Lisboa: Universidade Católica acolheu «diálogo aberto» entre literatura e fé

Uma iniciativa do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião

Foto Agência ECCLESIA / JCP

Lisboa, 12 dez 2018 (Ecclesia) – O Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (CITER), da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa, promoveu esta quarta-feira um debate sobre ‘a literatura enquanto desafio à fé cristã’.

O ponto de partida para esta iniciativa, que decorreu na livraria da UCP, foi a obra ‘Talvez Deus escute alguns poetas’, da autoria de Karl-Josef Kuschel, um dos principais teólogos alemães, e contou com o contributo dos professores António Feijó, Peter Hanenberg e Alexandre Palma.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a diretora do CITER, Luísa Almendra, destacou o objetivo de trazer o trabalho que é feito naquele organismo, pelos seus professores e investigadores, para o espaço público, para a esfera da sociedade.

“Nós não queremos que ela seja uma investigação fechada na faculdade, à volta das questões que as próprias áreas e saberes do campo teológico têm, mas que seja feita em diálogo aberto com outros campos do saber. E foi isto que hoje aconteceu aqui”, salientou aquela responsável.

Com o debate à volta da obra de Karl-Josef Kuschel, o CITER afirma a sua intenção de refletir cada vez mais em conjunto com outros campos do conhecimento, “seja no campo da literatura, seja no campo da teologia mais formal”, por exemplo.

“O centro reúne a investigação mas quer fazê-lo em laboratório aberto com várias pessoas e entidades”, aponta Luísa Almendra, que dá como exemplo o estudo recente que foi feito sobre ‘As Identidades Religiosas na Área Metropolitana de Lisboa’.

Para a diretora do CITER, esta relação que se estabelece ajuda a “colocar mais questões”, como aconteceu no debate que decorreu na livraria da UCP.

“Hoje vimos aqui como as pessoas do mundo da literatura colocam questões à teologia e por exemplo à exegese bíblica, à leitura também, à interpretação que os próprios biblistas fazem das Escrituras. Mas esses desafios é que enriquecem porque não estamos a falar para nós mesmos”, frisou Luísa Almendra.

No decurso do debate desta quarta-feira, o professor Peter Hanenberg, da Faculdade de Ciências Humanas da UCP, enalteceu o autor Karl-Josef Kuschel como ‘um bom exemplo deste contacto entre a literatura e as religiões’.

Um “judeu exilado”, que inclusivamente foi “tradutor nos processos de Nuremberga” e que “transformou as suas experiências em livro”.

“Nada do que ele escreveu se entende sem a história que está por detrás, com Auschwitz no horizonte”, realçou Peter Hanenberg.

Já o professor Alexandre Palma, da Faculdade de Teologia, destacou desde logo o tema do livro, ‘Talvez escute Deus alguns poetas’, que incorpora “aquela que é uma das grandes palavras da Teologia, que é talvez”, uma palavra que desafia a Teologia a ser “a disciplina mais insatisfeita de todas”.

Sobre a relação entre teologia e literatura, o docente defendeu que “há uma matéria não explorada que é a imaginação”.

“Uma teologia sensível também precisa destas ferramentas mais interiores”, considerou.

O terceiro orador da tarde, o professor António Feijó, vice-reitor da Universidade de Lisboa, sublinhou duas das grandes preocupações do autor, presentes no livro.

Falar sobre o ecumenismo abraâmico, que une as três grandes religiões, “um processo que hoje está em constante stress”, e refletir sobre o lugar e o papel de Judas em toda a narrativa religiosa, apontando para a multiplicidade de perspetivas que se podem estabelecer.

Por um lado, “Jesus entrega-se para que ninguém se perca, mas no momento da sua entrega alguém se perdeu, Judas.

Por outro, “Judas também é visto como o verdadeiro cristão, pois sabia que Jesus ao morrer iria regressar, instituindo o Reino de Jesus na terra”.

“A Teologia tem aqui um campo insano de reflexão”, sustentou o professor António Feijó.

JCP

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