Sociedade: Portugal está mais rico com os imigrantes

Migrações ensinam «tolerância, humildade e abertura» e denunciam «escravidões no trabalho», destaca antigo diretor da Obra Católica

Lisboa, 13 jan 2012 (Ecclesia) – As tradições que os imigrantes trazem na bagagem oferecem aos portugueses mundos desconhecidos e tornam o país mais rico em termos humanos, considera o padre Rui Pedro, antigo diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações.

As deslocações provisórias ou definitivas entre países “continuam a ser grande oportunidade pelo capital humano e cultural que encerram”, sublinha o sacerdote em texto publicado na mais recente edição do semanário ECCLESIA, dedicada ao Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que a Igreja Católica assinala no domingo.

As migrações “ensinam a tolerância, humildade e abertura, denunciam injustiças no tratamento e escravidões no trabalho, exigem ética na política e economia, desafiam para a formação e evangelização, provocam a territorialidade que discrimina e os nacionalismos que humilham”, salienta.

Os católicos provenientes de África trazem a Portugal liturgias de “ritmo e dança, cor e trajes” que se manifestam na “linguagem da alegria”, ao mesmo tempo que lembram a necessária “igualdade de oportunidades” e a “inclusão social e eclesial”, refere o religioso que integra a direção mundial dos Missionários Scalabrinianos, em Roma. 

Os migrantes da América Latina, “especialmente os brasileiros”, trazem um modo “mais sentimental, alegre, tropical, sociopolítico de celebrar” a fé em Cristo, acrescenta.

Os fiéis da Europa de Leste testemunham a “fidelidade” à fé no contexto de privação de liberdade religiosa imposta nos países de origem, revelam que o cristianismo inclui padres casados e expressam nas suas celebrações o “sentido do mistério, sagrado, oração, canto” e “beleza litúrgica” que muitas comunidades católicas perderam.

Os cidadãos de outras crenças, por seu lado, “oferecem uma viagem ao encontro de grandes tradições”, “algumas até incompreensíveis”, observa o padre Rui Pedro, que também realça a ação dos migrantes que, “não sendo religiosos”, têm sido “um grande dom para a sociedade”.

O responsável ressalta que “a nova e intensa vaga” da emigração portuguesa provocada pela “crise” implica que a formação cristã realce a “afirmação e vivência da fé em novos contextos (sub)urbanos, indiferentes, estrangeiros e adversos resultantes da secularização, relativismo e situação de minoria”.

“Muitos portugueses, especialmente os que a migração emancipou na fé, têm (re)fundado comunidades vivas, solidárias e dinâmicas, tornando as metrópoles onde se fixaram terra menos estrangeira e mais fraterna”, destaca.

O responsável lembra que na última década Portugal tem recebido mais padres estrangeiros do que enviado missionários para as comunidades de emigrantes lusos, notando-se o crescimento de sacerdotes de Angola, Cabo Verde, Índia, Brasil, Ucrânia e Moçambique, entre outros.

Depois de observar que a Igreja Católica tem apostado na ‘Festa dos Povos’ e na valorização das celebrações em honra dos padroeiros, o padre Rui Pedro frisa que as demonstrações de fé devem ser vividas “sem temer a sadia conflitualidade e tensão necessárias” inerentes ao anúncio do cristianismo através da inculturação.

Na mensagem para o 98.º Dia Mundial do Migrante e Refugiado, o Papa Bento XVI apelou a uma “nova evangelização, inclusive no vasto e complexo fenómeno da mobilidade humana”.

RJM

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