Homilia do bispo de Viseu na Missa vespertina de Quinta-feira Santa

Começamos, nesta celebração, a viver o Tríduo Pascal. Também hoje, o Senhor quer passar na nossa vida e viver, connosco, a Sua Páscoa. Sempre que a celebramos, anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha. Celebrar a Páscoa é, pois, viver e anunciar a Esperança e aceitar viver e construir um futuro novo que o Senhor anuncia. Celebrar a Páscoa é querer vivê-la em cada Domingo; é ter a certeza do reencontro; é acreditar que a Palavra e o Pão, tornados alimentos de vida eterna, realizam o que significam e concretizam o que anunciam.

O essencial da Páscoa e destes dias está na pergunta que nos faz Jesus, depois de lavar os pés aos discípulos. Voltando-Se, pergunta de forma solene: “Compreendeis o que vos fiz?” Pergunta que se liga a outras, ainda mais concretas. Compreendeis o Amor de Deus por todas e cada pessoa? Compreendeis os gestos concretos e diários, nos quais esse amor é transmitido? Compreendeis a Eucaristia como a expressão máxima e a síntese completa do amor? Compreendeis que ser cristão é amar Deus e amar todas e cada uma das pessoas? Compreendeis que amar é ir ao encontro de quem mais precisa de amor, carinho, companhia, alegria, solidariedade, justiça, partilha? Em resumo, Jesus pergunta a cada um de nós: compreendes a Minha Páscoa e queres viver a tua Páscoa, unido a Mim?

Jesus sabe que não é fácil entender tantas coisas, tão grandes e profundas, vividas e ensinadas em tão pouco tempo, misturadas com a despedida e saudade, na entrega. Os mistérios são enormes: Jesus feito Pão partido para a vida do mundo – instituição da Eucaristia; o lava-pés e a oferta da Sua vida – proclamação do Mandamento Novo; a entrega da Eucaristia e dos Sacramentos à Igreja para os homens de todos os tempos – instituição do Sacerdócio. Eucaristia, Mandamento Novo, Sacerdócio. São os mistérios que preenchem esta tarde de Quinta-feira Santa, o centro da Páscoa, numa oferta de amor sem medida, sem limites e sem igual – uma oferta que só pode ser divina.

Estes são gestos e atitudes que importa compreender, para que aprendamos a lição do Mestre e os realizemos também. Para tornar mais fácil a lição e não a esquecermos na vida, Jesus concentra todos os Seus ensinamentos no lava-pés, como nos explica João no Evangelho de hoje. Lavar os pés a todos e compreender-lhe o significado basta para nos levar a servir as grandes causas da fraternidade, da paz, da verdade, da justiça, do amor. Concretiza-se, pondo em 1º lugar os irmãos. Exige servir, deixando os nossos direitos pessoais nas mãos de quem servimos e tornando-os nossos avaliadores e juízes. O lava-pés é, assim, o ícone da Eucaristia, do Sacerdócio e do Mandamento do Amor.

É a grandeza da Páscoa e, ainda mais, é a grandeza da Eucaristia, entregue à Igreja para ser tornada Páscoa e Mistério Pascal, pela acção mediadora do Sacerdote. É o mistério da Assembleia reunida, cada Domingo, em nome de Jesus, para escutar a Palavra da novidade pascal e para celebrar a vida da eternidade prometida e esperada. É o mistério infinito do amor que Se entrega e Se dá, sem medida, para a vida e felicidade de cada pessoa humana. É o mistério do amor de Deus que Se renova nas mãos sacerdotais, para Se dar a todos, sem distinção, porque nos ama e nos quer oferecer um acesso simples para todos. Por tudo isto, celebrar a Páscoa, cada Domingo, é tornar visíveis as provas da Fé do cristão e que – nas opções, nas atitudes, nas decisões e nos atos da vida – traduz toda a coerência da adesão e do seguimento de Jesus Cristo.

Quinta-feira Santa – dia de ação de graças; de intimidade orante; de amor partilhado, sem medida e sem fronteiras; dia de escuta agradecida e de memória feliz e reconciliada.

Graças e louvores se deem a todo o momento – ao SSmo. e Diviníssimo Sacramento, presente na Eucaristia. AMEN!

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top