Comissão Nacional Justiça e Paz despede-se da «maior autoridade moral dos nossos dias»

Em memória do Papa João Paulo II Num momento em que o mundo inteiro, católico, cristão, crente e não-crente se desdobra em manifestações de pesar pela morte do Papa João Paulo II, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) não pode deixar de juntar àquelas manifestações a expressão da sua mágoa pelo acontecimento. Os incontáveis sinais de estima, admiração e afecto que se viram e continuam a revelar-se no decurso dos últimos dias – sobretudo desde que se tornou público que o seu estado de saúde entrara num processo grave e praticamente irreversível – ultrapassaram tudo quanto seria previsível, mesmo para quem conhecesse e valorizasse a sua capacidade de atrair e cativar líderes religiosos, chefes políticos, católicos do mundo inteiro e homens e mulheres de todos os continentes. A cobertura dada pelos órgãos de comunicação social a todas essas manifestações retira qualquer veleidade de acrescentar algo de novo ou desconhecido. Todavia, essa realidade não dispensa a CNJP de publicamente agradecer a Deus ter dado à Igreja este Papa, homem de Deus, que viveu a sua vida ao serviço da Igreja e da Humanidade, fiel ao que afirmou na sua primeira encíclica: “O homem é o caminho da Igreja”. Homem de fé profunda, inserida numa personalidade carismática e invulgarmente rica, é hoje reconhecido como um dos mais importantes lideres mundiais do século passado e, certamente, a maior autoridade moral dos nossos dias. Com o seu carisma pessoalíssimo, abraçou o mundo e se fez próximo de todos quantos, de perto ou de longe, de algum modo contactaram com ele. Sirva de exemplo o comentário de um crente islâmico, que, referindo-se aos pedidos de perdão formulados pelo Papa, disse considerá-los “um exemplo incrível de liderança”. Está aqui um modo de entender a liderança que o mundo desconhece. Por razões do âmbito de competência da CNJP, não podemos deixar de realçar o notabilíssimo papel que João Paulo II exerceu no domínio da justiça e da paz. No aspecto doutrinal, as suas múltiplas intervenções públicas e, sobretudo, as suas três encíclicas sociais são marcos de excepcional importância para o aprofundamento da doutrina social da Igreja, designadamente pela força com que proclamou, além do mais, a importância do trabalho humano na actividade económica e a sua primazia sobre o capital, o lugar do princípio do destino universal dos bens da terra e o da opção preferencial pelos pobres. Temos de reconhecer que se trata de documentos que ainda não tiveram entre nós a atenção que merecem. Possa a sua morte constituir um estímulo para que os cristãos e todos os homens e mulheres de boa vontade estudem esses documentos de invulgar profundidade e alcance. A história revelará com maior clareza os caminhos que João Paulo II percorreu no caminho da paz. Os encontros de Assis e os esforços feitos no sentido de evitar guerras ficaram como símbolos do seu empenhamento pela paz, e, do mesmo passo, da importância que deu ao diálogo inter-religioso. Ao condenar a guerra do Iraque, bem como o uso do nome de Deus para justificar guerras, enfrentava os poderosos do mundo e procurava evitar não só a guerra, mas a sua transformação numa guerra religiosa. Finalmente, vamos sabendo aos poucos o papel que João Paulo II teve no processo que devolveu a liberdade às sociedades que até 1989 viviam sob dominação soviética, que só o tempo desvendará. Ao expressar o seu pesar pela morte do Papa João Paulo II, a Comissão Nacional Justiça e Paz expressa, igualmente, a sua confiança em que, com o novo Papa, a Igreja continuará a cumprir a sua missão evangelizadora e promotora de Justiça e de Paz. 7 de Abril de 2005, Comissão Nacional Justiça e Paz

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