Centenário: Bispo de Leiria-Fátima sublinha papel da História para evitar visões redutoras

D. António Marto elogiou colóquio que reúne especialistas de diversas áreas, no centenário das aparições

Fátima, 27 mai 2017 (Ecclesia) – O bispo da Diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, sublinhou hoje a importância da investigação histórica para evitar visões redutoras a respeito dos acontecimentos de 1917, na Cova da Iria.

O responsável, que falava na abertura do segundo dia do colóquio “Fátima. História e Memória”, por ocasião do centenário das aparições (1917-2017), sublinhou que este é um fenómeno “complexo” e sujeito ao “conflito de interpretações”, pelo que deve ser “analisado com rigor histórico” que previna “reduções”.

Esta é uma iniciativa conjunta da Academia Portuguesa da História e do Santuário de Fátima, que começou esta sexta-feira em Lisboa e prossegue agora no centro Paulo VI.

D. António Marto deixou, por isso, uma palavra de apreço pela Academia Portuguesa da História, “congregadora de diferentes escolas e visões”, e sublinhou a importância desta “preciosa e frutífera parceria”.

O prelado entende que o colóquio possibilita “o cruzamento de olhares e o debate” sobre o fenómeno de Fátima, que, pela sua importância, gera “múltiplas leituras”.

“Fátima é na verdade um fenómeno e um acontecimento que se foi e se vai desvelando e revelando ao longo da história”, precisou.

Para o bispo de Leiria-Fátima, as aparições são um facto incontornável na história da Igreja, de Portugal e do “século XX”, sendo vistas por alguns como a “mais política” de todas as aparições marianas.

D. António Marto disse que a “significativa adesão” que o tema do colóquio suscitou mostra que “Fátima continua a estar na ordem do dia”.

Paulo Fontes, diretor do Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica Portuguesa, primeiro conferencista do dia, apresentou Fátima como “um lugar da modernidade portuguesa”, recordando que permitiu uma “apropriação subjetivada, subjetiva” por parte dos peregrinos que acorrem à Cova da Iria.

“Estudar Fátima não pode ser só estudar o momento inicial”, assinalou, falando num ponto de “convergência interclassista, intercultural” que se configurou como um “fenómeno de massas” desde 1917.

O historiador Bruno Cardoso Reis, por sua vez, sublinhou as mudanças na relação entre Igreja e Estado Novo, em particular aquando da visita do Papa Paulo VI em 1967, e a “renovação” na hierarquia católica, nos anos anteriores à revolução de abril de 1974.

Sérgio Campos Matos, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, referiu que, durante o Estado Novo, se manteve a separação Igreja-Estado, com diferenças significativas em relação à I República, sublinhando que a Concordata e o Acordo Missionário possuíam uma “lógica de cooperação”.

O historiador recordou, por outro lado, a “heterogeneidade” do catolicismo português no século XX.

Maria Manuela Tavares Ribeiro, professora catedrática da Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, proferiu a segunda conferência do dia, sobre “os católicos e movimentos pacifistas” nos finais do século XIX e início do século XX.

A especialista sublinhou a mudança provocada pela eleição de Bento XV, em 1914 (pontífice até 1922), que alerta para as consequências do racismo e da guerra.

A conferência de encerramento deste colóquio vai ser proferida por D. Manuel Clemente que reflete sobre ‘Fátima no contexto do catolicismo contemporâneo’, após uma intervenção de Adriano Moreira.

OC
Notícia atualizada às 13:11

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