Diocese de Coimbra quer reforçar intervenção eclesial

D. Albino Cleto fala à Agência ECCLESIA das apostas para o novo ano pastoral Agência ECCLESIA (AE) – No início de mais um ano pastoral quais as grandes apostas da diocese de Coimbra? D. Albino Mamede Cleto (AMC) – Continuar a realizar aquilo que, há cinco anos tomámos como plano diocesano. Este ano é o último. Efectivamente havia quatro grandes tópicos: na área da família, juventude, da relação fé/cultura e no apoio aos mais necessitados conseguíssemos novas adesões. A partir destas adesões pudéssemos rejuvenescer as paróquias e as comunidades. No fundo apoiar a militância para rejuvenescer as comunidades. O grande objectivo é conseguir que as famílias chamem outras famílias, trabalhadores da acção social chamem outros e o mesmo direi dos jovens. Este ano vamos valorizar o trabalho na acção socio-caritativa. Faz-se muito trabalho na diocese, tal como nas outras, no serviço aos mais necessitados mas é um trabalho desarticulado em que cada um funciona para o seu lado. Apostamos cada vez mais num trabalho em rede. AE – Esta adesão de novos militantes está a acontecer? AMC – Muito lentamente. Verificámos que os ventos sopraram ao contrário, cada vez mais estamos numa sociedade onde se respeita a opinião do outro mas ele que fique com ela que eu fico com a minha. O ambiente não tem ajudado mas isso não nos desarma. Terá que ser a convicção de cada um a provocar isso. Dir-lhe-ei que isso está a acontecer um pouco nas famílias. Efectivamente, estamos a ter acções e grupos de pastoral familiar que não tínhamos anteriormente. Continua a acontecer também um pouco na juventude e, para grande alegria minha, vejo que intelectuais católicos tomaram iniciativas públicas de fazerem acções abertas ao público. AE – O rejuvenescimento do CADC ajudou nesta caminhada? AMC – Aí está uma das acções mas sempre atentos porque não queremos rejuvenescer o passado. Queremos é continuar o passado mas com perspectivas novas. AE – A evangelização através da arte é outro caminho. Já há resultados da iniciativa «Mostra de Tesouros Antigos»? AMC – Há um ano fizemos uma exposição que teve bastantes visitas mas não tantas quanto desejávamos. Esta exposição esteve ligada ao «Ano da Eucaristia». Neste momento estamos a insistir na inventariação para que, a partir dela, possamos desenvolver mais acções a nível diocesano. Felizmente nalguns lados, particularmente no concelho de Cantanhede, esta acção de mostrar o que há de belo e de bom está a ser feito pelas próprias paróquias. AE – Então continuam a existir muitos tesouros escondidos? AMC – É verdade mas a primeira coisa a realizar é inventariá-los. Vamos sensivelmente a meio. Depois temos de preparar as pessoas responsáveis. Paralelamente à inventariação estamos a fazer a consciencialização sobre o modo de preservar, conservar e utilizar catequeticamente. AE – O despovoamento na região Centro é uma realidade. Que antídoto a diocese de Coimbra está a utilizar para estancar esta sangria populacional? AMC – Procurando consciencializar a região da beira-mar – os concelhos do litoral mantêm-se e alguns cresceram – para aquilo que está a acontecer no interior da diocese. Nestes concelhos está a processar-se a redução do clero. Havia concelhos que tinham três padres e agora passam a ter apenas dois mas queremos que as pessoas sintam que a Igreja continua muito presente. Para fazer face a esta situação temos preparados leigos – não substituem o padre – mas que garantem a celebração dominical com a celebração da palavra. Brevemente iremos abrir também um novo curso para diáconos permanentes (actualmente existem oito diáconos permanentes) Iremos ajudar as pessoas a perceber o que é trabalhar em Unidade Pastoral. No lugar dos catequistas se reunirem na paróquia – quando esta tem apenas dois ou três – passam a congregarem-se no concelho. Os crismas começarem a ser feitos na sede do concelho. Há paróquias que diminuíram muito o número de pessoas – recentemente um padre disse-me que o máximo de cristãos que tinha na celebração era 12 pessoas – evidentemente que vamos continuar a assistir a estas situações mas de modo diferente. AE – Nessas aldeias vive-se uma realidade deprimente? AMC – Nos meus primeiros como coadjutor de Coimbra cheguei a tomar algumas iniciativas junto do Governo Central para que apoiasse na construção de escolas, indústria e abertura de caminhos. Neste momento penso que a desertificação está de tal modo acentuada que não vale a pena estar a gastar esforço no sentido de a impedir. Temos é de saber lê-la. O que está a acontecer é que as aldeias desaparecem porque a população se centra nas vilas próximas. Então teremos que apostar no desenvolvimento e no acompanhamento religioso dessas vilas sede de concelho. Relativamente a essas aldeias existe outro fenómeno: elas não desaparecem totalmente porque no Verão ficam cheias de pessoas. Temos de dar apoio com iniciativas sazonais – particularmente na Páscoa e no Verão – a essas comunidades que depois, no Inverno, quase desaparecem. Há outras que já desapareceram. Já a experiência de visitar uma aldeia desaparecida há dez anos onde, paradoxalmente, se reúnem as pessoas – vindas dos mais variados pontos do país – no dia 15 de Agosto para celebrar a festa. No final do dia voltam às suas terras. AE – Existe uma agonia no Inverno mas no Verão as pessoas voltam à festa da aldeia. Há orientações específicas sobre a religiosidade popular? AMC – É difícil uma pastoral das festas porque as pessoas ligam a festa à tradição. Querem tudo como antigamente: a presença do padre para celebrar a missa e presidir à procissão. Isso nem sempre é possível porque há padres que no mesmo dia têm sete festas. Estamos a procurar educar as pessoas para que se faça a festa mesmo que o padre só lá vá ao meio da semana para celebrar a missa. AE – Deixemos o interior da diocese e passamos para a cidade dos estudantes. Há linhas definidas para a pastoral dos jovens universitários? AMC – Há apostas concretas mas está a tocar-me num espinho que me magoa. Sonhei, talvez pensando em moldes do passado, mas estão ultrapassados. Nas décadas anteriores, a população universitária de Coimbra passava a semana na cidade. Hoje, sabemos – a Universidade forneceu-nos as estatísticas – que a partir de quinta, sexta-feira, quase metade da população universitária sai para as suas terras e só volta domingo à noite. Os dias em que podemos trabalhar resumem-se às terças, quartas e quintas. Estamos a fazer trabalho, nomeadamente no Instituto Justiça e Paz, mas mais lentamente do que esperávamos. AE – Podemos dizer então que, antigamente, Coimbra formava doutores cristãos e agora forma apenas doutores? AMC – Não. Continua a formar cristãos – muitos deles com trabalhos nas suas paróquias – que passam a ser doutores. AE – No próximo dia 3 de Dezembro celebra-se o centenário do nascimento de Mons. Nunes Pereira. A diocese irá fazer uma homenagem pública a esta figura célebre da igreja de Coimbra? AMC – Nesse dia teremos várias cerimónias em Coimbra: centenário de Mons. Nunes Pereira – será assinalado pela igreja (celebração na paróquia de S. José) e pela câmara (sessão pública) -, celebração dos 125 anos das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado de Jesus – iremos fazer uma celebração, na Sé, para nos associarmos a estas preciosas irmãs que ali servem o centro de Portugal recebendo centenas de doentes mentais – e uma homenagem a S. Francisco Xavier – nunca esteve em Coimbra mas tem uma grande presença na cidade através da arte (particularmente em telas). AE – Depois de cumprido o plano quinquenal, as directrizes apontam para que caminhos? AMC – Em 2007/08 voltaremos a fazer assembleias por toda a diocese para realizar dois trabalhos: avaliação cuidada do que se fez e não fez e, segundo, propostas para um novo plano diocesano de pastoral. AE – Há algum sínodo diocesano à porta? AMC – Terminámos um há quatro anos e uma das verificações que fazemos – contra mim falo – é que a realização do sínodo está muito lenta. O sínodo foi muito ambicioso e as pessoas dizem que sonhámos de mais. Primeiramente teremos que realizar o anterior. AE – Que propostas faltam cumprir desse sínodo? AMC – As unidades pastorais. É muito fácil sonhar e muito difícil realizar. Não só pelo lado das equipas sacerdotais como, sobretudo, pelo lado das paróquias que não querem perder o seu passado.

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