Suíça sem fronteiras

Tony Neves

Cheguei a Zurich onde me esperava o P. Aloísio Araújo, de Braga, o responsável pela  pastoral  dos lusófonos na Suíça. A conversa até Lucerna permitiu perceber como a rica Suíça olha com respeito o papel das Igrejas na construção da vida social. Por isso, de forma diferente de cantão para cantão, todos os padres e outros responsáveis de pastoral são pagos como se fossem uma espécie de funcionários públicos, tal o papel social que desempenham. Esta situação pode criar algumas ambiguidades e dependências, mas faz com que as missões não tenham que se preocupar muito com arranjar dinheiro. Apenas têm que o gerir bem e dar contas. A preocupação das autoridades suíças pelas questões religiosas é tão grande e actual que ainda agora estão a nascer missões: polacas, ucranianas, filipinas…

As comunidades lusófonas acompanham imigrantes vindos de Portugal, Brasil e PALOPs. Os portugueses na Suíça são, regra geral, jovens, pois a imigração é bastante recente. E há sempre pessoas a chegar, muitas delas com formação académica superior. O fim de semana passado foi de celebrações, em Igrejas a 30 e a 70 kms de Lucerna, com 30, 120, 200 e 300 pessoas nas quatro Eucaristias que presidi. Impressionam os rostos jovens e a quantidade de crianças, muito mais do que se vê em boa parte das Igrejas de Portugal.

A Suíça é um puzzle de povos, culturas e línguas. Tem 26 cantões, com três grandes línguas: o francês, o alemão e o italiano. A riqueza da diversidade vê-se também nas paisagens de sonho, tão plurais, agora muito marcadas pelas montanhas e pela neve.

Percorremos muitos quilómetros de carro, indo de Lucerna (cantão alemão) até Lugano (capital da Suíça italiana). Passamos por túneis e mais túneis, com especial admiração pelo de S. Gottardo que tem 16,4kms. Foi uma enorme felicidade encontrar, no Retiro Espiritual, a vintena de padres que acompanham as comunidades lusófonas, originários de Portugal, Brasil e Angola.

Em tempo de Quaresma, partilho mais uma marca que a Suíça imprimiu em mim. As Igrejas que visitei, católicas e protestantes, têm quase todas uma belíssima pintura com dois rostos africanos, em silhueta. Apesar da enorme diversidade confessional, linguística e cultural, as Igrejas conseguem unir-se na Quaresma e fazem uma Campanha comum. Este ano, vão apoiar pescadores do Senegal, vítimas dos barcos arrastões que quase dizimam as pescarias na costa senegalesa. E termino com um desabafo: Portugal é tão pequenino, falamos todos a mesma língua e não somos capazes de fazer uma Campanha Quaresmal comum, destinando a renúncia da Quaresma para um projeto único, de comunhão…

Como pede o Papa Francisco, tomemos três remédios doces: a oração, o jejum e a partilha. E a cura espiritual vai acontecer nas nossas vidas.

 

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