Igreja/Sociedade: Cáritas Arquidiocesana de Braga combate violência doméstica em rede

«Precisamos de trabalhar a educação para os afetos e para a cidadania íntima» – Psicóloga Raquel Gomes

Braga, 07 set 2018 (Ecclesia) – A Cáritas Arquidiocesana de Braga e o município local dinamizam o Fórum Concelhio sobre Igualdade de Género e Combate e Prevenção da Violência Doméstica e melhoraram essa estrutura com uma “carta compromisso”, assinada por 16 instituições.

“Reforçar o trabalho em rede para que seja uma engrenagem cada vez mais oleada, e que permita às vítimas um percurso muito mais rápido de autonomização e independência”, explicou hoje Raquel Gomes sobre “a declaração de intenções”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a psicóloga da Cáritas Arquidiocesana de Braga destacou os objetivos da ‘Carta Compromisso’, como o “fomentar” condições para a “aprendizagem e desenvolvimento de práticas que possam ser inovadoras, “quer na área da igualdade de género, quer no combate à violência doméstica.

As 16 instituições comprometem-se a “eliminar práticas desconcertadas”, no âmbito do modelo cooperativo, para que não estejam a intervir “todas nas mesmas pessoas”, mas que “a diversidade possa ajudara criar caminho para as vítimas” que não tenha tantos obstáculos, “passar por diferentes entidades e relatar a sua situação”.

“Que exista, no fundo, uma entidade que acaba por ser gestora, no apoio que presta aquela pessoa, mas depois tenha capacidade de articular com todas as outras no sentido de serem desbloqueados alguns obstáculos e não duplicar as intervenções”, desenvolveu.

Os diversos organismos pretendem “fomentar muito a comunicação” e “criar até ferramentas que possam ser partilhadas por todas”, e, neste âmbito, Raquel Gomes exemplifica que uma reunião do fórum concelhio foi dedicada à “partilha de contactos” e todos “sabem a pessoa chave à qual poderão recorrer para uma determinada área, ajudar a desbloquear uma determina situação”.

Segundo a psicóloga, cujo trabalho sempre esteve direcionado para o acompanhamento das vítimas de violência doméstica, desde 2006, hoje parece existir uma “maior visibilidade” destes casos, quer das entidades, da sociedade de uma forma geral, “e maior propensão para as vítimas denunciarem”.

“Temos efetivamente um número muito maior de situações que se deve a visibilidade maior do fenómeno, maior consciencialização de que é um crime e a pessoa deve e pode denunciar, mas também a atenção maior das entidades do fenómeno e, portanto, maior encaminhamento”, observa.

A violência no namoro também é preocupante porque os estudos demonstram que estão a “perder algum terreno”, com os jovens, “mesmo em camadas mais precoces, legitimam o uso da violência, do ciúme, do controlo”.

Para a Cáritas Arquidiocesana de Braga, segundo a sua psicóloga, é preciso “ir a camadas ainda mais precoces”, desde o pré-escolar, capacitar os educadores, e “trabalhar a educação para os afetos e para a cidadania íntima de forma geral”.

Respeito pelo outro, relações saudáveis, tolerância face ao outro, respeito pelas questões pela diferença de género, respeito pela igualdade de oportunidades”.

O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) informa que em Braga foram registados 1838 casos de violência doméstica em 2017, um aumento em relação ao ano anterior, e para Raquel Gomes “os números são preocupantes, até porque tem vindo a ser sempre um concelho referenciado nesse sentido”.

Contudo, a psicóloga salienta que o maior registo pode significar que “no concelho existem mais denuncias por violência doméstica” e pode também querer dizer que “a rede está mais ativa, que as pessoas denunciam mais”.

“O facto de existirem muitas denuncias não quer dizer que seja o concelho onde a violência está mais representada”, acrescenta.

Desde 2006, a instituição católica tem em funcionamento um Centro de Informação e Acompanhamento a Vítimas de Violência Doméstica, o ‘Espaço Igual’, e ao longo dos anos tem desenvolvido vários projetos nesse setor, atualmente o ‘DHARMA’ que faz parte do Plano de Desenvolvimento Social (2016-2021) para o concelho de Braga.

CB/OC

Instituições que assinaram a Carta Compromisso:

APAV; Universidade do Minho – Escola de Psicologia; CAFAP; Associação do Projeto Criar; Braga Habita – Empresa Municipal de Habitação; CPDJ; Comissão de Proteção ao Idoso; Cruz Vermelha Portuguesa; GNR; PSP; Instituto da Segurança Social; Ministério Público; Município de Braga; Cáritas Arquidiocesano de Braga; Tribunal Judicial de Braga; UMAR;

O Fórum Concelhio sobre Igualdade de Género e Combate e Prevenção da Violência Doméstica engloba também quatro entidades que não subscreveram: IEFP; Direção Geral de Reinserção Social, EPVA – Equipa de Prevenção da Violência em Adultos e o Hospital de Braga.

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