Mensagem ao Povo de Deus na comemoração dos 75 anos da Acção Católica Portuguesa

A Acção Católica Portuguesa comemorou festivamente, nos dias 7 e 8 de Novembro, na cidade do Porto, 75 anos da sua história.

Os Bispos Portugueses, reunidos em Assembleia Plenária, dirigem-se ao Povo de Deus para manifestarem o seu reconhecimento e apreço por este Movimento de leigos cristãos e pelo que realizou e continua a realizar na Igreja, em Portugal, hoje em circunstâncias diferentes, mas com igual zelo e generosidade.

Em 1933 o Episcopado Português assumiu, em conjunto, a Acção Católica, respondendo ao apelo de Pio XI, que viu neste movimento de leigos cristãos um caminho adequado para uma presença apostólica mais activa e significativa da Igreja, ante o seu dever de evangelizar os meios de vida e de trabalho.

Os Bispos de Portugal optaram, então, por uma Acção Católica especializada e redigiram as suas Bases e orientações. Convocaram os leigos mais empenhados na vida da Igreja e na vida social para aderirem ao Movimento. Nomearam, como assistentes nacionais, sacerdotes bem preparados. Determinaram as formas e estruturas nacionais e dotaram os membros da Acção Católica de um mandato apostólico, que os ligava, de um modo especial, à missão da hierarquia. Dispuseram-se a acompanhar, de perto, o Movimento e pediram, por fim, o apoio das comunidades cristãs para que aceitassem e estimulassem esta nova forma de apostolado laical.

Os meios sociais foram classificados – agrário, escolar, independente, operário e universitário. Os diversos organismos aplicariam, em cada meio e segundo as exigências do mesmo, a pedagogia própria do Movimento, que se traduzia, de um modo especial, na prática da revisão de vida à luz o Evangelho, conhecida pela trilogia do “ver, julgar e agir”, na “formação na acção”, no trabalho de equipas ou de grupo e na estreita ligação à hierarquia da Igreja.

A Acção Católica tornou-se uma escola de leigos comprometidos no apostolado. Proporcionou-lhes uma formação cristã, séria e profunda, deu dimensão espiritual consistente a muitos outros leigos e comunidades cristãs. Foi um viveiro de vocações de consagração e de vocações apostólicas, mormente no campo da catequese paroquial, que então se estruturava em novo moldes.

Porém, o apostolado mais significativo da Acção Católica foi o da evangelização dos meios sociais, que eram, também, os meios de vida das pessoas. Fê-lo através do trabalho de equipas do meio, compostas por dirigentes e militantes, preparados pelo Movimento, activos e generosos.

Ao longo de décadas, a Acção Católica foi, em Portugal, o grande movimento apostólico do laicado cristão. Mostrou-se capaz, para além da acção organizada nos respectivos meios sociológicos, de formar uma plêiade de cristãos leigos, que tiveram um papel assinalável nos mais diversos sectores da sociedade portuguesa, desde a política à economia, do ensino, às profissões liberais mais significativas.

A Acção Católica continua, hoje, a sua acção apostólica. Enfrenta, porém, como é normal, novas situações na Igreja e na sociedade, e, ainda, na nova relação que se estabeleceu entre uma e outra.

Como fruto do Vaticano II cresceu a sensibilidade e a disponibilidade dos leigos para os serviços das paróquias; deu-se o aparecimento de novos movimentos apostólicos laicais, com os seus carismas próprios e como resposta a necessidades sentidas no seio das comunidades cristãs. A sociedade secularizou-se e as relações Igreja–Mundo passaram a processar-se sobre novos paradigmas que determinaram, novos modos de estar e de agir; o fenómeno da globalização trouxe, com novas possibilidades, novos problemas, desafios e oportunidades. Verificou-se, também, uma alteração substancial nos meios sociológicos tradicionais. Praticamente, só os meios de trabalho, tradicionalmente conhecidos por “meios operários” conservam, em parte a sua fisionomia, hoje ainda com os problemas sociais de sempre, mas com novas expressões de agravamento.

Apesar das alterações eclesiais, sociais e culturais verificadas, a Acção Católica não perdeu a actualidade. Alguns dos seus organismos, porém, sentem necessidade de reinventarem, de maneira criativa, o seu modo de presença e de acção evangelizadora, ante a nova realidade da Igreja e da sociedade e os prementes apelos de uma nova evangelização.

Nós, os Bispos portugueses, felicitando a Acção Católica pelas suas bodas de diamante, reafirmamos o apreço pela sua metodologia, pelo empenhamento dos leigos nas diversas estruturas da sociedade, pela referência histórica do Movimento no campo da evangelização das realidades sociais e na luta pela justiça e pela dignidade das pessoas. Ela é uma referência para outros movimentos do laicado, que podem cair na tentação de esgotar o trabalho dos seus membros dentro dos templos, deixando a descoberto campos determinantes da sociedade, onde se decide e joga a vida das pessoas, das famílias e das comunidades.

A Acção Católica, ao longo dos seus 75 anos, soube enfrentar as mudanças sociais e eclesiais. Passou por diversas vicissitudes, respondeu a diversos desafios e dificuldades que sempre superou, e que enriqueceram a experiência de todos, dirigentes e militantes, Assim ficou, bem clara, a sua capacidade de adaptação e de renovação, assim como o seu amor à Igreja e à sua missão evangelizadora.

Tal como os bispos que nos precederam no serviço da Igreja à sociedade, temos presente o modelo evangelizador e a história da Acção Católica. Desejamos que, a seu exemplo, surjam, na Igreja em Portugal, numerosos leigos, conscientes da sua vocação de “cristãos no mundo”, bem preparados e organizados. Sob a forma de movimentos ou de associações profissionais, tornem presente a Igreja na vida social, com a sua missão própria, e possam desenvolver, tal como o fez a Acção Católica, uma acção evangelizadora significativa, nos diversos meios sociais e de vida, segundo paradigmas adequados e actuais. Leigos sempre fiéis ao Evangelho, à comunhão com todo o Povo de Deus, à Doutrina Social a Igreja e às orientações do Magistério, que se mantenham unidos à hierarquia que serve este Povo, para que o Reino de Deus cresça e manifeste os seus valores na nossa sociedade.

Fátima, 12 de Novembro de 2009

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