Igreja/Ciência: Recurso à biologia sintética exige «um debate democrático e sereno»

Bispos católicos realçam implicações éticas e religiosas de uma técnica que permite criar vida, mas também tirá-la

Bruxelas, 21 jan 2016 (Ecclesia) – Um grupo de trabalho da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE) publicou uma reflexão sobre biologia sintética onde questiona a viabilidade ética deste domínio da ciência, sobretudo na “criação de novas formas de vida”.

No documento, os especialistas referem que “este novo conhecimento e poder levantam não só grandes expetativas (algumas das quais infundadas) mas também um receio bem real de que ele possa ser usado em prejuízo da humanidade e do ambiente”.

A ‘genómica sintética’, conhecida geralmente por ‘biologia sintética’, é um domínio da ciência e da tecnologia que perspetiva a manipulação e melhoramento de organismos vivos, incluindo os seres humanos.

“Construindo artificialmente novas funções biológicas ou mesmo novos organismos que não existem na natureza, não estaremos a entrar em rota de colisão com questões de princípio?”, realçam os responsáveis da COMECE.

Esta área combina engenharia e biologia para projetar e construir novas funções e sistemas biológicos.

Através deste método, é possível codificar e construir novas formas de vida, por exemplo vírus e bactérias que podem ser utilizados para os mais variados fins, desde a proteção e melhoria da saúde humana e ambiental passando pela criação de armas de guerra ou a geração de pandemias à escala global.

Para a COMECE, é fundamental “uma avaliação cuidada dos reais benefícios” deste conhecimento, “bem como das suas possíveis consequências e riscos”.

O grupo de trabalho defende a necessidade de um “debate democrático sereno e responsável”, coisa que “na Europa ainda mal começou”.

“No que toca a este tipo de intervenção tecnológico-científica, que poderá ter significativas implicações no futuro, seria inaceitável uma abordagem irresponsável ou superficial”, reforça o grupo de trabalho da COMECE.

Aqueles responsáveis realçam também as interpelações religiosas que esta questão levanta.

“Poderá a humanidade de facto alterar o universo que lhe foi confiado? Isso não será colocar tudo em risco? E acima de tudo, não será esta uma manifestação de excesso, de um pretensiosismo exacerbado? Uma usurpação do lugar de Deus?”, questionam.

JCP

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