Homilia da Benção dos finalistas 2009

“Um hino à vida e uma festa à ousadia da esperança” 1. Celebramos a festa da Bênção dos finalistas. É um dia feliz e promissor, para vós, caros finalistas, para as vossas famílias, para os vossos amigos, para as vossas terras e para as escolas frequentadas ao longo do vosso percurso académico. É um dia feliz para a cidade de Aveiro, para a Academia e para todos os aveirenses. A Igreja está convosco, hoje, em gesto de bênção, como sempre esteve com solicitude fraterna, através das comunidades cristãs que vos acolheram e do Centro Universitário Fé e Cultura que vos acompanhou. É em atitude de alegria, de presença e de comunhão que nos reunimos para celebrar a Eucaristia, neste IV domingo da Páscoa. Celebramos, em Aveiro, a Bênção dos Finalistas no primeiro domingo de Maio, Dia da Mãe. À Mãe de Jesus e às nossas Mães dedicamos todos os momentos desta celebração. O dia da Bênção constitui uma data assinalável, inscrita para sempre no calendário das vossas vidas. É um dia pleno, feito de todos os dias da vida de cada estudante. Todos sabemos que este momento não é o tempo todo, mas é feito de todos os tempos. Não é o caminho percorrido por inteiro, mas é uma etapa essencial do percurso feito e da coragem necessária para a viagem a realizar, a partir daqui. 2. O horizonte do sonho não se esgota hoje nem se circunscreve a esta bela moldura humana e à alma cristã que a habita e anima. O horizonte do sonho que transportáveis convosco no dia da chegada a Aveiro ganha aqui dimensão de futuro. A esperança que deu sentido a todas as horas da vida de estudante torna-se, hoje e aqui, uma encantadora realidade e transforma-se em compromisso humano, profissional, cultural e cristão de cada um de vós, caríssimos finalistas. Estais conscientes de quanto a sociedade, o mundo e a Igreja de vós esperam. O tempo da Universidade foi para cada um de nós, bem o sabemos e sentimos, o tempo essencial e insubstituível para aprendermos a assumir as exigências da vida, a descobrir as energias positivas dos obstáculos, a transformar as dificuldades em possibilidades e as crises em oportunidades. O tempo da Universidade constitui, para cada um de nós, tantas vezes o experimentamos e agradecemos, o tempo útil e imprescindível para integrarmos o saber adquirido na sabedoria da vida pautada pelo sentido exigente da ética e da responsabilidade. O tempo da Universidade ofereceu-nos a todos e sempre, frequentemente o recordamos e reconhecemos, o dom abençoado das pessoas encontradas, dos mestres competentes, dos funcionários dedicados e dos companheiros inesquecíveis. O tempo da Universidade treinou-nos, pelo trabalho sério, pela investigação exigente, pelos desafios da vida em cada dia encontrados, para sermos capazes de decisões clarividentes, de compromissos cheios de audácia, de contributos inadiáveis e de respostas solidárias ao serviço das causas da dignidade humana, da valorização da vida, da consolidação da família, do desenvolvimento científico, do progresso económico, da justiça social e da paz. 3. Afirmar uma palavra de esperança, nesta hora de dificuldade e de crise que o mundo vive, tem certamente um sentido novo e reveste-se de uma importância acrescida nesta celebração de Bênção de Finalistas. Conhecemos os dramas das pessoas sem pão, sem casa, sem trabalho, sem paz, sem alegria e sem esperança, e somos sensíveis e solidários com as preocupações de quantos diariamente pensam, sonham e decidem caminhos e soluções para a crise e para o medo que se instalaram no mundo. Estamos certos de que a resposta de um pensar global e de um agir local pertence por inteiro, a todos e a cada um. Somos chamados, caros finalistas, a dar esta resposta firmada na esperança e a ser esta presença atenta e corajosa, alicerçada num viver sóbrio, inteligente, solidário, empreendedor e cristão. A Igreja esteve sempre, desde os tempos apostólicos, na vanguarda deste serviço solidário aos mais pobres e desta solicitude permanente pelos que mais sofrem. É de todos nós conhecida a acção sócio-caritativa da Igreja em tantas vanguardas de missão. Lembremos neste ano Paulino o apóstolo Paulo e o seu cuidado pelo bem de todas as comunidades e o seu desvelo pelos pobres. Lembremos Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Teresa de Calcutá ou S. Nuno de Santa Maria/ D. Nuno Álvares Pereira, canonizado no domingo passado em Roma, que abandonou as riquezas do mundo e repartiu os bens pelos pobres. A família humana exige, também hoje, este suplemento de alma e a sociedade tem direito a esperar, de vós finalistas e de todos nós, neste momento difícil, um aumentado incentivo de esperança para que uma vida feliz e digna seja possível para cada um e o bem comum e a justiça social estejam ao alcance de todos. Somos convidados a reinventar a solidariedade, com ousadia e com perseverança. A Universidade é hoje, também, esta escola de sabedoria, de diálogo e de solidariedade, onde se aprendem os conhecimentos necessários e se descobrem os valores perenes que abrem caminhos de esperança ao futuro de todos nós. 4. É neste quadro de vidas com valor e com sentido que se coloca a perspectiva da decisão vocacional e da opção pela consagração da vida à causa de Cristo e ao serviço da Igreja. O Santo Padre Bento XVI, na mensagem enviada para este Dia mundial de oração pelas vocações, lembra-nos que a vocação, antes de ser resposta humana é iniciativa divina. Esta iniciativa de Deus tem em Cristo a voz e o rosto da vocação, diariamente renovada e permanentemente respondida ao longo dos séculos da vida da Igreja. Também, hoje e aqui, no centro da nossa assembleia, está Jesus Ressuscitado. Ele é o Filho de Deus, Jesus de Nazaré, a pedra angular da Igreja, o Bom Pastor de que nos falam as Leituras agora proclamadas. Vivemos esta hora com Cristo na alegria de nos sentirmos e sabermos filhos de Deus. Acolhendo o dom que Jesus faz da sua vida, queremos confiar-lhe a nossa, disponíveis para a missão que a cada um confia. A vida – esse bem precioso procede de Deus mediante a criação e a evolução ao longo de milhões de anos, passando pelas mais diversas fases (estamos no ano centenário do nascimento de Charles Darwin). A vida converge para Cristo em quem atinge a plenitude e está-nos confiada para a acolhermos com sabedoria e responsabilidade. A vida – esse bem inalienável que a todos irmana na mesma humanidade e abre horizontes de futuro e de Infinito – é frequentemente questionada na sua diversidade e precisa de especiais cuidados, atenção e respeito. A vida – este bem supremo que tantas vezes é preterido por valores de escala menor – necessita de ser reconhecida na sua dignidade e servida na sua realização integral. Um hino à vida e uma festa à ousadia da esperança são, sem dúvida, o sentido mais belo da Bênção dos Finalistas e a certeza maior que aqui nasce. Cristo é a nossa bênção. Ele precede-nos no caminho e acompanha-nos na viagem do futuro que agora começa. Deus tem um lugar insubstituível na vida de cada um de nós e a Igreja tem uma missão indeclinável neste caminho que daqui parte. 5. Os cristãos vivem o mês de Maio com o olhar e o coração voltados para a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja. Em Portugal acresce a esta antiga e consagrada tradição da Igreja a coincidência de ter acontecido a treze de Maio de 1917 a primeira Aparição de Nossa Senhora, em Fátima. Confio-vos, caros finalistas, à protecção da Mãe de Deus e nossa Mãe. Que Ela vele por vós com o seu afecto materno. Que Ela abençoe as vossas Famílias e as vossas Escolas, os vossos professores, companheiros e amigos. Que Ela vos ilumine nos vossos caminhos, nos vossos trabalhos e nos vossos projectos. Confio-Lhe também as nossas Mães, neste dia de Bênção e de Gratidão. E digo às nossas Mães em vosso nome, caros finalistas; em nome de toda esta assembleia celebrante; em meu nome também: Obrigado, Mães! + António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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