Alcobaça, Batalha e Jerónimos: Maravilhas a não perder

Os Mosteiros de Alcobaça, Batalha e dos Jerónimos constam entre as 7 Maravilhas de Portugal anunciadas no passado mês de Julho, em Lisboa. Em tempo de férias, surgem como alternativas ao sol e à praia. O território português está marcado, desde o alvorecer do Cristianismo, por notáveis edificações religiosas que nos permitem lançar luz sobre o contexto histórico e religioso das populações que lhe deram vida. O conjunto de ruínas ou monumentos do património cristão, nos seus exemplares mais significativos, é não só um testemunho dos tempos, mas também um roteiro de revelações e oportunidades a que ninguém deveria ficar indiferente. Alcobaça O Mosteiro de Alcobaça constitui um caso ímpar do ponto de vista arquitectónico, por tratar-se do primeiro exemplo português de arquitectura gótica, segundo as normas cistercienses, sem continuidade imediata noutros templos. Igualmente fundamental para a compreensão da arte religiosa desta época é o surgimento e a difusão do “Modelo Mendicante”. As Ordens mendicantes surgem no século XIII e são instituições de vida religiosa que pretendem restaurar a pureza evangélica na Igreja e combater as heresias. Mosteiro de Alcobaça : É considerado o monumento mais expressivo da arquitectura cistercense na Europa. No que se refere à igreja da abadia e não obstante as suas dimensões a estética cistercense é seguida. A estrutura domina sobre a decoração e não existem apontamentos ornamentais. Tem planta basilical em cruz latina com três naves e doze tramos. Existe componente românico na formulação planimétrica da cabeceira com deambulatório mas já com componente gótico nos alçados. O corpo do transepto e o das naves têm as soluções novas com abobodamento nervurado da mesma altura nas naves central e laterais. Esta elevação das naves laterais quase á altura da nave central constitui elemento original nos edifícios cistercenses. As naves laterais são contrafortes da nave central sendo aproveitados como corredores de passagem. A espessura das colunas de separação confere alguma O transepto é composto por duas naves sendo a mais larga a da face oriental .No transepto e de cada lado estão colocados os túmulos de D.Inês de Castro e de D.Pedro I que constituem dos melhores exemplares de escultura medieval portuguesa. O mosteiro de Alcobaça tem influencia predominantemente da Borgonha como toda a ordem de Cister originária daquela zona francesa. O conde portucalense D.Henrique dela foi contemporâneo e conterrâneo não admirando por isso a influência que a Ordem teve no novo país fundado pelo seu filho. É construído segundo o plano tipo da casa mãe em que se articulam em volta do claustro, a igreja e todas as outras dependências :casa do capítulo, cozinha ,refeitório dormitório ,livrarias oficinas. Reproduz a planta da abadia de Claraval II . A grande igreja da abadia que se desenvolve paralelamente à galeria sul do claustro tem orientação nascente poente. O refeitório segue a tipologia cistercense sendo perpendicular ao claustro e não paralelo como em S.Bento. O claustro só foi construído no reinado de D.Dinis em 1308. Influenciou posteriormente mas no mesmo século a construção dos claustros episcopais de Coimbra, Lisboa e Évora Batalha O maior monumento gótico português – o Mosteiro da Batalha, fundado em 1388 – baseia se na tipologia mendicante. A sua estruturação segue os preceitos da arquitectura dominicana. Para celebrar a vitória de Aljubarrota, que garantiu a independência de Portugal, o iniciador da nova dinastia, D. João I, fundou o mosteiro da Batalha. Iniciado em 1388, deve-se ao desenho de Afonso Domingues, que esteve à frente das obras até 1402. Este mestre arcaizante, que parece ter sido formado na charola da sé de Lisboa, deu origem a uma igreja de notável grandeza. O obradoiro pertencerá a outro arquitecto, Huguet, activo até 1438. Optará pelo estilo tardo-gótico ou flamejante e por soluções nas abóbadas da capela-mor que indiciam influência do Norte da Europa. Há outro requinte e inovação na rica gramática decorativa e na simbólica real. Pertence ao mestre Huguet o risco para a capela-panteão de D. João I, no lado sul da igreja (1426-1434), o claustro real, a cobertura da sala capitular, com uma arrojada abóbada em estrela. Começou ainda a levantar nova capela funerária para D. Duarte, de plano central e oito capelas laterais, conjugando arrojo e novidade de plano com virtuosidade técnica e fausto decorativo. São as chamadas capelas imperfeitas (1433-1438). D. Afonso V acrescentar-lhe-ia novo claustro. Ele resulta da intervenção do arquitecto Fernão de Évora e, estilisticamente, é uma obra que contraria o tardo-gótico de raiz flamejante, tendo-se optado deliberadamente pela austeridade arquitectónica, que rejeita até a inclusão de capitéis a marcar o arranque dos arcos. A Batalha teve outras fases construtivas igualmente relevantes, como o Manuelino ou o Renascimento. Todavia, a mudança dinástica verificada com D. Manuel privilegiou outros locais e, só no século XIX, o Mosteiro voltou a ser intervencionado, desta vez com o objectivo de restaurar o conjunto, campanha que se prolongou por meio século e que é um capítulo fundamental da nossa História do Restauro monumental. Jerónimos O Mosteiro dos Jerónimos é uma obra fundamental da arquitectura manuelina. O risco inicial é de Boitaca (1502), que lançou os fundamentos da igreja e do claustro, e cuja campanha de obra inclui os arranques do portal principal, actualmente abrindo para um nártex abobadado formado pelo varadim coberto que estabelece ligação com as arcadas do corpo fronteiro (onde está sediado o Museu Nacional de Arqueologia). O portal é em arco polilobado, abatido, encimado por representações alusivas ao mistério de Belém; de cada lado da entrada destacam-se, sobre mísulas, as estátuas de vulto de D. Manuel e de D. Maria. A meio da fachada sul, voltada para o Tejo, rasga-se o belo pórtico de João de Castilho, estruturado ao modo de monumental relicário de ourivesaria, sobrepujado pela estátua da Virgem de Belém e o Arcanjo S. Miguel, e decorado com esculturas dos Apóstolos, Profetas, Doutores da Igreja, Sibilas e anjos. No registo inferior, ao centro do mainel que divide a porta, uma estátua do Infante D. Henrique. O portal é ladeado por dois janelões de arco redondo. A igreja é de planta longitudinal, em cruz latina, com três naves cobertas por abóbada única, rebaixada, apoiada em oito pilares octogonais de grande altura, sistema que possibilita a criação de um espaço transparente, unificado e luminoso. A actual Capela-mor, maneirista, é da autoria de Jerónimo de Ruão, e guarda os túmulos, classificados, de D. Manuel I, D. Maria, D. João III e D. Catarina. O belo retábulo-mor é de autoria de Lourenço de Salzedo, pintor régio. No transepto estão os túmulos de D. Sebastião e do Cardeal D. Henrique, e no primeiro tramo do sub-coro estão os cenotáfios de Luís de Camões e de Vasco da Gama. O Claustro, a Norte, é de dois andares abobadados, decorado com motivos relevados cristológicos, pontuados por heráldica régia. A Casa do Capítulo, a Nascente do Claustro, foi reconstruída em 1884, e alberga o túmulo de Alexandre Herculano. No Refeitório, paralelo à parede Oeste do Claustro e coberto por uma única abóbada, abatida e polinervada, conserva-se uma pintura de Avelar Rebelo representando São Jerónimo. Mais informações: www.ippar.pt

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