Igreja/Cidade: Pastoral católica parou na «perspetiva rural», diz teólogo Joan Planellas

Especialista espanhol está a participar num seminário sobre a realidade urbana, organizado pelo Patriarcado de Lisboa

Lisboa, 03 mai 2016 (Ecclesia) – O Seminário ‘Pastoral Urbana’, que o Patriarcado de Lisboa está a promover até hoje, alertou para a necessidade de novos métodos pastorais na Igreja Católica, para responder aos desafios do meio urbano.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o teólogo espanhol Joan Planellas, um dos oradores do evento, salientou que apesar de grande parte da população mundial já estar hoje concentrada nas grandes cidades, a pastoral da Igreja Católica ainda não abandonou “uma perspetiva rural”, como que parou no tempo.

“E este é um grande desafio para a pastoral da Igreja”, apontou o decano da Faculdade de Teologia de Barcelona, sublinhando que é preciso “ir mais além” do que a mera “territorialidade, das paróquias, das divisões administrativas, dos arciprestados”.

“Temos hoje metrópoles, cidades dentro de cidades, contextos alargados de populações, aos quais a Igreja Católica tem de estar atenta. E depois tem de lidar também com o retrocesso na receção da mensagem de Jesus, por parte das pessoas”, acrescentou.

Joan Planellas coordenou em 2014 o Congresso Internacional da Pastoral das Grandes Cidades, que decorreu em Barcelona e em Roma.

Para aquele responsável, é essencial hoje “uma Igreja em saída, como tem apelado o Papa Francisco, uma Igreja que não espera mas que vai ao encontro das pessoas” e dos “seus problemas”.

A reflexão sobre a ‘Pastoral Urbana’, que começou este domingo no Instituto Diocesano de Formação Cristã (IDFC) em Lisboa, reúne especialistas não só na área da Teologia ou das Ciências Sociais mas também do Urbanismo e da Engenharia.

Destaque para a participação de nomes como a arquiteta Helena Roseta, da Câmara Municipal de Lisboa, da professora Ana Maria Oliveira, da Universidade Católica Portuguesa, e dos professores Fernando Nunes da Silva e Luís Valadares Tavares, ambos do Instituto Superior Técnico.

Ana Maria Oliveira, especialista em Serviço Social e investigadora no Centro de Estudos de Desenvolvimento Humano da UCP, abordou as “vulnerabilidades” que hoje marcam os grandes centros urbanos, “que a Igreja não pode deixar de ter em conta”.

Desde “a exigência do mercado de trabalho, e o que isso influencia a vida familiar”; até “à solidão, que se refere aos idosos mas também a cada pessoa fechada muitas vezes na sua concha individual”, sem “olhar o outro”.

Neste âmbito a docente dá como exemplo os jovens, que frequentemente estão absortos no mundo virtual dos seus telemóveis e ‘tablets’, das suas redes sociais.

“As redes sociais são incontornáveis e as novas tecnologias também, não temos de ter delas a visão de um bicho papão. Agora, temos é que perceber como as vamos utilizar para humanizar. É um potencial enorme para o qual temos que olhar”, complementou.

No final do seminário, as conclusões saídas do debate vão ser compiladas num “documento programático” que será depois entregue ao cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

O cónego António Janela, diretor do IDFC, recordou que “o último grande documento” sobre a matéria remonta a 2005, data em que o então cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, dedicou uma carta pastoral ao tema “A Igreja na Cidade”.

Uma “reflexão” que ao longo dos anos “não teve continuidade” e que é “oportuno” retomar, considerou.

JCP

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