Homilia do bispo de Vila Real na Missa Crismal

Caros Padres, Diáconos, Consagrados e Irmãs e Irmãos, em Cristo Jesus!

No dia do Sacerdócio e da Eucaristia, agradeço a ajuda no anúncio do Evangelho. Dai razão da esperança no Ressuscitado e obedecei ao Espírito. Não vos envergonheis do Senhor, que, na véspera da Paixão amou os Seus, até ao extremo, antes do soldado lhe perfurar o coração, com a lança, do qual jorrou sangue e água, sinais do Baptismo, da Eucaristia e dos Sacramentos da Igreja. Dirijo-me em especial a Vós, Caros Presbíteros, que sois administradores dos sacramentos, arautos do Evangelho e pastores do Povo de Deus. Vós sois a minha glória e preocupação. Permanecei fiéis aos compromissos sacerdotais, lembrai a admoestação da ordenação: “toma consciência do que fazes, imita o que realizas e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor”.

 

1.-A Missa Crismal gira à volta da unção, em ordem ao testemunho. O Espírito ungiu Jesus, para dar testemunho. O Pai, no Baptismo, na Transfiguração e na Ressurreição apresentou o Filho ao mundo, para Jesus dar testemunho do Pai e nos dar a vida, nos libertar e curar, pela força do Espírito, mediante a água e sangue que fluem do lado aberto do Crucificado, ícone do sacrifício redentor do Servo, que carregou as nossas culpas e na água do Baptismo e no Sangue da Eucaristia nos dá a vida que flui do Seu Coração Imaculado. S. João, na Primeira Carta, fala do mistério redentor, dizendo:

Jesus Cristo veio com a água e o sangue. Não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. São três a dar testemunho: o Espírito, a água e o sangue e os três coincidem no mesmo testemunho. Se aceitamos o testemunho dos homens, maior é o de Deus; e o testemunho de Deus está em que foi Ele a dar testemunho a respeito do Seu Filho. Quem crê no Filho de Deus tem esse testemunho consigo. Quem não crê em Deus faz de Deus mentiroso, uma vez que não crê no testemunho que Deus deixou a favor do seu Filho. E este é o testemunho: Deus deu-nos a vida eterna e esta vida está no Filho. Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho também não tem a vida” (1 Jo. 5,6-12).

O testemunho do Pai em favor do Filho, para o Filho O glorificar, e a unção do Espírito moldam a missão redentora de Jesus, na Sinagoga de Nazaré, em prol dos pobres, dos prisioneiros, cegos e oprimidos. O Filho de Deus fez-se carne, no seio de Maria, e, por amor, livremente se entregou à morte. Pela Sua Ressurreição, glorificou a Sua natureza humana assumida, para nos glorificar e tornar semelhantes ao Seu Corpo Glorioso. Nasceu, morreu e ressuscitou, para nos salvar. A epopeia do inefável amor de Deus, que nos amou e nos deu o Filho, proclama que nada nem ninguém nos poderão separar do amor de Cristo.

Com a Missa Crismal termina a Quaresma. A Vespertina da Ceia do Senhor abre já o Tríduo do Mistério Pascal da Paixão e Ressurreição, em que Jesus vence a morte e nos dá a vida nova, cumprindo a vontade do Pai que lhe deu o Espírito. Tudo se fez, para a salvação e glorificação da natureza humana que Jesus recebeu, no seio de Maria. O que foi assumido pelo Filho foi salvo, como dizem os Padres. Morreu, por nós, uma só vez, para nunca mais morrer, e deu-nos a vida, ressuscitando, unindo-nos ao Seu Corpo mortal, para nos tornar semelhantes ao Seu Corpo glorioso.

 

2.- Os predilectos de Cristo são os pobres, atribulados, prisioneiros, cegos e oprimidos, os famintos e sedentos de Deus. A vinda do Espírito sobre Jesus e sobre os discípulos e a Igreja, no Pentecostes, é para a salvação das pessoas às quais a missão de Cristo e da Igreja se ordena. O alimento do pão e do vinho, o óleo, a força e poder de Deus, unidos ao poder de Jesus e à unção do Espírito, operam, em nós, os dons inefáveis da salvação e o aumento do Reino de Deus, contraposto à fugacidade dos bens terrenos. A água, o pão, o vinho e o óleo são sinais salvíficos, expressam o poder transcendente operado nas pessoas que os recebem e fazem parte da pedagogia de Deus se abeirar da pessoa humana. Deus escolheu a cruz, o sofrimento, a morte, o que é comezinho e baixinho, o que é humilde e desprezível aos olhos do mundo, para nos salvar e ensinar a apreciar os valores imperecíveis e eternos. O que é humilde, débil e sem importância aos olhos é que é sinal paradoxal da omnipotência de Deus, que se esvaziou da Sua glória e deu, livremente, por amor. O lava-pés significa o amor e esvaziamento de Deus em Cristo, o qual reenvia à cruz, à morte, por amor, e, como a Eucaristia, indica o supremo amor de Jesus moribundo, com o coração trespassado que os nossos olhos contemplam. S. João narra o lava-pés e não a instituição da Eucaristia de que falou clara e profundamente no Discurso do Pão da Vida. A Eucaristia, memorial da morte e ressurreição de Jesus era já celebrada, no primeiro dia da semana, dia da Ressurreição do Senhor.

Na Missa Crismal do Bispo com o Presbitério, são benzidos os santos óleos, devendo os do ano anterior ser queimados, de preferência, com o azeite da lâmpada, que assinala aos fiéis a presença do Santíssimo Sacramento. Com o Crisma são ungidos os fiéis, após o Baptismo e assinalados na Confirmação e ungidas as mãos dos presbíteros, a cabeça dos bispos e as igrejas e os altares, na sua dedicação. Com o dos catecúmenos os que se preparam para o baptismo e com o dos enfermos os que recebem alívio, na doença. Os Presbíteros concelebram com o bispo, na confecção do Crisma, como cooperadores do bispo, em cujo ministério participam, instruindo, santificando e guiando o Povo de Deus (Pr.O.n. 2). O Óleo do Crisma consagrado e confeccionado pelo Bispo, diante dos Presbíteros, mostra a força salvífica, a unidade do Bispo com o seu Presbitério. Lembra o fermento, nas aldeias, levado de casa em casa a fermentar a farinha amassada, nas famílias, sinal de unidade, mútua dependência, solidariedade e comunhão fraterna.

 

3.- A Missa Crismal conclui a Quaresma. Segue-se a Páscoa da Ressurreição. A Páscoa é palavra hebraica, que significa a passagem e mudança na vida do Senhor. É o início da vida nova do Ressuscitado, a passagem da vida terrena à gloriosa da natureza humana, assumida, pelo Filho de Deus, o qual, na véspera da paixão, tendo chegado a hora da passagem deste mundo para o Pai e tendo amado os seus que estavam no mundo, levou o Seu amor, por eles, até ao extremo (Jo. 13,1). Abriu as riquezas do coração, lavou os pés aos discípulos, rezou pela unidade da Igreja e tomou, em Suas santas e adoráveis mãos, o pão da vida e o cálice da salvação. Instituiu o memorial salvífico do amor, antecipando e interpretando a morte, por amor, para nos dar a vida, que flui do Seu lado trespassado, pela lança, donde jorram sangue e água, fonte dos Sacramentos, ícone do Seu amor à Igreja Esposa e sinal da unidade, em Cristo. A Eucaristia congrega a Igreja. Convido-vos a contemplar o coração trespassado do Redentor, a aderir ao amor misericordioso, prévio e transcendente, esculpido, no lado aberto de Jesus e a adorar dizendo: Ó sagrado banquete no qual se recebe Cristo, se comemora a Sua Paixão, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da Sua futura glória.

 

4.- Quinta Feira Santa é o dia escolhido, para nos encher de dons e o dia propício para Vos agradecer, caros Padres, Religiosos e Leigos, a ajuda que me destes, ao longo dos anos, na edificação do Reino de Deus, na Diocese de Vila Real. Com os sentimentos da Mãe de Deus, agradeço e louvo o Omnipotente, pelas Suas maravilhas e, com o Salmista, cheio de alegria canto para sempre as misericórdias do Senhor.

O Bispo, qualquer que ele seja, nada pode fazer de útil e bom, sem a ajuda de Deus, de Cristo e do Espírito e pouco pode fazer sem os Padres, os Consagrados e sem os Fiéis Leigos, que é chamado a servir, exortando-os e guiando-os, no seio do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja de Deus Pai e templo do Espírito Santo. Lembremos a alegoria da videira, em que Jesus diz: sem mim nada podeis fazer. Esta alegoria sublinha a união com Deus Uno e Trino e a eclesial dos ramos entre si e com o tronco, mediante a seiva que neles corre, para florescer e dar frutos de boas obras.

Vila Real, 29 de março de 2018

D. Amândio José Tomás, bispo de Vila Real

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