milhões de Euros, e este ano volta a apoiar inúmeros projectos. No Rio de Janeiro, o Padre Werenfried finalizava a sua oração a Cristo com o seguinte pedido: “Desde as alturas do teu monte, no Rio, olha para a Europa e abençoa-a para que possa tornar-se grande no amor”. Um pedido que não perdeu nenhuma actualidade.

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