Trabalho em tempo de crise

Situação actual não pode fazer dos trabalhadores o «bode expiatório» A celebração do dia do trabalhador em Portugal fica ensombrada pelo cenário de crise e pelo crescimento do desemprego que, segundo os últimos dados revelados pelo Eurostat, atinge 8,5% da população activa em Portugal. Este é um valor acima da média da União Europeia que atingiu em Março os 8,3%, o máximo desde finais de 2005. José Domingues Rodrigues, vice-coordenador nacional da LOC/MTC – Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, considera que na origem da actual situação está o esquecimento do fundamental, o ser humano. “Perdeu-se a noção da importância do homem, foi relegado para terceiro plano. Estamos fartos de ideias, de análises, nunca mais começamos a ver a concretização da resolução dos problemas, temos dado pouca atenção ao papel do trabalho no projecto de cada pessoa, no desenvolvimento das famílias”, refere à Agência ECCLESIA. A situação em que vivemos não foi criada pelos trabalhadores, mas são estes o «elo mais fraco», os primeiros a sofrerem as consequências de uma crise que atinge em especial pequenas e médias empresas. “São sempre os mais pobres, os trabalhadores que têm menos capacidade para se defender”, indica o vice-coordenador nacional da LOC/MTC, lamentando que não tenha havido “atenção suficiente” para promover a classe operária. “Acabam por ser eles a pagar a factura que deveria ser distribuída por quem cria a crise”, atira. Num texto escrito para a Agência ECCLESIA, Jorge Líbano Monteiro, da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, considera que no momento actual é preciso salvaguardar “a dignidade de todos os colaboradores da empresa, o reconhecimento da entrega da sua vida à empresa e a certeza de que os colaboradores são o maior activo da empresa”. Para este responsável, é necessário “reconhecer a importância vital da iniciativa privada, das empresas e dos empresários para podermos voltar a desenvolver o nosso país de forma sustentada”. “Todos os intervenientes na vida da empresa são essenciais e têm de assumir-se como exemplos de competência e trabalho para que num quadro de racionalidade económica, essencial para a sustentabilidade futura do emprego, se possam evitar mais desemprego e mais pobreza”, defende. Mobilizar os cristãos José Rodrigues assegura que a Pastoral Operária da Igreja Católica no nosso país tem vindo a reflectir sobre as “causas e consequências desta crise”, mas admite alguma impotência por não se conseguir “encontrar respostas ou mobilizar um conjunto maior de cristãos” para “fazer mudar as coisas”. Numa altura em que as pessoas já não acreditam nos políticos, assinala, o desafio está colocado aos líderes das organizações civis e religiosas. “A Igreja nem sempre tem tido em conta o espaço que ocupa no mundo e que pode utilizar em favor dos mais pobres”, afirma. “Os cristãos têm de ser, necessariamente, mais sérios, mais prontos, se calhar mais honestos”, conclui. Na abertura dos trabalhos da última assembleia da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, falava de “empresários que, para salvarem as empresas, defrontam situações graves” e de outros que “abandonaram o barco com atitudes fraudulentas, não respeitando as mínimas exigências éticas” “Negar ou não proporcionar que todos possam exercer uma actividade que permita o essencial para viver, significa gerar fenómenos de exclusão e marginalidade social, potencialmente causadores de insegurança, violência ou incapacidade de vida em comum no respeito por todos”, alertou.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top