Equador: Francisco denuncia faltas das humanidade contra a «mãe terra»

Papa retoma preocupações ecológicas na primeira viagem após a publicação da encíclica «Laudato si»

Quito, 07 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa renovou hoje em Quito os seus apelos em favor da defesa do ambiente, denunciando o “mal” provocado à “mãe terra”, na sequência dos alertas deixados na sua encíclica ‘Laudato si’.

“Uma coisa é certa: não podemos continuar a virar costas à nossa realidade, aos nossos irmãos, à nossa mãe terra. Não nos é lícito ignorar o que está a acontecer à nossa volta, como se determinadas situações não existissem ou não tivessem nada a ver com a nossa realidade”, declarou, durante um encontro que decorreu na Universidade Católica Equatoriana.

“Não nos é lícito, mais ainda, não é humano entrar no jogo da cultura do descartável”, acrescentou.

A primeira viagem após a publicação da ‘Laudato si’ sublinhou a necessidade de contrariar o “uso irresponsável e o abuso dos bens” que Deus colocou na terra.

“Não cessa de ecoar, com força, esta pergunta de Deus a Caim: «Onde está o teu irmão?» Eu interrogo-me se a nossa resposta continuará a ser: «Sou, porventura, guarda do meu irmão?»”, assinalou Francisco.

O Papa voltou a lamentar que não sejam notícia as mortes de pobres, por causa da “fome e do frio”, em contraponto ao “escândalo mundial” que se gera perante perdas nas bolsas das principais capitais.

“Eu pergunto-me: onde está o teu irmão? Peço-vos que façais outra vez essa pergunta, cada um, e que a façais à universidade, à Universidade Católica”, referiu, de improviso.

“Tudo está relacionado entre si, não há direito à exclusão”, disse depois.

A intervenção partiu dos relatos do livro bíblico do Génesis sobre a criação do universo, sublinhando a “missão” que Deus confia ao ser humano.

“Cultiva! Dou-te as sementes, a terra, a água, o sol; dou-te as tuas mãos e as dos teus irmãos. Aqui o tens; também é teu. É um presente, um dom, uma oferta. Não é algo de adquirido, comprado; mas antecede-nos e ficará depois de nós”, explicou o Papa.

O primeiro pontífice da América Latina na história da Igreja Católica recordou que na narração do Génesis, ao lado da palavra “cultivar”, aparece “imediatamente outra, cuidar”.

“Uma explica-se a partir da outra. Andam de mãos dadas. Não cultiva quem não cuida, e não cuida quem não cultiva”, precisou.

Segundo Francisco, este convite a cuidar, proteger e guardar a natureza “impõe-se forçosamente”.

“Existe uma relação entre a nossa vida e a da nossa mãe terra; entre a nossa existência e o dom que Deus nos deu”, observou.

O Papa chegou à Universidade Católica do Equador após um breve percurso em papamóvel aberto, acompanhado por milhares de pessoas, desde a Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé), onde tinha parado, durante alguns minutos, para cumprimentar crianças que esperavam por si.

Neste contexto universitário, Francisco convidou os presentes a interrogar-se sobre a “educação a respeito desta terra que clama ao céu”.

“Que tipo de cultura queremos, não só para nós mas também para os nosso filhos e os nossos netos? (…) Que orientação, que sentido queremos dar à nossa existência?”, questionou.

O Papa pediu mais atenção à vida diária para gerar um debate “construtivo” em prol de “um mundo mais humano”.

Perante a “globalização do paradigma tecnocrático”, Francisco propõe a criação de espaços de “verdadeira investigação” e de “alternativas” para as problemáticas de hoje.

O encontro iniciou-se com intervenções de D. Alfredo Espinoza Mateus, presidente da Comissão Episcopal para a Educação e a Cultura dos bispos católicos no Equador, uma jovem estudante, uma professora e o reitor da Universidade Católica em Quito.

No final da cerimónia, Francisco encontrou-se com a comunidade jesuíta, responsável pela instituição académica.

OC

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