Vaticano: Papa desafia Igreja a cruzar «novas fronteiras» ao encontro de todos, como São Paulo VI e Santo Óscar Romero

Perante bispos de todo o mundo, Francisco destaca necessidade de deixar seguranças e riquezas para seguir Jesus Cristo

Cidade do Vaticano, 14 out 2018 (Ecclesia) – O Papa desafiou hoje a Igreja Católica a cruzar “novas fronteiras”, à imagem dos novos santos Paulo VI e Óscar Romero, canonizados esta manhã, deixando para trás riquezas e ilusões de segurança.

“(São Paulo VI) consumiu a vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha dele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja virada para fora, que olha para os distantes e cuida dos pobres”, declarou, perante dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.

A cerimónia de canonização de sete novos santos decorreu perante bispos de todo o mundo, que participam na assembleia do Sínodo dos Bispos dedicada às novas gerações.

Francisco, admirador confesso de Paulo VI, o Papa que levou até ao fim o Concílio Vaticano II (1961-1965), observou que o novo santo, “mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões”, testemunhou sempre “de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus”.

“Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade”, acrescentou.

O Papa considerou “bonito” que neste dia fosse canonizado também o arcebispo salvadorenho D. Óscar Romero, “que deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria segurança, para consumir a vida – como pede o Evangelho – junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos”.

O mesmo podemos dizer de Francisco Spinelli, Vincente Romano, Maria Catarina Kasper, Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus e do nosso rapaz napolitano Núncio Sulprizio, santo jovem, corajoso, humilde, que soube encontrar Jesus no sofrimento, no silêncio e na oferta de si mesmo.

Na sua homilia, o Papa falou da importância de “passar dos preceitos observados” para uma “história de amor, o dom de si mesmo” ao serviço de Jesus Cristo.

“Não se pode seguir verdadeiramente a Jesus, quando se está repleto de coisas. Pois, se o coração estiver cheio de bens, não haverá espaço para o Senhor, que se tornará uma coisa mais entre as outras”, advertiu.

Francisco realçou que, quando se coloca no centro o dinheiro, “não há lugar para Deus e não há lugar sequer para o homem”.

Jesus pergunta a cada um e a todos nós como Igreja em caminho: somos uma Igreja que se limita a pregar bons preceitos ou uma Igreja-esposa, que pelo seu Senhor se lança no amor? Seguimo-Lo verdadeiramente ou voltamos aos passos do mundo, como aquele homem? Em suma, basta-nos Jesus ou procuramos as seguranças do mundo?”

O Papa pediu a todos os responsáveis católicos a capacidade de deixar de parte “as riquezas, os sonhos de funções e poderes, as estruturas já inadequadas para o anúncio do Evangelho”.

“A riqueza é perigosa e – di-lo Jesus – torna difícil até mesmo salvar-se. Não, porque Deus seja severo; não! O problema está do nosso lado: o muito que temos e o muito que ambicionamos sufocam-nos o coração e tornam-nos incapazes de amar”, alertou o pontífice.

Francisco declarou que os novos santos, “em diferentes contextos, traduziram na vida a Palavra de hoje: sem tibieza, nem cálculos, com o ardor de arriscar e deixar tudo”.

“Irmãos e irmãs, que o Senhor nos ajude a imitar os seus exemplos!”, concluiu.

O Papa  celebrou a Missa com vestes litúrgicas que foram dos santos Paulo VI e Óscar Romero, recitando ainda o ângelus antes de despedir-se dos peregrinos reunidos no Vaticano.

A cerimónia contou com a presença da rainha Sofia, de Espanha, e dos presidentes da Itália, Chile, El Salvador e Panamá, além de uma delegação da Igreja Anglicana.

OC

Vaticano: Papa proclamou Paulo VI e D. Óscar Romero como santos

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