Vaticano: Papa denuncia «crime» da exploração sexual das mulheres

Francisco ouviu testemunho de nigeriana enganada por rede de tráfico humano e disse que prostituição corresponde a «torturar uma mulher»

Roma, 19 mar 2018 (Ecclesia) – O Papa deixou hoje duras críticas aos que promovem a exploração sexual das mulheres e os seus clientes, falando num “crime contra a humanidade”.

Francisco falava na abertura dos trabalhos de uma inédita reunião pré-sinodal com jovens de todo o mundo, crentes e não-crentes, para preparar a próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro.

A manhã, no Pontifício Colégio Internacional ‘Maria Mater Ecclesia’, contou com vários testemunhos, entre eles o de Blessing Okoedion, nigeriana a viver na Itália, que foi vítima de tráfico de seres humanos.

“É um crime contra a humanidade, é um delito contra a humanidade. E nasce de uma mentalidade doente: que a mulher deve ser explorada. Nos dias de hoje, não há feminismo que tenha conseguido tirar isto da consciência, do inconsciente mais profundo ou do imaginário coletivo, digamos assim”, disse o Papa.

O testemunho de Blessing Okoedion impressionou o Papa, que criticou os clientes das mulheres envolvidas em redes de exploração sexual, muitos deles homens batizados, católicos, por cujas ações Francisco pediu “perdão”.

“É um criminoso. Quem faz isto é um criminoso. ‘Mas padre, não podemos fazer amor?’. Não, não, isto não é fazer amor, isto é torturar uma mulher, não confundamos os termos. Isto é criminoso”, exclamou, numa passagem saudada pelas palmas dos presentes.

Num longo discurso de improviso, o Papa falou da necessidade de uma educação que não perca a capacidade do “assombro” e criticou o mundo virtual que domina as relações, mesmo na família, com a perda do sentido do “concreto”.

Francisco disse que a verdadeira proteção se faz no “crescimento” e brincou quando lhe perguntaram o que fazer diante de um jovem tatuado.

“Naquela tatuagem, que pertença se diz? E começar a dialogar. Daqui se chega à cultura dos jovens, não? É importante. Mas não ter medo, com os jovens nunca devemos assustar-nos. Nunca. Porque sempre, mesmo por trás de coisas não tão boas, há algo que nos fará chegar a alguma verdade, não?”, recomendou.

Entre os que tiveram oportunidade de apresentar uma pergunta ao Papa estava Maxime Rassion, estudante de Direito francês, que não pertence à Igreja Católica.

“O perigo é não deixar aparecer as perguntas”, disse-lhe Francisco, para quem o essencial é não “anestesiar” as perguntas fortes da existência, promovendo o “discernimento” perante o “vazio” que muitos sentem.

A próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, convocada para outubro, tem como tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’.

O Papa ouviu ainda perguntas de María de la Macarena Segui, argentina, do projeto Scholas Occurrentes, a rede mundial de escolas pela inclusão promovida pelo Papa desde quando era arcebispo de Buenos Aires; de Yulian Vendzilovych, seminarista da Ucrânia; e da irmã Teresina Chaoying Cheng, religiosa da China, de quem recebeu uma prenda que simboliza “calor e alegria”.

Francisco aludiu aos casos de abusos sexuais na Igreja para pedir uma formação que não limite as pessoas, sem descurar qualquer dimensão da existência.

“Prefiro que um jovem, uma jovem perca a vocação do que depois seja um religioso doente, que faça mal”, assumiu.

O dia acabou com uma foto de grupo, já após dezenas de selfies com o Papa, que saiu da sala de baixa de uma salva de palmas dos participantes, entre eles três portugueses.

Dos trabalhos, que decorrem até sábado, vai sair um documento que será entregue ao Papa a 25 de março, Domingo de Ramos e Dia Mundial da Juventude, jornada que este ano é celebrada a nível diocesano.

OC

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