Deficiência: Quando a inclusão aumenta o sentido de Igreja

Mãe de cinco filhos, Carmo Diniz conta como integração plena do seu filho evangeliza comunidade paroquial

Família do Bernardo

Estoril, 03 dez 2018 (Ecclesia) – Carmo Diniz, mãe de cinco filhos, um dos quais com deficiência, afirma que o seu sentido de Igreja “aumentou” pelos dons que o Bernardo Diniz oferece no espaço comunitário e familiar.

“O meu filho oferece à Igreja doméstica quando nos faz rezar mais, quando nos faz ter mais paciência uns com os outros, quando nos leva a assumir a fragilidade dele e a nossa, quando nos obriga a expor, que nos tem obrigado a isso”, reconhece esta bióloga de formação e coordenadora da Equipa da Pastoral a Pessoas com Deficiência, no Patriarcado de Lisboa.

Num desafio que reconhece ser “imenso”, Carmo Diniz fala de dons do seu filho de nove anos que não se circunscrevem à Igreja familiar.

“O Bernardo faz-me pensar mais sobre a vida de Jesus, sobre o seu exemplo, como se relacionava com todo o tipo de pessoas, a proximidade que o Bernardo tem de Jesus e que me ultrapassa, a debilidade da Igreja quando não consegue aceitar um pequenino mas também a sua grandeza quando põe um pequenino à frente de todos os outros”, assinala, em declarações à Agência ECCLESIA.

As Nações Unidas assinalam hoje o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência com o objetivo de mobilizar para a defesa da dignidade, dos direitos e do bem-estar de todas as pessoas.

Carmo e o marido Rui Diniz foram pais biológicos de quatro crianças – Clara, Carmo, Vasco e Vera – mas guardaram sempre o desejo de poder um dia adotar uma criança, “sem critérios definidos”.

Quando, com três anos, o Bernardo chegou à família, foi batizado dando início a uma caminhada de fé, a par da irmã, até à Primeira Comunhão.

Depois de abordar a possibilidade de celebrar o sacramento com amigos e sacerdotes, a família percebeu que o Bernardo “sozinho não faria a Primeira Comunhão”, pois tem 99% de incapacidade – “anda com dificuldade, não vê, não fala, apenas emite alguns sons com sentido”.

Na procura de respostas, Carmo Diniz percebeu que o seu filho “comunga da comunidade e da família onde se insere” e nesse sentido pode aceder ao sacramento da Eucaristia, o que se veio a concretizar em maio.

“Como família foi muito importante porque significa, em termos muito práticos -porque foram vistos detalhes desta preparação em família – que quem levar o Bernardo à Comunhão tem ele próprio de estar preparado para receber a Comunhão”, observa.

Esta tem sido uma prática evangelizadora da comunidade da Boa Nova, na paróquia de Santo António do Estoril, onde o Bernardo frequenta o colégio e participa na Eucaristia.

A inclusão do Bernardo obriga a paróquia e o prior a abrirem-se a estas questões e leva tantos a abordarem-nos no final de uma celebração. Por outro lado, oferece à paróquia a possibilidade de se abrir porque quando ele está muito bem disposto na Missa comove ou quando está muito mal disposto e faz zangar comove também”.

Carmo Diniz lamenta que a valorização da pessoa com deficiência não seja ainda plena e fala no desconhecimento e medo que pauta a relação com estes cidadãos.

“O medo é sempre um fator terrível na relação. Tenho medo que esta pessoa que está à minha frente não reaja de acordo com o que estou a pensar; no caso da pessoa com deficiência tenho medo da sua reação, de não perceber quem é esta pessoa à minha frente”, precisa.

O medo, indica a entrevistada, só se destrói com o tempo que permite, depois, construir uma relação “de coração a coração”.

“Eles vão direitos ao coração. A pessoa com deficiência não é capaz de máscaras, de pretensões. Só consegue uma relação direta”, conclui.

O tema escolhido pela ONU para a celebração de 2018 é “Capacitação/empoderamento das pessoas com deficiência e assegurar a sua inclusão e igualdade”.

LS/OC

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