Drogas: «Igreja Católica tem um grande papel a desempenhar na dimensão humana e social do problema» – Isabel Diniz da Gama

Especialista na área das dependências representou os bispos portugueses numa conferência que o Vaticano dedicou a este tema

Lisboa, 03 dez 2018 (Ecclesia) – A representante dos bispos portugueses na conferência que o Vaticano dedicou às dependências, em Roma, destaca o peso que o Papa Francisco quer dar à vertente “humana e espiritual” no combate a esta problemática.

“Trabalhei 30 anos na área da toxicodependência e era muito a área científica e a saúde, e a conferência veio-nos trazer sobretudo a dimensão humana e social do problema, e é aí que a Igreja Católica tem um grande papel a desempenhar”, salienta Isabel Diniz da Gama, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A conferência ‘Drogas e Vícios: um obstáculo ao desenvolvimento humano e integral’, que teve lugar em Roma, entre 29 de novembro e 1 de dezembro, contou com a presença de cerca de 300 agentes envolvidos neste setor, provenientes de 63 países.

Isabel Diniz da Gama, que em termos profissionais passou por organismos como o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), sublinha a oportunidade de contactar com vários projetos católicos de sucesso, na área da prevenção, inseridos no meio das comunidades.

Como o caso da Irlanda, onde a Igreja Católica trabalha diretamente “junto das famílias, das escolas, dos clubes recreativos, das freguesias”; e do Brasil, que conta com o projeto ‘Fazenda Esperança’, que já chegou inclusivamente a Portugal.

Trata-se de uma iniciativa católica destinada a ajudar jovens que caíram no vício da droga e do álcool, e que no nosso país está radicada desde 2012 em Maçal do Chão, no Concelho de Celorico da Beira, Diocese da Guarda.

“É um projeto muito interessante, de cariz religioso, de cariz espiritual, uma dimensão que que foi também muito falada durante a conferência, como algo que também é muito importante tratar, recuperar”, aponta Isabel Diniz da Gama.

Sobre a realidade do combate e da prevenção às dependências em Portugal, Isabel Diniz da Gama defende a necessidade da criação de um novo organismo que centralize todo o trabalho que é feito, uma matéria que tem estado em discussão no Parlamento.

“Houve uma altura em que tivemos uma grande evolução, mas com o desmembramento do IDT isto morreu um bocado, perdeu força e dinamismo de trabalho porque ficou tudo muito desintegrado”, considera aquela responsável.

Depois do fim do IDT, em 2012, foi criado o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, que agora também poderá vir a ser reformulado por não estar a ter o desempenho que se esperava.

“Esta é uma problemática muito específica e tem que haver uma grande unidade nas pessoas que trabalham e uma grande vontade política que haja uma evolução”, frisa Isabel Diniz da Gama, que alerta para novas solicitações na área das dependências, cada vez mais presentes nos objetivos de prevenção e de tratamento.

Como situações ligadas ao uso das “novas tecnologias”, por exemplo “dos telemóveis, da internet, das redes sociais, dos jogos”, e também de adições relacionadas com “o sexo” e “as compras, o consumismo”.

“Hoje em dia, como disse o Papa Francisco, não é só com os traficantes da morte que nos temos que preocupar, mas sim com todos os outros produtos que estão a provocar dependência”, salientou aquela responsável, que destacou o foco dado durante a conferência à questão da “integração das pessoas na sociedade”.

“Daí que a posição da Igreja seja tão importante, porque trabalha em rede e dá um grande suporte aos indivíduos. Precisamente para preencher as suas vidas, para que não sejam pessoas com um vazio, mas com objetivos e com relações fortes”, completou.

JCP

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