Cultura: Jornadas católicas realçaram a necessidade de «educar para o património»

Evento na igreja do Sagrado Coração de Jesus em Lisboa congregou responsáveis de várias áreas

Lisboa, 16 out 2017 (Ecclesia) – A presidente do Centro Nacional da Cultura disse que é essencial reforçar a educação para o património, durante as jornadas sobre ‘Património Moderno da Igreja’, que foram promovidas na igreja do Sagrado Coração de Jesus em Lisboa.

“Se nós defendemos cada vez mais o direito ao património, o direito à fruição que todos nós como cidadãos temos, é preciso criar condições ter essa fruição no seu pleno direito. E uma das formas é educar para o património. Ela deve estar integrada no sistema público de educação”, apontou Maria Calado, em declarações à Agência ECCLESIA.

As jornadas em causa, que contaram no sábado com a parceria do Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica Portuguesa; e do grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, tiveram como objetivo perspetivar o futuro do património da Igreja Católica no país.

Para Maria Calado, assegurar a sobrevivência de todo este legado, espiritual e artístico, imóvel e móvel, exige antes de mais uma atitude “muito consciente” da parte da comunidade onde ele está inserido.

“Por outro lado, é muito importante a interação das diversas partes, a Igreja Católica que é depositária deste património, cumprindo o seu papel específico, mesmo ao nível da formação dos párocos como já se está a verificar; e também a interação com a comunidade de pertença de cada um destes edifícios”, acrescentou.

Para o diretor do Centro de Estudos de História Religiosa (UCP) Paulo Fontes, apesar de se viver “um período de sensibilidade crescente e de muito trabalho feito em torno do património em geral”, no caso do património edificado da Igreja Católica é preciso “dar uma atenção especial”.

“Muito deste património necessita de intervenções de conservação, ou até de destino de um uso diverso daquele que inicialmente estava previsto”, apontou aquele responsável, que lembrou o exemplo da igreja do Sagrado Coração de Jesus.

“Um dos ícones da arquitetura religiosa moderna, que tem já esse reconhecimento público, mas que precisa de uma intervenção não só do ponto de vista técnico, material, mas também de pensar como é que a cidade e a Igreja na Diocese de Lisboa valoriza, frui, usa, se responsabiliza pela conservação deste mesmo património”, realçou Paulo Fontes.

O padre António Boto de Oliveira, do Centro de Cultura do Patriarcado de Lisboa, destacou o trabalho de “sensibilização” que a Igreja Católica tem procurado fazer, uma vez que por vezes há “muita dificuldade em assumir responsabilidade” perante estas questões.

“Sensibilizar as comunidades para a importância das coisas que têm, dos espaços que têm, da beleza, terem esta noção tendo sempre o cuidado de tratar dele, de o dar a conhecer e aprender com ele, aprender com o património”, completou.

A ligação entre o património e os mais variados agentes, não só políticos, culturais ou religiosos mas também económicos, numa perspetiva de mútuo desenvolvimento, foi outro dos pontos reforçados nas jornadas.

Classificar o património não pode ser o ponto de chegada, tem de ser ponto de partida para outros projetos, salientou o arquiteto José Manuel Fernandes.

“É uma economia nova que tem que surgir. Por exemplo, se os pastéis de Belém vendem-se tanto por serem bons mas também por estarem ao lado do Mosteiro dos Jerónimos, porque é que não temos um cêntimos de cada um a ajudar na conservação dos Jerónimos?”, questionou.

As jornadas sobre ‘Património Moderno da Igreja’ contaram com o acompanhamento de vários estudantes de arquitetura.

Um aspeto “extremamente agradável” para João Alves da Cunha, membro do Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Cultura.

“É importantíssimo este olhar desde cedo, por parte de quem está na formação, sobre estas questões”, apontou aquele responsável, que alertou para o facto de só um trabalho conjunto, “das várias disciplinas, não só arquitetos mas do campo da Arte, da História, do Restauro”, entre outras, é que será possível “ir mais além”.

JCP

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