Educar para o desenvolvimento

Autarquias e sociedade civil são parceiros priveligiados na resposta aos desafios globais da cooperação As autarquias são actores privilegiados para desenvolver um trabalho de educação para o desenvolvimento. Pela proximidade e assertividade, sabem como chegar às pessoas, mas a vontade política é determinante para a sustentabilidade de projectos de cooperação. Esta foi uma das conclusões indicadas pelo Seminário Nacional sobre Educação para o Desenvolvimento e Cooperação Descentralizada, promovido pela Fundação Evangelização e Culturas (FEC) em parceria com cinco municípios portugueses e a ONG Orbis – Cooperação e Desenvolvimento. O Seminário concluiu também a necessidade de integrar na estratégia de cooperação, o trabalho de educação para o desenvolvimento. “Ao sensibilizar a população local, este trabalho trará benefícios para o processo de cooperação, mas também para as comunidades locais”, adianta à Agência ECCLESIA Sandra João, coordenadora do projecto Enlaces, da FEC. O encontro entendeu ainda que a cooperação entre municípios deve ser valorizada como um instrumento de desenvolvimento regional e local. O papel dos municípios deve ser reconhecido e apoiado, integrando a Educação para o Desenvolvimento (ED) nas iniciativas locais de ordem cultural, educativa e recreativa. Outra recomendação que saiu da reflexão do Seminário Nacional aposta na promoção de uma rede estabelecida de parceiros, como factor para o sucesso da cooperação descentralizada. O Seminário Nacional decorreu de um percurso realizado por cinco autarquias ((Aveiro, Grândola, Santa Maria da Feira, Setúbal e Seixal) e pela Orbis – Cooperação e Desenvolvimento, que desenvolveram, em diferentes âmbitos, o Projecto Enlaces, lançado pela FEC aos municípios. Este projecto visa promover actividades de formação e de sensibilização da opinião pública sobre as questões do Desenvolvimento, das relações Norte-Sul, da interdependência e da interculturalidade, Caminho descentralizado Em conjunto com entidades locais, as autarquias fizeram um caminho de “formação, planeamento e desenvolvimento de acções locais com o objectivo de educar para o desenvolvimento”, que na base, significa “uma educação para a cidadania activa”. As experiências desenvolvidas pelas autarquias “foram pioneiras de um processo de trabalho, que se pretende continuar”, aponta Sandra João. No Seminário foram integrados “outros actores locais com trabalho feito, não necessariamente de ED, mas cujo contributo veiculava esses objectivos”. Câmaras Municipais ou actores da sociedade civil exemplificaram histórias “que na prática, significam passos que são realizados dentro da própria agenda dos municípios”. No concelho do Seixal, o mês de Março é consagrado aos jovens. “Este ano foi uma aposta, durante esse mês, abordarem a ED, através de ciclos de cinema que trazia à discussão as questões do desenvolvimento”. Em Setúbal, também em Março, no contexto do mês dedicado à mulher “integraram a sensibilização e informação para as questões do género, consagrados nos oito Objectivos do Desenvolvimento do Milénio”. Sandra João salienta a “preocupação de, com recursos locais, desenvolver este trabalho”. “O principal recurso local é o que já existe e a melhor forma de se trabalhar com o que já existe é começar pelas pessoas”. Os meios de comunicação foram identificados “como público alvo, mas também como parceiros”. Algumas rádios locais foram meios para a divulgação de iniciativas. “Em Setúbal, inserido no Março Mulher, houve mesmo entrevistas sobre estas questões”. Sandra João dá conta de “muitas autarquias portuguesas envolvidas em acções de cooperação para o desenvolvimento”, onde os projectos de geminação são os mais conhecidos, “inseridos num projecto de cooperação inter municipal”. Haverá vários formatos de parcerias e são “instrumentos que acabam por ser canais para desenvolver um trabalho de cooperação para o desenvolvimento”, sustenta. A coordenadora do Projecto Enlaces manifesta que “houve resultados de sensibilização dos municípios e munícipes para esta questão”. Mas lembra que “isto é um processo, e qualquer processo de educação demora muito tempo”. No caso dos cinco municípios parceiros esse esforço é visível, “e vai manter-se”. Desenvolver a educação Outro objectivo que o Seminário Nacional apresentava era fazer chegar junto do público “informação sobre o esforço que é feito de educação para o desenvolvimento e de cooperação”, explica Sandra João. O Consenso Europeu, também abordado no Seminário, corresponde à primeira declaração da União Europeia, assinada em 2005, sobre o que deve ser a política de desenvolvimento europeia. Esta declaração “apresenta um conjunto de princípios, valores e formas de actuação pelas quais cada um dos Estados membros deve orientar a sua política de cooperação”, dá conta a colaboradora da FEC. “Este documento torna claro que no contexto do Norte, deve ser dada especial atenção à ED. Na prática e no contexto dos países, quer dizer muita coisa, mas este é processo consagrado politicamente”. A ED visa envolver a opinião pública para a cooperação. “Não se trata de ajudar o outro, mas de ajudar a todos, pois o contributo é global”, sublinha a coordenadora do Projecto Enlaces. “É uma mensagem de parceria que tem de passar para a opinião pública”. O contexto actual é de globalização e inter dependência, logo, “mais do que nunca, as questões do Sul não podem continuar a ser reduzidas a questões do Sul”. Sandra João sublinha que existem “desafios globais. E o desenvolvimento é um desafio global”. “A cooperação não deve ser entendida como uma transferência de recursos do Norte para o Sul, mas como um trabalho de efectiva parceria entre Norte/Sul, Sul/Norte, Norte/Norte ou Sul/Sul”. O esforço de sensibilizar e mobilizar a opinião pública “serve para criar uma maior consciência de implicação nestas questões”. Futuramente poderá estar em cima da mesa o trabalho com outros municípios. “Que caminhos de continuidade existem, com que autarquias”, lança Sandra João indicando serem questões a reflectir. Para a FEC e para as entidades parceiras (as autarquias e a Orbis), “este trabalho não pode acabar”. Sandra João adianta que importa “perceber o que os parceiros pretendem continuar a desenvolver” e avaliar o projecto Enlaces, procedendo a algumas alterações ou extensões. Finda a avaliação, a FEC irá editar o resultado do Seminário Nacional e o percurso feitos pelos municípios portugueses.

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