Igreja/Sociedade: Turismo pode ser «realidade pedagógica» para acolher o outro (c/vídeo)

Padre Carlos Godinho fala do valor do encontro de pessoas, culturas e sociedades

Lisboa, 06 ago 2018 (Ecclesia) – O diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT) alertou para o “esvaziar” da identidade de locais, para dar lugar aos turistas, e afirmou a importância do “encontro” num setor que “podia ser uma realidade pedagógica” de conhecimento.

“Ser capaz de gerar diálogo para acolher também outras formas de vida e ser capaz de desmistificar muitos argumentos utlizados para recusar a presença de refugiados que procuram, entre nós, melhores condições de vida”, disse o padre Carlos Godinho.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o sacerdote exemplificou que na Europa existe “tendência de fechamento”, como em relação aos refugiados, e o turismo tem um “papel importante” porque coloca as pessoas “na relação direta” e permite o acolhimento “sem elementos intermédios”.

“O Turismo podia ser uma realidade pedagógica que ajudaria a reconhecer o outro, a acarinhar o outro, de reconhecer e o acolher na sua identidade pessoal, na sua cultura, na sua forma de estar e pensar”, explica o diretor da ONPT.

Neste contexto, o padre Carlos Godinho destaca também uma dimensão de solidariedade e paz porque quando se encontra uma “realidade de pobreza, de dificuldade” as pessoas deviam sentir-se corresponsáveis, afinal, há países “em que é escondida a realidade”, com locais apenas para os turistas.

“Depende do quadro de valores que assume e vive, se a pessoa efetivamente percebe que o outro está numa situação de indigência não pode ser insensível”, observa.

A Obra Nacional da Pastoral do Turismo para a Época Balnear 2018 publicou a nota ‘Turismo e encontro’, enquanto setor que “permite a comunhão com os outros, de onde deriva tudo o mais”, e destaca o valor do encontro entre pessoas, culturas e sociedades.

“A capacidade de reconhecer a identidade do outro e a sua própria cultura, de dar a conhecer a minha própria cultura e gerar comunhão que leva depois a uma experiência de fraternidade, de solidariedade”, desenvolve.

O sacerdote da Diocese de Coimbra realça que se dá o encontro “tão necessário de diálogo profundo” também de civilizações para que os outros “não apareçam como estranhos”, mas seja “respeitada a identidade de cada um: cultural, religiosa, étnica”.

Para a Pastoral do Turismo da Igreja Católica em Portugal o acolhimento, “em sentido amplo, é um pouco o coração de toda a atividade”.

Neste contexto, explica que para as comunidades cristãs o acolhimento que “vem do encontro celebrativo” é, sobretudo, “centrado na Eucaristia”, onde irmãos “partilham a mesma fé”.

O turismo “tem aspetos muito positivos” que não são “apenas os económicos, que serão os mais evidentes”, mas é precisamente o encontro de pessoas onde se dá a conhecer um país como Portugal, “com toda a sua riqueza”.

Neste âmbito, alerta para a “contrapartida e aspetos menos positivos”, que têm estado aq ser discutidos, “nomeadamente, uma presença massiva de turistas e esvaziamento da identidade local”, como seja a realidade de bairros históricos em Lisboa e no Porto.

“Passamos a ter turistas que visitam turistas, começamos a ver espaços reservados maioritariamente aos turistas. Não retiremos a alma às nossas cidades; As pessoas não lhes interessa visitar um espaço onde perdem a identidade própria de um local”, desenvolve o padre Carlos Godinho, que escreveu a mensagem ‘Turismo e encontro’.

O Vaticano publicou a mensagem para o próximo Dia Mundial do Turismo (27 de setembro) onde alerta para os “efeitos negativos” de um excesso de procura turística nos locais de destino, apelando à “sustentabilidade” do setor.

CB/OC

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