Igreja/UE: Bispos da Europa Central e de Leste apelam aos governos para que «não ratifiquem a Convenção de Istambul»

Responsáveis católicos recusam «propagação da ideologia do género» e frisam a necessidade do Velho Continente regressar às suas «raízes cristãs»

Foto: TK KBS/Peter Zimen

Bratislava, 08 set 2018 (Ecclesia) – Os responsáveis católicos da Europa Central e de Leste encontraram-se em Bratislava, na Eslováquia, com a presidência do Conselho das Conferências Episcopais do Velho Continente, para debater a ação da Igreja no território e no mundo.

Um dos pontos que esteve em cima da mesa, de acordo com o comunicado final enviado hoje à Agência ECCLESIA, foi a crítica à Convenção de Istambul, um tratado pan-europeu que já foi assinado por mais de 40 países, incluindo Portugal, que começou por ser criado para a “prevenção da violência contra as mulheres”, mas cuja última versão define o género como uma “construção social”, defende a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e pede mais direitos para as pessoas transexuais.

Para os bispos, “a propagação da ideologia de género, a coberto da Convenção de Istambul”, é motivo de “preocupação” e os responsáveis católicos pedem mesmo aos governantes para que “recusem a ratificação do Protocolo de Istambul, ou revoguem a sua assinatura”.

“É preciso fazer tudo para ajudar a Europa a regressar às suas raízes cristãs. As suas instituições, incluindo os tribunais, devem respeitar a autonomia dos países da Europa Central e de Leste, em termos da esfera ética e cultural. Impor soluções que de alguma forma contrastem com as constituições e culturas individuais dos países, é motivo de grande preocupação, pois elas agravam a alienação e dificultam a integração”, frisam os prelados.

A questão da crise migratória que afeta atualmente a Europa foi outro dos assuntos abordados pelos bispos católicos da Europa Central e de Leste, para frisar o empenho da Igreja Católica em “tudo fazer para ajudar os países a resolverem os problemas que estão na origem” deste fluxo, e que envolvem muitas vezes o “risco de vida” ou situações de pobreza e exclusão.  

Bem presente estão também as dificuldades que muitos migrantes e refugiados estão a enfrentar, em termos de integração nos países de acolhimento.

“Não é fácil ultrapassar as diferenças culturais e de mentalidade que separam o Leste do Oeste”, salientam os bispos, que centraram atenções também no problema do “êxodo dos jovens” provenientes daqueles países, que está a colocar em causa o seu desenvolvimento e futuro.

Ainda que “a conquista da liberdade” por parte destes países, depois de muitos anos sob o jugo de regimes fascistas e comunistas, seja “uma razão de alegria”, a Igreja Católica não quer deixar de apontar para a “grande incerteza” que continua a rodear a vida das pessoas nestas regiões, e em particular dos mais novos.

Os bispos realçam que a saída progressiva de cada vez mais jovens destes países da Europa Central e de Leste “não pode ser ignorada”, e apontam sobretudo duas causas para este fenómeno, de natureza económica e social.

Em primeiro lugar, para que os mais novos se sintam bem no seu país precisam de ter boas condições, boas perspetivas de futuro, de acesso à “educação” e ao “emprego”, a uma condição financeira que lhes permita formar família, criar raízes.

No entanto, isso só será possível quanto “os países da Europa Central e de Leste” forem definitivamente “tratados como parceiros de pleno direito” pelo “mundo ocidental”, ou seja, ao nível da União Europeia e das outras instâncias internacionais.

Algo que hoje ainda não acontece, com os bispos a darem como exemplo a realidade social dos seus países, “onde a diferença dos salários praticados em relação às nações da Europa Ocidental permanece enorme”

“Neste contexto, importa encontrar novas formas de integrar estes países no mundo ocidental: de modo a garantir a estas nações e aos seus cidadãos as mesmas condições de vida em dignidade”, realçam os bispos.

Os prelados também lançam um apelo aos governantes das suas pátrias, para que “dediquem maior atenção à reforma da educação e aos jovens, que frequentemente deixam os seus países devido às condições precárias em que vivem”, em busca de “trabalho” e de “melhores condições sociais”, que lhes permitam “casar e constituir família”.

Aqueles líderes católicos olham com “esperança” para o próximo Sínodo dos Bispos, em outubro de 2019.

Um evento que será dedicado aos desafios dos jovens e à pastoral das vocações, e que “poderá trazer um impulso renovado para a vida da Igreja”, pode ler-se.

Em Bratislava estiveram bispos e delegados das conferências episcopais da Eslováquia, República Checa, Polónia, Hungria, Croácia, Ucrânia, Eslovénia e Bósnia Herzegovina.

Numa conferência internacional que recordou São Cirilo e São Metódio, dois irmãos missionários que tiveram um papel decisivo na evangelização destes países, no século IX, marcou também presença o presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, o cardeal Angelo Bagnasco.

JCP

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