Nem eu sei quem sou!

José Luís Nunes Martins

Há quem julgue que sabe quem somos só por nos ver passar na rua.

Há quem, por ter convivido connosco, tenha certezas sobre o que somos, fomos e havemos de ser.

Nós próprios, na maior parte das ocasiões, estamos convencidos da nossa identidade.

Mas será que sabemos mesmo quem somos? Talvez não… Não.

O que fomos acaba por se ir distorcendo, uma vez que, por um lado, se vai afastando e perdendo nitidez, e por outro, podemos continuar a desconhecer os porquês de cada dia.

O que sou está em constante construção, mudança, evolução. Desde o momento em que fomos concebidos até à hora da morte, há um longo caminho em que se sucedem muitas distâncias e saltos, voltas e revoltas, encontros e desencontros, partidas e regressos.

Sou livre e a minha liberdade é tão rica que consigo escapar à compreensão da minha própria inteligência.

Com humildade, talvez seja capaz de me procurar por entre os sinais que deixo em cada decisão. Talvez o outro possa ajudar-me a conhecer-me. Talvez um dia alguém, no outro mundo de que este faz parte, me revele as respostas a todas as minhas questões sobre o que sou.

Mas se nem eu mesmo me conheço, como posso pensar que sou capaz de ter certezas a respeito dos outros ao ponto de passar o tempo a ditar sentenças sobre eles?

É errado julgar os outros. Antes de tudo o mais, porque não os conheço.

Posso ajudá-los, partilhando com eles alguma pista que me pareça ser autêntica. Mais do que isso é algo prejudicial para eles e ainda mais para mim.

Há uma paz sublime em viver sem pensar que se sabe tudo, sem julgar os outros, sem perder a humildade de que os porquês e para quês do mundo podem estar muito para além daquilo que sou capaz de entender.

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