Inclusão: Alto Comissariado para as Migrações lança guias contra discriminação das comunidades ciganas

Antigo responsável católico pelo setor acredita que projeto ajudará a erradicar alguns «estereótipos» sociais

Lisboa, 13 nov 2014 (Ecclesia) – O Alto Comissariado para as Migrações (ACM) vai colocar à disposição um conjunto de guias práticos que têm como objetivo prevenir a discriminação das comunidades ciganas, radicadas em Portugal e em toda a Europa.

Em comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA, aquele organismo adianta que o projeto pretende ajudar os “profissionais” que lidam diariamente com esta questão no terreno e favorecer o desenvolvimento de “mecanismos e metodologias de trabalho em rede” entre os diferentes intervenientes.

As publicações, resultantes de um projeto europeu apoiado pelo Programa “Direitos Fundamentais e Cidadania”, são especialmente dirigidas aos órgãos de comunicação, às organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos, aos agentes de Direito e às forças policiais. 

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o frei Francisco Sales, diretor cessante da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC), considera os guias “fundamentais” para o esforço de “integração” daquelas comunidades.

“Esperamos é que não sejam como outras situações similares noutros âmbitos, em que se fez um grande investimento monetário em estudos, em planos, em guias e depois não passou de letra morta”, realça aquele responsável.

Nesse sentido, o frei Francisco Sales defende que se trata de um projeto que necessita de “muita divulgação” e também de uma “formação” prévia.

O sacerdote franciscano dá como exemplo o caso das “forças policiais, onde muitas vezes se assiste a uma violência extrema em relação à comunidade cigana, que não existe em relação à comunidade maioritária da sociedade portuguesa”.

Aponta ainda para a questão da Justiça, em que quando estão em causa “crimes semelhantes, as penas são sempre muito mais pesadas para os ciganos do que para outra pessoa que não seja dessa etnia”.

Estes casos manifestam “os estereótipos que estão no inconsciente da sociedade”, em relação “à comunidade cigana”, complementa.

Os guias práticos alertam para o facto das comunidades ciganas serem “um dos grupos mais vulneráveis à pobreza e à exclusão social” e “a minoria étnica que enfrenta maiores níveis de discriminação na Europa”.

Uma realidade que se deve “em parte à falta de trabalho de prevenção, de mecanismos de sensibilização e à falta de atenção que deve ser dedicada às vítimas da discriminação”.

Como práticas-chave para a resolução destes problemas, apontam por exemplo para a importância de zelar por “políticas sociais” que possam ir ao encontro dos problemas das pessoas de etnia cigana.

No entanto, ressalta o frei Francisco Sales, também cabe à comunidade cigana trabalhar no sentido de “mudar a sua mentalidade, de se abrir mais à sociedade”.

“Há o estereótipo, há a discriminação e marginalização da sociedade em relação aos ciganos mas também existem pessoas desta etnia que se fecham, se automarginalizam e se autoexcluem. Portanto é preciso haver uma abertura de parte a parte”, conclui o antigo responsável pela ONPC, que cessou funções esta quinta-feira. 

Os guias práticos de prevenção contra à discriminação das comunidades ciganas vão estar brevemente disponíveis no site do Alto Comissariado para as Migrações.

JCP

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