Sínodo: Propostas para católicos divorciados dividem cardeais

Tema tem sido um dos mais debatidos na preparação da assembleia extraordinária de bispos sobre a família

Lisboa, 03 out 2014 (Ecclesia) – As propostas pastorais para os católicos divorciados que voltaram a casar foram um dos temas que geraram maior debate na preparação para a próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, com início marcado para domingo.

A discussão tem estado centrada nas propostas do cardeal Walter Kasper, que introduziu os trabalhos do consistório de 21 e 22 de fevereiro deste ano, convocado pelo Papa Francisco.

O cardeal alemão foi alvo de várias críticas, na sequência da sua posição em relação à possível admissão de divorciados recasados à Comunhão, depois de um período de “nova orientação (metanoia)” e da Confissão.

A intervenção foi publicada em livro, com o título ‘O Evangelho da Família’, propondo “uma aplicação realista da doutrina à situação atual da grande maioria dos homens e para contribuir para a felicidade das pessoas”.

Após o consistório, o cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, reafirmou em entrevista o que tinha escrito no jornal do Vaticano: os que vivem num estado de vida contrário à “indissolubilidade” do Matrimónio estão impedidos de receber a Comunhão.

O teólogo alemão assina juntamente com outros quatro cardeais (D. Raymond Leo Burke, D. Walter Brandmüller, D. Carlo Caffarra e D. Velasio De Paolis) o livro ‘Permanecendo na verdade de Cristo: Casamento e Comunhão na Igreja Católica’, no qual se questionam as propostas do cardeal Kasper.

O cardeal Raymond Leo Burke, prefeito do Tribunal da Assinatura Apostólica, da Santa Sé, considera que não só seria errado permitir a Comunhão aos divorciados recasados mas também contesta a simplificação do processo de reconhecimento da nulidade matrimonial, por entender que “encorajaria uma visão defeituosa do matrimónio e da família”.

O cardeal Walter Brandmüller, presidente emérito do Comité Pontifício das Ciências Históricas, escreveu no jornal italiano ‘Avvenire’ que “já a antiguidade pré-cristã tratava o divórcio e a segunda união de modo muito restritivo”.

Numa entrevista ao jornal ‘Il Foglio’, o cardeal-arcebispo de Bolonha, D. Carlo Caffarra, questiona “o que acontece ao primeiro casamento, ratificado e consumado”, no caso da admissão à Comunhão dos divorciados em segunda união.

Já o cardeal Velasio de Paolis, presidente emérito da Prefeitura dos Assuntos Económicos da Santa Sé, disse diante do tribunal eclesiástico regional da Úmbria, na Itália, que “o acesso ao sacramento da Eucaristia está aberto somente a quem não está consciente de nenhum pecado grave” e que “ a confissão sacramental só pode estar à disposição de quem está arrependido do próprio pecado e se empenha em não cometê-lo mais”, uma intervenção citada pelo site do Conselho Pontifício da Família.

O secretário-geral do Sínodo dos Bispos, D. Lorenzo Baldisseri, afirmou à Agência ECCLESIA que a família vive atualmente “problemas e desafios novos” a que a Igreja tem de dar “respostas adequadas”.

“Há posições diferentes que parecem distantes mas não são, porque se acentua um ou outro aspeto. O importante é colocar os problemas com muita tranquilidade e serenidade”, referiu o cardeal italiano.

O cardeal português D. José Saraiva Martins, por sua vez, disse à Agência ECCLESIA que a Igreja tem de saber “falar ao homem de hoje com a linguagem de hoje” e isto “torna necessário uma contínua revisão de certas normas”.

PR/OC

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