Congresso Eucarístico Internacional: uma crónica desde o Quebeque

Ir para o céu não é fugir deste mundo, como nos referiu o Cardeal Barbarin, de Lyon (França) na sua catequese, mas sim perceber que a vida eterna começa já aqui, no dia do Baptismo, e sempre que, em cada Eucaristia, o próprio Filho de Deus se torna presente sob as aparências do Pão e do Vinho. E, sendo no seio da Igreja que este Mistério acontece, a Igreja é comunhão, é sacrifício e é presença no meio do mundo, sobretudo nos templos vivos, que devem ser cada um dos cristãos. Numa Terça-feira de manhã, provavelmente o comum dos quebequenses, tal como qualquer habitante da Diocese de Setúbal, estará à espera de encontrar apenas as caras mais ou menos ensonadas, mais ou menos habituais, no seu transporte de casa para o trabalho. No entanto, esta semana não é nada normal, e o 801 (o número do dito autocarro) foi subitamente invadido por uma horda de brasileiros, portugueses, mexicanos, e também, claro, alguns canadianos. Todos, com a sua mochila negra, o seu cartão-passe pendurado de uma correia laranja ao pescoço, alguns com as capas de plástico que a organização forneceu contra a chuva aborrecida que ainda não parou, entram de rompante pelo veículo e enchem-no como um ovo. A algazarra, claro, mais que muita, e todos a meterem-se uns com os outros, mesmo sem nunca se terem visto antes. Perante tudo aquilo, um homem de meia idade, que seguia pacato no seu assento, pergunta a uma das viajantes, que deve ter percebido ser do Quebeque: «Onde é que vocês vão todos dessa maneira»? A resposta foi das mais desconcertantes, mas ao mesmo tempo das mais sérias que podiam ser dadas: «Vamos para o céu, meu caro senhor»! Olhos esbugalhados com a resposta, mas quem a deu não se riu, bem convicta do que afirmava. De facto, dá que pensar: para quê um Congresso Eucarístico, senão para amar mais a Eucaristia? E para quê a Eucaristia senão para nos unirmos mais a Deus e levarmos o mundo a unir-se também mais a Deus? Ir para o céu não é fugir deste mundo, como nos referiu o Cardeal Barbarin, de Lyon (França) na sua catequese, mas sim perceber que a vida eterna começa já aqui, no dia do Baptismo, e sempre que, em cada Eucaristia, o próprio Filho de Deus se torna presente sob as aparências do Pão e do Vinho. E, sendo no seio da Igreja que este Mistério acontece, a Igreja é comunhão, é sacrifício e é presença no meio do mundo, sobretudo nos templos vivos, que devem ser cada um dos cristãos. E por falar em templo vivos, e em céu, no dia seguinte, uma nova graça: foi-nos dada a possibilidade de participar na Eucaristia (tendo os sacerdotes presentes concelebrado) em Rito Bizantino. Tudo era diferente: os cânticos, as vestes dos bispos, a linguagem e os ritos da Eucaristia, os ritmos, a comunhão… Certamente que nem todos compreenderam tudo, mas a beleza da celebração e a harmonia falaram a esta grande assembleia aqui reunida. É claro que o recolhimento, no final, durou só até passarem os cinco minutos que os mexicanos normalmente aguentam sem cantar ou dançar… Mas até isso tem graça: é mais uma prova da variedade da Igreja, unida na mesma fé, mas com expressões muito diferentes e ricas consoante tempos, línguas e lugares. E que tal terminar o dia ao lado de três cardeais, cada um com seu pratinho de plástico na mão, e uma tigela de sopa ao lado, debaixo de uma tenda, e entre dezenas de sem-abrigo? Nunca lhe aconteceu? Pois é, mas uma festa organizada por uma das paróquias da cidade pode acabou assim mesmo: padres, bispos, cardeais, paroquianos, estrangeiros, sem abrigo, juntaram-se todos numa festa cheia de música, muito simples e valorizando muito a proximidade de uns com os outros. Chamaram «Ágape» à festa, segundo o nome da refeição fraterna que os primeiros cristãos trocavam entre si no fim das celebrações da Missa ou em outras ocasiões festivas, e foi isso que se sentiu verdadeiramente: nunca tanta gente, ao mesmo tempo, nos perguntou tanta coisa sobre Portugal, Fátima, e claro, também sobre o Euro 2008… A comida… bom… era canadiana… mas isso não importa nada agora! PFM

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