Sínodo: Relação da Igreja com divorciados que voltaram a casar gera discussão

Questão é das mais debatidas na preparação para a reunião extraordinária de bispos católicos marcada para outubro

Lisboa, 16 mai 2014 (Ecclesia) – As propostas pastorais para os católicos divorciados que voltaram a casar está a ser um dos temas centrais no debate preparatório para a próxima assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro, no Vaticano.

Os trabalhos sobre os ‘desafios pastorais sobre a família’ têm o desafio de mostrar “uma Igreja fiel a Cristo mas misericordiosa com as pessoas recasadas”, sustenta o padre Jorge Teixeira da Cunha, diretor-adjunto do núcleo do Porto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

O especialista comenta, em texto publicado na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, o texto de D. Walter Kasper, que introduziu os trabalhos da reunião extraordinária de cardeais de 21 e 22 de fevereiro deste ano.

O cardeal alemão foi alvo de várias críticas, na sequência do debate sobre uma possível admissão de divorciados recasados à Comunhão, depois de um período de “nova orientação (metanoia)” e da Confissão.

Após o consistório, o cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, reafirmou em entrevista que os que vivem num estado de vida contrário à “indissolubilidade” do Matrimónio estão impedidos de receber a Comunhão.

Para o padre Jorge Teixeira da Cunha, o texto do cardeal Walter Kasper é “um exemplo excelente de teologia moral e pastoral”, que “expõe magistralmente a riqueza e a promessa do sacramento do matrimónio, uno e indissolúvel, prometido por graça à convivência conjugal de todos os seres humanos”.

“Porém, a Igreja está confrontada com o fracasso real de muitos matrimónios, fracasso que causa sofrimento a muitas pessoas. Em lugar de repetir simplesmente a doutrina da indissolubilidade e deixar para trás quem fracassou, trata-se de propor uma praxis de misericórdia, ‘uma segunda nave’ a quem dela necessita”, precisa.

Segundo o docente da UCP, “admitir de novo os recasados aos sacramentos não é pôr a norma moral em causa”, mas ter a “sabedoria prática que vê a situação singular que não é englobada pela norma geral”.

Na mesma edição do Semanário ECCLESIA, Filipe d’Avillez, jornalista e responsável pelo blogue ‘Actualidade Religiosa’, sublinha que “o acesso aos sacramentos por parte das pessoas em uniões irregulares vai ser sem dúvida um dos tópicos a discutir no Sínodo para a Família”.

“Depois de acompanhar várias destas discussões chego à conclusão que só será possível mudar-se a prática alterando uma destas premissas: a noção da indissolubilidade; a ideia de que o adultério é um pecado que nos coloca fora do Estado de Graça; a necessidade de estar em Estado de Graça para comungar”, escreve.

Para o jornalista da Rádio Renascença, já se fala num “cisma silencioso”, dos que deixaram de viver de acordo com os ensinamentos da Igreja sobre estas questões, e há o “risco de um cisma verdadeiro do outro lado da barricada”.

“Para muitos que lutam diariamente para se manterem fiéis à Igreja, a ideia de que os bispos aprovem uma heresia, contrariando alguma das premissas acima enumeradas, poderá ser o suficiente para seguirem o mesmo caminho que os lefebvrianos”, adverte.

OC

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