Portugal: Desemprego aumenta marginalização

Apoio à família e aposta no interior do país são algumas das propostas do padre Lino Maia, presidente da CNIS, para atenuar pobreza

Lisboa, 16 abr 2013 (Ecclesia) – O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) afirmou hoje à Agência ECCLESIA que o desemprego, “o grande drama de Portugal”, diminui a esperança e aumenta a depressão, o vício e a marginalização.

Com a falta de trabalho “as pessoas ficam mais deprimidas, mais sujeitas a criarem vícios e também mais marginalizadas, dado que uma pessoa desempregada perde um grupo de relações e não está em condições de criar novos laços”, sublinhou o padre Lino Maia.

Quem não tem ocupação profissional “perde a esperança porque um desempregado é alguém que, provavelmente, não encontrará trabalho nos próximos anos”, acrescentou o responsável à margem do seminário ‘Pobreza e Direitos Humanos’ que decorre esta terça-feira na Assembleia da República, em Lisboa.

O sacerdote lembrou que o desemprego é acompanhado pela diminuição do apoio estatal aos desempregados: “Os subsídios vão terminando e sendo taxados, o que faz do desempregado a pessoa mais deprimida em Portugal”.

“Com os problemas para controlar a despesa e pagar a dívida [do Estado] há menos proteção social e as pessoas veem alguns dos seus direitos hipotecados, pelo que se agrava a sua situação de pobreza”, referiu.

Para o padre Lino Maia as soluções para atenuar a pobreza passam por “insistir muito no apoio à família, assim como na cooperação entre o Estado e as organizações de apoio social, que estão a fazer muito mas que podem fazer mais”.

“Há que apostar claramente na educação a partir da creche porque a pobreza começa na infância: é provável que uma criança que só tenha acesso à escola aos seis anos venha a ser sujeita a um processo de exclusão”, sustentou.

O responsável sugeriu igualmente a “promoção de atividades de proximidade nas zonas mais deprimidas do país, aproveitando os vários equipamentos devolutos”, a par da disseminação em várias localidades de serviços do Estado, como escolas e centros de saúde, em vez de optar pela concentração.

“Temos um interior cada vez mais desabitado e triste e um litoral com cada vez menos oportunidades”, apontou o presidente da CNIS, que propõs a criação de “serviços ligados à saúde, educação e artesanato”, naquela que considera ser uma solução para promover o emprego e contribuir para o “advento de uma nova economia nacional”.

Depois de vincar que “a pobreza é sempre injusta e sinal de direitos humanos que não são cumpridos”, o padre Lino Maia realçou a necessidade de os programas de ajuda visaram como objetivo último a autonomia: “O ser humano sente-se pessoa quando é construtor do coletivo e não apenas beneficiário”.

O seminário ‘Pobreza e Direitos Humanos’, promovido pela Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento, foi aberto pelo deputado Alberto Martins.

O bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, o presidente da Amnistia Internacional, Victor Nogueira, o diretor da revista CAIS, Henrique Pinto, e o investigador José Manuel Pureza, do Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, são alguns dos intervenientes no encontro.

RJM

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