Santarém: Carta Pastoral programática para o ano de 2008-2009

«Quem acredita nunca está só» 1. Itinerário para a comunidade Recomeçar com renovada esperança “ À Tua Palavra lançarei as redes” (Lc 5,5). O apóstolo Pedro fez esta declaração em resposta a um desafio de Jesus para que fosse pescar. Toda a noite, com os companheiros pescadores, Pedro tentara em vão apanhar peixe. Sentia-se cansado, desiludido, porventura mal disposto. Mas perante a ordem de Jesus lançou as redes com confiança. E, desta vez, não ficou desiludido. As redes ficaram cheias. Esta pesca representa a actividade da Igreja que procura arrancar da escuridão do abismo (do mar) as pessoas (representadas pelos peixes), para as pôr em comunhão com Deus e em comunhão fraterna (em rede com Deus e com os irmãos na fé). Como o apóstolo Pedro, também nós, por vezes, nos sentimos cansados ou desanimados com a escassa resposta e os poucos frutos da nossa actividade pastoral. Nesses momentos, façamos nossa esta declaração de Pedro: “À tua palavra lançarei as redes”. Não agimos sozinhos, não dependem só de nós os frutos da missão. Somos colaboradores do Senhor, apoiamo-nos na Sua Palavra e na Sua Graça. Trabalhamos em Igreja, com a Igreja e para a Igreja, que é animada pelo Espírito Santo. É Ele que faz novas todas as coisas e nos anima a recomeçar, cada ano, com renovada esperança. Das trevas à luz: itinerário de fé Na actividade pastoral da nossa diocese de Santarém, nos últimos anos, temo-nos inspirado no percurso dos discípulos de Emaús, destacando três etapas: a primeira dedicada à Palavra de Deus, seguindo a pedagogia da “lectio divina” (leitura orante da Bíblia); a segunda aos sacramentos; a terceira, que neste ano pastoral iniciamos, vamos dirigi-la à vida comunitária da Igreja. De facto, o percurso dos discípulos até Emaús foi um itinerário de fé e de conversão que os levou a fazer a passagem das trevas à luz, da tristeza à esperança, das dúvidas à fé, da confusão ao esclarecimento, do isolamento à comunidade. Uma conversão que todos precisamos continuamente de retomar. Depois de reconhecerem a presença de Cristo Ressuscitado na escuta da Palavra das Escrituras e na Fracção do Pão, os discípulos de Emaús, regressaram a Jerusalém à comunidade, cheios de alegria e de esperança, fortalecidos na convicção de que o Senhor tinha verdadeiramente ressuscitado e estava com eles. Vamos acompanhá-los nesta etapa procurando aprender com eles uma maior integração e envolvência na vida da comunidade cristã. Do individualismo à comunidade Como fazer, com o mesmo entusiasmo dos discípulos de Emaús, o caminho para a comunidade? Se a vida em comunidade contraria o nosso comodismo e individualismo e, frequentemente, nos cansa? Se os outros, porque são diferentes, nos incomodam? A comunidade cristã nasce da fé, do encontro e da conversão a Jesus Cristo. É a descoberta e o amor ao Senhor que nos levam a superar o nosso comodismo e individualismo e a amar os outros como irmãos em Cristo. Como nos ensina Bento XVI: “O amor ao próximo consiste no facto de que eu amo, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada ou nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus” (Deus Caritas Est, DCE, 18). Os discípulos de Emaús regressaram com entusiasmo à comunidade porque encontraram o Senhor Ressuscitado através das Escrituras e da Eucaristia e queriam partilhar essa novidade com os que estavam envolvidos na mesma esperança. Por isso, a vida em comunidade é o fruto de um itinerário de fé e está ao alcance de todos nós. Quando o desencanto, o pessimismo ou o isolamento nos tentam, podemos encontrar, na conversão mais profunda ao Senhor, a abertura para a comunidade e a capacidade de acolher o outro como amigo: “Aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos e sentimentos mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo. O Seu amigo é meu amigo” (DCE 18). Quem escuta a Palavra do Senhor compreende os acontecimentos e as pessoas a uma luz diferente. Ele aquece os nossos corações, ajuda a vencer o nosso cansaço e reveste-nos de amor e de misericórdia. Pela força do Seu Espírito fortalece a nossa comunhão com Deus e abre os nossos corações à vida fraterna (Cf DCE 19). Construir Comunidade com São Paulo Neste ano pastoral vamos ter como guia e referência alguém que viveu intensamente a experiência do encontro com Cristo Ressuscitado e se dedicou com paixão a construir comunidades cristãs: São Paulo. Quando ia a caminho de Damasco, respirando fanatismo e agressividade contra os cristãos, inesperadamente a luz de Deus brilhou sobre Ele e caiu por terra. São Paulo foi nesse momento agarrado por Cristo, iluminado e transformado pela Sua Palavra. Quando se ergueu era um homem diferente. Por decisão do Papa Bento XVI, celebramos, de 28 de Junho de 2008 a 29 de Junho de 2009, o Ano Paulino. Na companhia e com a ajuda de São Paulo, podemos alcançar uma compreensão mais profunda das Escrituras que se realizam em Jesus Cristo. Conhecer as Escrituras é conhecer Jesus Cristo. Assim como ignorar as Escrituras é ignorar Jesus Cristo. Temos um guião, da responsabilidade da Conferência Episcopal, com um itinerário de aprofundamento da fé, seguindo São Paulo. É uma óptima oportunidade para descobrirmos esta figura cativante e exemplar de cristão e aprofundarmos o conhecimento de Jesus Cristo e do Seu Evangelho, caminho para uma vida nova. A reflexão das catequeses deste guião, permite-nos compreender melhor as cartas deste grande evangelizador que nos revelam a força da Palavra de Deus e o mistério da Igreja, Corpo de Cristo. Fazemos esta proposta a todos os fiéis diocesanos de Santarém: um ano a caminhar com São Paulo, seguindo o referido guião que oferece uma breve catequese para cada semana do ano. Pode ser feito em grupos paroquiais, de adultos ou jovens, em movimentos, em família, ou pessoalmente. O Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja é outro acontecimento eclesial que reforça o convite para um contacto mais assíduo e mais fecundo com os textos sagrados. São Paulo é um mestre admirável no conhecimento profundo das Escrituras nas quais ele encontrou a chave para compreender o mistério de Cristo, plena realização das Escrituras. Iniciativas para o Ano Paulino Assim o Ano Paulino é uma ocasião propícia para retomarmos a prática da “lectio divina, Uma Comissão Diocesana para o Ano Paulino oferecer-nos-á sugestões para reflectir as catequeses do guião reactivando os grupos bíblicos, ou da “lectio” ou de catequese de adultos, e constituindo novos grupos com esta finalidade. A mesma Comissão cuidará da formação dos animadores destes grupos. Faz-se igualmente a proposta de oferecer a todos os membros das comunidades cristãs a oportunidade de um retiro com São Paulo no tempo da Quaresma. No ambiente de dispersão e de ruído em que todos vivemos, os retiros são momentos favoráveis para uma experiência de silêncio interior que permita escutar e estabelecer diálogo com o Mistério Transcendente de Deus que nos envolve, sustenta e guia. O encontro com Deus conduz ao encontro consigo mesmo, com os outros e com a vida, num clima de paz e de esperança. Inspiradas pelas cartas de São Paulo, as comunidades, ou grupos paroquiais, são convidadas a escrever uma carta pastoral a outra comunidade, reforçando assim os laços de comunhão e exercitando a capacidade de confessar (dizer) a fé por palavras próprias e de dar razões da esperança que vem da vida cristã. A Comissão para o Ano Paulino apoiará também esta actividade. São Paulo é o rosto de uma Igreja missionária que vai ao encontro de todos os homens para lhes levar a Boa Nova do Evangelho. O Ano Paulino desafia-nos, por isso, a desenvolver o dinamismo missionário dos nossos cristãos e das nossas comunidades. Como memória das suas viagens missionárias e convite a percorrer novos caminhos de evangelização, vamos organizar uma visita a todas as paróquias com o Ícone de São Paulo e com a Chama Vocacional. Será um apelo vivo à fé esclarecida dos crentes, à comunhão fraterna, à participação eclesial dos fiéis e, igualmente, à nova evangelização. Na animação deste evento, será dada uma especial atenção aos jovens no sentido de os ajudar a aprofundar a sua vocação cristã na Igreja e no mundo. 2. A fé em Jesus Cristo vive-se em comunidade. Quando encontramos Jesus Cristo encontramos também a Igreja, em que o Senhor se torna presente. “Saulo, Saulo porque Me persegues?” ouviu Paulo quando caiu por terra. E respondeu: “Quem és tu Senhor?”. A voz respondeu: “Eu sou Jesus de Nazaré a quem tu persegues” (Act 22,6-8). Paulo perseguia a Igreja, Corpo de Cristo, portanto perseguia o próprio Senhor. Na verdade, é através da Igreja que Jesus Cristo se torna presente no mundo. A comunidade cristã fundamenta-se na espiritualidade A vocação à fé é vocação à comunhão com Deus e com os cristãos: “Fiel é Deus por quem fostes chamados à comunhão com Seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor. Peço-vos irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento” (1Cor 1, 9 e 10). A fé em Jesus Cristo vive-se em comunhão a vários níveis: em comunhão com Ele que caminha connosco; em comunhão com o Pai, cuja presença constantemente nos envolve; em comunhão com o Espírito Santo que nos inspira como uma luz e força interiores; em comunhão também com a Igreja que nasce da comunhão trinitária e, por isso, deve apresentar-se como um “povo unido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (L G 4). Quem acredita nunca está só. Vive em comunhão com Deus e numa relação fraterna com os que partilham a mesma fé, a mesma esperança e o mesmo amor. A Igreja é a comunhão dos santos. Lembrou-nos o Papa João Paulo II que o grande desafio colocado à Igreja no novo milénio é tornar-se uma “casa e uma escola de comunhão”(Novo Millennio Ineunte” NMI 43), ou seja, uma casa de família onde todos são acolhidos fraternalmente, independentemente da sua condição, e uma escola onde se aprende a prática do amor e do serviço. Mas, esta meta não se alcança primeiramente com as nossas iniciativas e actividades, mas através da “espiritualidade de comunhão”. Promover esta espiritualidade significa “ter o coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há-de ser percebida também no rosto dos irmãos (…). Não tenhamos ilusões! Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores de comunhão” (NMI 43). A comunidade é, pois, um dom do amor de Deus, comunhão trinitária, que vem ao nosso encontro sobretudo na Eucaristia. Por isso lhe pedimos, na quarta oração eucarística: “Concedei a quantos vamos participar deste pão e deste cálice que, reunidos em um só corpo, sejamos em Cristo uma oferenda viva para louvor da Vossa Glória”. Procura e resistências à comunidade É, de facto, um grande desafio que hoje nos é feito: Viver a vida cristã em comunidade e testemunhar a fé através da vida comunitária dos fiéis. As pessoas da nossa época procuram e necessitam da vida fraterna da comunidade. Sentem dolorosamente a solidão e a indiferença mútua do anonimato e do urbanismo actual. A comunidade corresponde, portanto, ao projecto de Jesus Cristo e também aos anseios dos homens da nossa cultura. As pessoas sonham com comunidades onde sejam acolhidas, reconhecidas, amadas. Mas a comunidade sonhada não existe. Não é um projecto à medida de cada um. Antes, cada um tem de se converter para formar a comunidade que Jesus Cristo nos propõe e o Espírito Santo nos guia a construir. Só pela conversão chegamos à vida comunitária. Na verdade, por inclinação natural, estamos condicionados pelo egoísmo e influenciados pelo individualismo que imperam na nossa cultura. Nota-se uma tendência a fazer da fé uma questão privada. As pessoas desejam comunidades mas experimentam muitas dificuldades em viver comunitariamente. Como vencê-las? Os vínculos da comunidade cristã Ainda hoje admiramos a vida comunitária intensa dos primeiros cristãos da comunidade de Jerusalém (Act 2,42-47): Viviam como se tivessem um só coração e uma só alma, partilhavam e punham em comum os bens. Como alcançaram esta união admirável? Converteram-se no dia de Pentecostes e receberam o dom do Espírito que os congregou na união fraterna. Após este primeiro passo, continuaram a aprofundar a conversão pois “eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações” (Act 2,42). Encontramos nesta descrição as quatro colunas da comunidade cristã: o anúncio da Palavra de Deus; a vida fraterna; a acção sacramental; a oração. Renovar ou crescer na vida comunitária é fortalecer e desenvolver cada um destes vínculos. A relação fraterna dos cristãos deve ser um fermento na sociedade e apresentar alternativa à relação entre as pessoas e à organização da vida social. Perante o individualismo que marca a relação no mundo, a fé abre o coração de cada um ao outro e leva ao encontro e ao diálogo. Em vez da competição, o cristão pauta-se pela partilha e pela solidariedade; em vez dos confrontos agressivos, procura consensos; em vez do partidarismo ou choque de posições, orienta-se pela fraternidade e pelo respeito pelos pontos de vista alheios; em vez do radicalismo negativo acerca do outro, vê os aspectos positivos: “Espiritualidade de comunhão é ainda a capacidade de ver, antes de mais nada, o que há de positivo no outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus” (NMI 43). É esta forma de procedimento que permite à Igreja dar testemunho credível de Jesus Cristo. Não podemos esquecer que a Igreja é chamada a ser um lugar de acolhimento, de partilha, de misericórdia, de alegria e de liberdade. Passos para crescer na vida comunitária Para crescer na vida comunitária precisamos de desenvolver os momentos e a atitude de oração. Uma comunidade fraterna é, em primeiro lugar, uma comunidade orante. A oração da comunidade tem o seu momento culminante na Eucaristia que congrega os fiéis no amor do Pai, na graça redentora de Jesus e na comunhão do Espírito Santo. Assim, o crescimento da comunidade está profundamente associado à participação activa, interior e frutuosa na celebração do mistério eucarístico onde cultivamos a escuta e o acolhimento de Deus e dos outros. Por isso, recomenda o Concílio Vaticano II: “Nenhuma comunidade cristã se constrói se não tiver a sua raiz e o seu centro na celebração da Sagrada Eucaristia. Nesta, portanto, há-de começar toda a formação no espírito da comunidade” (PO 6). A Eucaristia precisa de ser preparada e continuada por outros momentos de oração que devem igualmente ser promovidos nas nossas comunidades: Oração litúrgica de Laudes e de Vésperas, sobretudo nos tempos fortes da liturgia como o Advento e a Quaresma. Da mesma forma, é necessário recuperar o ritmo diário da oração pessoal e em família. Nos vários encontros de formação deve cuidar-se também do tempo de oração. A celebração comunitária dos sacramentos da cura, proposta no passado ano pastoral, é outro passo para crescer na vida comunitária. O primado da espiritualidade na construção da comunidade não dispensa o nosso esforço e a utilização de uma pedagogia adequada. Continuamos, por isso, a pôr todo o empenho em levar à prática a pedagogia catecumenal na preparação dos sacramentos. Esta pedagogia privilegia a experiência vivida da fé cristã, designadamente nas dimensões da oração, da conversão e da vida comunitária. Ao longo do ano publicaremos as orientações para a preparação e celebração dos sacramentos que andam a ser reflectidas e elaboradas desde há algum tempo. A vida comunitária tem uma componente humana e afectiva que não podemos esquecer. Na verdade, temos consciência das dificuldades que nascem do egoísmo e do individualismo profundamente enraizados nas pessoas de todos os tempos. São Paulo denuncia nas suas cartas vários impedimentos que criam divisão e mal-estar como o orgulho, a inveja, a maledicência, a arrogância, etc. São resistências que nos convidam à humildade, à compreensão e à conversão para nos podermos abrir à vida comunitária. Nesse sentido, outro passo indispensável é o acolhimento e o serviço fraterno da caridade. Recomendamos, portanto, às comunidades que desenvolvam redes de relação fraterna entre os seus membros, incentivando grupos paroquiais na prática do acolhimento, ou criando mesmo grupos específicos dedicados a esta tarefa. O diálogo, a atenção mútua, a compreensão, a afabilidade e a alegria devem pautar a relação dos cristãos. Por outro lado, nesta época em que aparecem novas formas de solidão, de indiferença e de pobreza, os cristãos e as comunidades são chamados a mostrar, em gestos concretos, o compromisso com a caridade para que a ninguém faltem condições mínimas para viver com dignidade. Torna-se necessário, por isso, dinamizar a Caritas, as Conferências Vicentinas ou serviços semelhantes que promovam e coordenem a caridade fraterna de modo que todas as comunidades tenham organizada uma rede de partilha fraterna. 3. Repensar as nossas comunidades. Riqueza e limitações da paróquia Somos acolhidos na comunidade cristã de forma festiva e gratuita pelo Baptismo que nos torna Filhos de Deus e membros da família cristã. Pela Primeira Comunhão, participamos na mesa da Eucaristia onde recebemos o mesmo pão, Corpo do Senhor, que faz de nós todos um só corpo eclesial. Na altura própria, e devidamente preparados, somos confirmados com o dom do Espírito Santo que nos congrega na unidade e nos fortalece para testemunhar a fé. Recebemos estes três sacramentos da Iniciação Cristã no âmbito de uma paróquia. É na comunidade paroquial que a Igreja se torna presente no meio das casas e da vida das pessoas. É nas paróquias que a Igreja nos acolhe como Mãe e nos integra na vida comunitária, nos alimenta continuamente com os dons de Deus e nos educa na vida cristã. As paróquias são, de facto, as comunidades tradicionais onde a Igreja acolhe os fiéis pela Iniciação Cristã. Formadas a partir da comunidade natural de vizinhança, têm muitos aspectos positivos como o serviço catequético e sacramental, a capacidade de se dirigir a todas as idades e à família, a dimensão da catolicidade, da unidade na diversidade, etc. No entanto, começam a manifestar algumas limitações em responder à mobilidade da população, à diminuição do clero, ao anonimato do urbanismo, à cultura agnóstica, etc. Por outro lado, o cristianismo tradicional, que predomina nas paróquias, apresenta-se pouco esclarecido e pouco empenhado. A paróquia é entendida, frequentemente, na perspectiva de instituição eclesiástica e de centro de serviços religiosos a cargo do clero, sem a dimensão de comunidade cristã, em que todos os fiéis participam e com uma orientação mais conservadora que missionária. Novas formas comunitárias Estas insuficiências da paróquia aconselham a dar espaço e a promover outras formas de vida comunitária que o Espírito Santo despertou na Igreja do nosso tempo, como os movimentos eclesiais (alguns tradicionais, como Acção Católica, Cursos de Cristandade, Convívios Fraternos, Equipas de Casais ou de famílias; outros mais recentes, como o Renovamento Carismático, os Focolares, os Neocatecumenais, etc.) Estas novas formas comunitárias criam um sentido de grupo e uma ligação à Igreja mais forte, acompanham e integram os seus membros para além do espaço paroquial, promovem a pastoral vocacional e vivem o sentido missionário. Deste modo, a missão da Igreja não passa hoje apenas pelas paróquias. Precisamos de dar maior espaço e apoio aos movimentos, tanto tradicionais como novos. Caminhos de renovação da paróquia Por outro lado, a paróquia precisa de uma renovação decidida que permita ultrapassar as insuficiências referidas. Para que se tornem verdadeiras comunidades cristãs as paróquias precisam de percorrer alguns caminhos, como: • Formação de jovens e adultos em ordem à maturidade na fé, ou seja, a um cristianismo pessoal e esclarecido. • Preparação de colaboradores qualificados para assumirem tarefas eclesiais. • Promoção da participação activa de leigos e de ministérios laicais. • Impulsionar e actualizar no seu interior agregações de fiéis. • Dar vida às pequenas comunidades no interior da paróquia (capelas ou igrejas não paroquiais), de modo que sejam lugares de reunião para a oração e a formação de adultos e também pólos de vida comunitária, mesmo que não possam ter missa dominical. • Reconhecimento das potencialidades dos movimentos eclesiais, respeitando os seus carismas próprios, promovendo-os e apoiando-os, numa relação de complementaridade com a paróquia, em ordem a uma maior vitalidade pastoral e espiritual das comunidades. • Organização e preparação de grupos de acolhimento e de missão que se dediquem a acções de evangelização em ambientes descristianizados. • Integração das paróquias em unidades pastorais mais amplas em que se possa realizar uma pastoral de conjunto entre várias paróquias da mesma zona. Participação mais alargada Muitas assembleias eucarísticas das nossas paróquias apresentam-se envelhecidas, com poucas crianças e poucos jovens. Nesse sentido, propomos que se envolvam estas idades nas iniciativas e celebrações relacionadas com o Ano Paulino, como as catequeses, encenações, recepção ao Ícone e à Chama Vocacional, vigílias de oração vocacional, etc. Na vida cristã dos jovens e na sua aproximação à Igreja são marcantes os retiros. Por isso, procurem os pastores orientar os jovens para a participação nestes exercícios espirituais que a Pastoral Juvenil organiza no Advento e na Quaresma. Igualmente importante no envolvimento dos mais novos na comunidade é a relação mais forte da catequese paroquial com a família e com a comunidade. Para criar convívio, união e maior participação nas paróquias, aconselhamos também a celebração do “Dia Paroquial”, animado pelo Conselho Pastoral Paroquial, que congregue festivamente os fiéis e promova um maior conhecimento e pronunciamento sobre as actividades e prioridades pastorais. Muitas paróquias, aliás, já organizam este encontro. Os dias paroquiais seriam depois enriquecidos e ampliados com uma “Jornada Vicarial”, participada pelas várias paróquias da vigararia. As igrejas não paroquiais (capelas), mesmo que não haja possibilidade da celebração eucarística dominical, devem ser valorizados como lugares de encontro para a oração e para a formação. Podem assim funcionar como pólos de congregação de pessoas e de formação cristã e comunitária, integrados na unidade paroquial. Um melhor conhecimento e um apoio mais decidido aos movimentos eclesiais, bem como a recomendação aos jovens para que neles se integrem, é outro caminho a percorrer para alcançar uma formação cristã mais acompanhada e uma vinculação mais forte à Igreja. Considerados pelo Magistério como um dom do Espírito Santo para a Igreja actual, os movimentos eclesiais podem prestar um contributo na revitalização das comunidades tradicionais. Com a nossa acção pastoral colaboramos na construção do templo espiritual do Senhor. Sabemos que Ele é o principal construtor e, por isso, construímos com confiança. Apoiamo-nos na graça de Jesus Cristo, no desígnio de salvação de Deus e na acção do Espírito Santo que, em todos os tempos, concede aos fiéis dons diversos que os tornam idóneos para exercer serviços e ministérios na Igreja. A nossa colaboração consiste também em descobrir os dons do Espírito Santo e dar-lhes espaço na acção do organismo eclesial. Pastor competente não é o que tudo realiza mas o que se rodeia de colaboradores competentes. Actualmente, é uma das tarefas prioritárias do clero: Escolher e preparar colaboradores para a missão eclesial. Neste aspecto temos muito a aprender com São Paulo que tinha o cuidado de despertar colaboradores e estruturar a participação de variados ministérios e serviços nas comunidades por ele fundadas. Entre os vários colaboradores, precisamos de prestar atenção especial às vocações de total consagração ao serviço da Igreja, actualmente em diminuição. A oração e o convite directo aos que apresentam sinais de vocação, devem ser preocupação constante dos pastores. Com essa finalidade organizamos neste ano pastoral o “Grupo Vocacional São Francisco de Sales”, destinado a jovens que, a partir dos 21 anos, se disponham a fazer o discernimento vocacional. A nós pertence-nos lançar a semente e entregar a Deus a possibilidade de frutificar. Como dizia São Paulo aos presbíteros de Éfeso: “Confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados” (Act 20,32). Santarém, 31 de Julho de 2008, memória de S. Inácio de Loiola. + Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém Esta Carta Pastoral destina-se aos fiéis da diocese de Santarém, de forma especial aos que, mais de perto, colaboram na acção pastoral da Igreja. Constitui um instrumento importante do Magistério do Bispo em ordem à renovação eclesial, à unidade e comunhão da Igreja local e à formação de animadores. Recomenda-se que seja divulgada e reflectida pelos membros dos Conselhos Pastorais, pelos Catequistas e pelos colaboradores da Liturgia e da Acção Caritativa. Aconselhamos três reuniões logo no início do ano pastoral de modo que possa inspirar o programa do ano. A primeira reunião dedicada à reflexão e aplicação do número 1, concretizando as iniciativas a pôr em prática no Ano Paulino. A segunda para descobrir e definir os passos a dar no crescimento da vida comunitária propostos no número 2. A terceira deve debruçar-se sobre o terceiro número da carta e concluir alguns caminhos de renovação da paróquia. Em cada reunião procure-se um texto bíblico e uma oração adequados. LINHAS DE ACÇÃO 1. Divulgar e promover o estudo da Carta Pastoral “Quem acredita nunca está só”. 2. Viver frutuosamente o Ano Paulino. 2.1 Organizar e dinamizar o estudo das catequeses: “Um Ano a Caminhar com S. Paulo. 2.2 Peregrinação do Ícone de São Paulo e da Chama Vocacional pelas comunidades da diocese. 2.3 Fomentar a comunicação fraterna das comunidades cristãs através da redacção de cartas inspiradas em textos paulinos. 2.4 Incentivar a peregrinação aos lugares paulinos ou a uma Igreja Jubilar. 3. Desenvolver a dimensão comunitária da fé 3.1 Cultivar a espiritualidade de comunhão, alicerce da vida fraterna. 3.2 Promover a celebração comunitária dos sacramentos da cura. 3.3 Cultivar o acolhimento fraterno nas celebrações. 3.4 Formar Grupos de acolhimento e de missão. 3.5 Dinamizar os grupos “Caritas”, Conferências de S. Vicente de Paulo ou serviços similares nas comunidades. 4. Dar um rosto novo às comunidades. 4.1 Organizar a pastoral de conjunto em ordem a uma acção eclesial articulada ao nível das paróquias, vigararias ou zonas da diocese. 4.2 Promover a formação qualificada de leigos animadores da acção pastoral. 4.3 Reconhecer o carisma e o lugar dos movimentos eclesiais. 4.4 Publicar as orientações diocesanas para a preparação e celebração dos sacramentos segundo a pedagogia catecumenal. 4.5 Criar o “Grupo Vocacional São Francisco de Sales”

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