Os Mensageiros de Deus

Homilia de D. José Policarpo na Celebração do XXV Aniversário da Eleição de João Paulo II 1. Ao celebrarmos solenemente o Jubileu da Eleição e envio de João Paulo II como Sucessor de Pedro e Pastor Universal, não só exprimimos o nosso desejo de comunhão, na fé e na caridade, com o Santo Padre, mas contemplamos a solicitude de Deus pelo Seu Povo, Ele que nos envia sempre Pastores, que são mensageiros do Seu amor. Todo o enviado é portador de uma mensagem de amor: Deus ama-nos e quer que alcancemos a Vida. O envio de mensageiros do amor é uma constante na História da Salvação. Ouvimos na 1ª Leitura, o testemunho do Profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a Boa-Nova” (Is. 61,1). E o próprio Senhor Jesus se considera ungido e enviado pelo Pai (cf. Jo. 10,36), como testemunha do Seu amor pelos homens. E o Evangelho de São Lucas fala-nos de um mensageiro especial: o Anjo Gabriel foi enviado por Deus, a uma Virgem da Casa de David, chamada Maria (cf. Lc. 1,26). Reside, talvez, aqui o segredo, do lugar privilegiado que João Paulo II deu a Maria, no cumprimento da sua missão de Pastor. Aquela mensagem divina de salvação de que o Anjo é portador, também ele a recebeu como missão e tornou-se o seu incansável mensageiro no mundo contemporâneo. Proclamou-a à Igreja e ao Mundo, objectivou-a na fidelidade à verdade, arriscou a vida por ela, atraiu multidões, tornando-se o símbolo vivo da esperança. No dinamismo vivo da salvação acontece que aqueles que acolhem a mensagem, se tornam mensageiros, anunciadores da Boa-Nova da Salvação que acolheram. Aconteceu assim com os Profetas e com os Apóstolos, aconteceu assim com Maria que, destinatária de uma mensagem divina, se tornou missionária do seu anúncio, na sua fidelidade, que a tornou peregrina da salvação. Encontramos uma semelhança misteriosa entre esta ininterrupta peregrinação de Maria, para anunciar a salvação realizada pelo seu Filho, e a longa peregrinação de João Paulo II pelo mundo, sempre acompanhado pela presença maternal de Maria. 2. Os mensageiros divinos são portadores do anúncio do amor de Deus. A mensagem é sempre a mesma: Deus ama-vos e amar-vos-á sempre. Isaías reconhece que é enviado a proclamar o ano da graça do Senhor, a consolar os aflitos e a infundir o óleo da alegria. A mensagem do Anjo Gabriel a Maria é a mesma: “Avé, ó cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc. 1,28). O Anjo chama-lhe predilecta de Deus Pai, a amada do Deus esposo, que está com ela numa inquebrável união de amor. Toda a mensagem divina é uma declaração de amor. A Maria é também dito que nela, Deus ama toda a humanidade. O amor esponsal de Deus por Maria, exprime, misteriosamente, a fecundidade do amor divino, que abraçará toda a humanidade no mistério da salvação. Isso faz parte explícita da mensagem do Anjo: porque és a amada de Deus, darás à luz um Filho, que é o Salvador prometido (cf. Lc. 1,30-35). Esta é uma dimensão misteriosa e silenciada da vida de João Paulo II: o homem que se sente amado por Deus, que procurou ser fiel a esse amor e se tornou seu mensageiro. Numa das biografias de João Paulo II, o autor afirma que o Papa lhe confessou um dia, que não tem consciência de alguma vez ter pecado gravemente, ferindo o mistério da graça divina. Compreende-se que sejam carregadas de sentido, para ele, esta saudação do Anjo a Maria: “Avé, ó cheia de graça”. Certamente que ele se sente a participar, misericordiosamente, dessa plenitude de graça de Maria, por mediação de Maria. A sua consagração a Maria, na divisa “Totus Tuus”, é o mergulhar, sem limites, através dela, nesse mistério de graça e de misericórdia. Mensageiro do amor, ele deu à Igreja o testemunho e o entusiasmo pela santidade. Que João Paulo II foi o amado de Deus, temos disso alguns sinais, que ele recebeu através da presença maternal de Maria, que o livrou da morte, desviando o percurso da bala, o acompanhou na sua longa peregrinação de mensageiro do amor e lhe revela, como só uma Mãe pode fazer, o verdadeiro rosto do seu Filho, Jesus Cristo. Papa de intervenção e de tomadas de posição decididas, sempre conduzido pelo serviço da verdade, pode não ter agradado a todos. Mas é inegável que, ao percorrer o mundo, ele o envolveu no abraço terno do amor de Deus. De João Paulo II os homens podem não ter ouvido aquilo que gostavam de ouvir; mas se estiverem abertos ao amor, sentiram-se, certamente, amados por Deus. E esse é o anúncio da salvação. Quanta esperança semeada, quando defendeu a justiça, proclamou o carácter sagrado da vida humana, convidou os homens a não fazerem das suas diferenças um impedimento para o diálogo e levou os corações atribulados do nosso tempo a recuperarem o sentido da vida. Pastor Supremo da Igreja, no ministério de João Paulo II brilhou a missão da Igreja no mundo contemporâneo: ser testemunha e sacramento do amor de Deus em Jesus Cristo. 3. Imaginemos como João Paulo II deve ter meditado na primeira viagem de Maria enquanto mensageira da graça e do amor: a visita a sua prima Isabel. E esta captou perfeitamente a mensagem: Tu és bendita entre as mulheres, porque é bendito o fruto do teu ventre (cf. Lc. 1, 42). Desde que se abandonou totalmente à mensagem divina, Maria reconhece essa maravilha do dom da graça e louva, por isso, o Senhor: “Porque Ele poisou o seu olhar sobre a sua humilde serva, a partir de agora todas as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc. 1, 48). Bendita entre as mulheres porque é bendito o fruto do seu ventre. Não é difícil intuir aqui a fonte inspiradora de toda a espiritualidade de João Paulo II. Quis celebrar o vigésimo quinto aniversário do seu Pontificado, proclamando um Ano do Rosário. Milhões de pessoas disseram, milhões de vezes, a Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe: tu és, ainda hoje, a predilecta de Deus, o sinal vivo de que Deus nos ama. Tu continuas a ser a Mulher, bendita entre todas as mulheres, porque é bendito o fruto do teu ventre, Jesus. Maria é bem-aventurada por causa de Jesus. É em Cristo que encontramos a plenitude da graça, é n’Ele que nos sentimos amados por Deus. João Paulo II, mensageiro do Amor, foi um profeta incansável da actualidade de Jesus Cristo. “Abri as portas a Cristo”, foi o primeiro grito que fez ecoar, através de todos os meios de comunicar, no mundo contemporâneo. “Só em Cristo se esclarece, verdadeiramente, o mistério do Homem”; celebrámos os dois mil anos do Seu nascimento e fomos convidados a contemplar de novo o Seu rosto, onde se transformam todos os rostos humanos. Mas proclamar o amor de Deus em Jesus Cristo, só pode ser feito com Maria. Porque é bendito o fruto do seu ventre, multidões de homens e mulheres, recriados pelo amor de Deus, poderão ser proclamados “bem-aventurados”. 4. Mas João Paulo II não se cansou de nos lembrar que este mistério da graça é um mistério de misericórdia. Deus amou-nos quando estávamos, ainda, nos nossos pecados. Trono da graça ela é a Mãe da misericórdia. Por isso, ao mesmo tempo que a proclamamos bem-aventurada, lhe pedimos confiadamente: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores”! † JOSÉ, Cardeal-Patriarca Estádio Nacional, 18 de Outubro de 2003

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