Deficiência: Igreja tem «caminho de aprendizagem» a fazer na área da inclusão

«Deixem que Deus fale por meio destas crianças e por estas pessoas», pede pároco de Santo António, no Estoril

Estoril, 02 dez 2018 (Ecclesia) – A relação com Deus não pode ser “tipificada a partir da racionalidade”, afirma o padre Paulo Malícia, sacerdote na Paróquia de Santo António, no Estoril, e do colégio Senhora Boa Nova, uma proposta educativa que se quer inclusiva e ao encontro das pessoas com deficiência.

“Se para as crianças normais a Igreja exige uma caminhada cristã para pais e padrinhos, porque exige de forma diferente para crianças deficientes mas iguais em dignidade e que procuram Deus?”, questiona o sacerdote, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O padre Paulo Malícia indica o caminho de aprendizagem que a “Igreja deve fazer”: “Deixem que Deus fale por meio destas crianças e por estas pessoas”.

As Nações Unidas assinalam a 3 de dezembro o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, com o objetivo de mobilizar para a defesa da dignidade, dos direitos e do bem-estar de todas as pessoas.

Responsável há três anos pela paróquia de Santo António, a inclusão, sublinha, já “fazia parte” do projeto educativo do Colégio Senhora Boa Nova, onde a educação integral do aluno se baseia nos valores cristãos, facto que dá identidade à instituição.

Teoricamente sabia (o que era a inclusão), mas na prática diária quando lidamos com crianças que precisam de cuidado especial, nós não estamos a ajudar, eles participam. A inclusão não é uma ajuda que se dá; é perceber que a pessoa faz parte do projeto e tem algo que só ela pode dar. E tenho imensos testemunhos, de funcionários e pais, que o validam”.

Naquela instituição da Paróquia de Santo António do Estoril, no Patriarcado de Lisboa, qualquer atividade que se faça envolve a participação de todos.

“Não se faz uma coisa para uns e outra para outros. Dá mais trabalho, leva mais tempo, mas quando se pensa numa atividade é para todos”, sublinha o sacerdote.

Família do Bernardo

Carmo Diniz, mãe de Bernardo com nove anos, afirma encontrar na instituição a “valorização” do seu filho.

“O mérito que encontro nesta escola, e encontro como atitude coletiva, é a valorização do meu filho”, sublinha à Agência ECCLESIA.

Com uma incapacidade calcula em 99%, Bernardo Diniz encontrou no Colégio Senhora Boa Nova, depois de passar por outras instituições educativas, uma segunda família; é nesta casa que frequenta a escola, foi ali que fez a catequese e se preparou para a primeira comunhão, que recebeu em maio, e é nesta igreja que participa na Eucaristia.

O padre Paulo Malícia afirma usar dos mesmos critérios para dar os sacramentos a todas as crianças e adultos, e assim fez quando se colocou a questão de o Bernardo Diniz aceder aos sacramentos.

O critério para a iniciação cristã de uma criança é, à medida que ela for crescendo, está inserida num ambiente cristão, participar nas celebrações da comunidade, mostrar gosto por estar junto de Jesus, à sua medida… Por que razão uma criança com deficiência não pode ser admitida aos sacramentos da Igreja?”

“A proposta que Jesus Cristo faz a todos os homens, independentemente do seu estado e características; não é para alguns que têm mais jeito ou são mais perfeitinhos. Esta é uma proposta que não exclui ninguém”, enfatiza o sacerdote.

A atitude inclusiva não se restringe a questões de deficiência e estende-se à intergeracionalidade; todas as turmas, uma vez por semana, ajudam no almoço dos idosos, uma valência existente no centro social, a par do Colégio e da creche da instituição.

“A inclusão passa por perceber que temos idades diferentes ao longo da vida, mas somos sempre pessoas. É importante os mais novos perceberam que também vão envelhecer, isso é meio caminho para se combater a solidão”, realça o pároco.

O tema escolhido pela ONU para a celebração de 2018 é “Capacitação/empoderamento das pessoas com deficiência e assegurar a sua inclusão e igualdade”.

LS/OC

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