Voluntariado: escola para formar lideranças servidoras

José Luís Gonçalves

O Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) divulgou esta semana na Polónia os resultados de um estudo realizado em 15 países europeus sobre Voluntariado. Na conferência de imprensa concluía, por um lado, que “não existe nenhuma outra instituição na Europa que contribua de forma tão ampla para o voluntariado e promova formas de voluntariado tão diversificadas como a Igreja Católica”; chamava a atenção, por outro lado, para a rápida incorporação formal das iniciativas de voluntariado em “programas e percursos curriculares” que esvaziariam de sentido a genuína adesão livre e espontânea de quem deseja abraçar uma causa.

Ora, se o laço social contemporâneo está fortemente marcado por um interesse individualista, percebe-se que a atividade de voluntariado não se possa reger por motivações puramente altruístas. A gíria psicológica denomina de “egotismo” a motivação intrínseca para ir em busca de algum ganho ou benefício pessoal quando se está intencionalmente a ajudar outrem. Ora, o egotismo poderá constituir uma porta aberta para a pró-socialidade e uma oportunidade para a educação emocional dos voluntários. A partir daqui, importa sublinhar a oportunidade única que a atividade de voluntariado representa para formar lideranças. Não um tipo de liderança qualquer, daquelas que, mais tarde e bem na vida, se servem a si mesmas, mas lideranças servidoras.

A expressão “liderança servidora” foi cunhada por Robert K. Greenleaf nos anos 70 do século passado (The Servant as Leader) e está a ser revisitada pelas teorias de liderança ensinadas nas instituições universitárias. Esta inspiração demarca-se das teorias clássicas na medida em que não se foca no líder, nos liderados ou na situação, mas nas necessidades das pessoas. Na conceção de liderança servidora, o serviço às pessoas e às suas necessidades precede e configura as características e o estilo de liderança a assumir. A motivação-inspiração para liderar advém, pois, da causa-missão que o líder abraça e não resulta primeiramente das suas muitas ou poucas qualidades pré-existentes. Esta descentração do líder a favor dos outros e das suas necessidades entrou, desde cedo, em contracorrente com as mais variadas teorias clássicas da liderança organizacional e das metáforas que as caracterizam. E nem as mais recentes tendências de liderança caracterizadas por uma certa “gestão espiritual da liderança” (e. g. O Monge e o Executivo) ou pelos designados “modelos de liderança distribuída” se lhe compara na medida em que continuar a opor liderança a serviço.

Pela sua vocação e papel social, a Igreja Católica tem uma especial responsabilidade em formar líderes descentrados de si nas mais variadas iniciativas proporcionando-lhes experiências significativas de compaixão. O apelo ao compromisso voluntário brota da experiência concreta do encontro compassivo com o outro que se encontra em condições especiais de vulnerabilidade ou em quebra/ausência significativa de laço social. A qualidade dessa experiência de desumanização do outro devia suscitar uma indignação ética capaz de provocar um chamamento-missão interior para abraçar a causa que pretende servir. É neste serviço à causa-necessidade do outro que a liderança servidora se forma e, à medida que esta pessoa experimenta propósito e sentido pessoal na entrega às necessidades do outro, é-lhe dada a possibilidade de enquadrar essa atividade num Todo maior do que ela própria. Só lideranças servidoras estarão em condições de abrir horizontes de esperança de uma vida comum decente.

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