Animação Missionária em Portugal

Missionários são peregrinos do Amor. Buscamos o rosto de Cristo nos pobres, em culturas diferentes, nas fronteiras da Igreja e da humanidade. Recolhemos experiências e vivências riquíssimas e indizíveis. Ao retornar à Igreja em que nascemos defrontamo-nos com um problema: como partilhar essa riqueza com a Igreja que nos viu nascer e nos apoia quando estamos longe? Esse é um problema nosso.

Por outro lado, nós sabemos que aos nossos amigos não basta apoiar o missionário: querem ser missionários, dentro das suas possibilidades e nas condições em que a vida os colocou. Têm direito e obrigação de sê-lo. A Igreja é missionária por natureza e cada cristão, cada padre, cada religiosa e cada bispo deve manifestar na sua vida essa qualidade da Igreja. Todos os filhos de Deus pelo baptismo são chamados a ser a luz das nações. Daí nasce para o missionário outra questão: Como apresentar o meu testemunho de maneira a ajudar o meu amigo a enriquecer a sua vivência cristã com a dimensão missionária? Noutras palavras, como posso ajudar esta Igreja a ser o que é: missionária?

Este não é problema só nosso. Compete aos responsáveis desta Igreja ajudar os cristãos a crescer “até às dimensões de Cristo”, viver em comunhão com toda a família de Deus e participar do anúncio do Evangelho “até aos confins da terra”. Nós missionários podemos colaborar com eles, mas nunca podemos substituí-los.

Cada instituto missionário tenta responder a esta problemática dedicando alguns dos seus membros à Animação Missionária. E, porque a tarefa é grande e nada fácil, os institutos missionários associaram-se no IMAG (Institutos Missionários ad Gentes), Animag (Animadores dos IMAG), Missão Press (imprensa missionária), AEFJN (Rede Fé e Justiça África Europa). Parece muita sigla, mas é simples: mãos que se unem para abraçar esta Igreja e o mundo, actuar em conjunto para os transformar. Por outro lado, a Igreja de Portugal tem uma Comissão Episcopal de Missões e as OMP (Obras Missionárias Pontifícias) e uma FEC (Fundação de Evangelização e Culturas). Este é o feixe de varas que tenta mexer nas cinzas para reacender mais algumas brasas e tornar os cristãos mais evangelizadores.

 

Como é que estamos a fazer isso?

O normal das nossas vidas é andar de mochila às costas, de paróquia em paróquia, de escola em escola, reunindo grupos, inquietando consciências adormecidas. Trabalho de formiguinha que mal se vê. Há semanas missionárias que juntam uma dúzia de formigas para remexer todo um concelho (quase todas as dioceses já as conhecem). Há a imprensa missionária que actua em conjunto sobre temas que chegam mais de uma centena de milhares de famílias. Há questões de justiça mundial que levam muitos institutos religiosos a pressionar os governos e as organizações mundiais que devem favorecer os povos mais pobres. E há um trabalho de acolhimento e formação de jovens que buscam a aventura de partir, descobrir a Igreja e os povos de outros continentes. Voltam mais adultos e estão a mudar o rosto da Missão: mais jovem, tecnicamente competente, mais feminina e mais colorida.

De vez em quando há iniciativas mais ousadas: Em 1998 promovemos um “Ano Missionário”. O resultado mais permanente foi o “Outubro Missionário” com um Guião (já vai em 12 edições) que muitas paróquias e dioceses adoptam para dar vida ao mês do Dia Mundial das Missões (18 de Outubro, este ano). Em 2004 houve um simpósio sobre a missionação, cujas actas foram publicadas pelas OMP no livro: Diálogo, Testemunho me Profecia. Preparou o caminho para, em 2008, realizarmos, em Fátima, um Congresso Missionário como lema: Portugal, vive a Missão, rasga horizontes (Actas também publicadas pelas OMP). Além da dimensão teórica, foi uma grande partilha de experiências e uma festa em que participaram perto de 1.000 pessoas. O fruto que mais esperamos é um documento do episcopado português sobre a evangelização. Confiamos que será o GPS que nos leve à formação de uma rede maior de evangelizadores para este país e até aos “confins”.

Nesta semana, estivemos de novo em jornadas missionárias, menos vistosas do que congresso (450 pessoas), mas que servem para reacender o fogo, promover a união dos companheiros dispersos, e tomar o pulso à caminhada conjunta. O nosso patrono foi Paulo e a sua Paixão pela Missão. O novo que está a surgir é: a Missão 2010 e congresso missionário do Porto; é a criação de um Observatório da Missão; é a participação de um monte de jovens de vários países que estão a formar-se em Portugal; e é a formulação de uma série de perguntas sobre o laicado missionário, que só terão resposta no futuro, mas saber formulá-las já abrir caminhos.

O animador sente-se, às vezes, o desejado das nações para pessoas que anseiam ver, em carne e osso, um exemplar dessa espécie rara por quem rezam todos os dias. Outras vezes, sente-se um chato que muda o ritmo da paróquia, os esquemas da catequese e perturbar as crianças da escola com rostos coloridos e imagens da fome e da pobreza. Nós acreditamos que este é um belo serviço à igreja e ao país: ajudar crianças e adultos a sair do seu casulo, ver o mundo com outros olhos, descobrir a generosidade e a alegria da abertura ao Outro para colorir com felicidade as suas vidas cinzentas.

 

P. Jerónimo Nunes, Missionário da Boa Nova

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