Discurso do presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais na entrega do Prémio Árvore da Vida

Senhor Arquiteto Nuno Teotónio Pereira

Constitui uma grande alegria para mim, enquanto Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Igreja, entregar-lhe este tão merecido galardão que leva o nome de uma das referências da cultura humanista e cristã da última metade do século XX português, o Padre Manuel Antunes, e se chama também de “Árvore da Vida”. Em boa-hora, e também graças ao patrocínio da Rádio Renascença que nos apraz sublinhar, foi criado este prémio que visa identificar, na polifonia da nossa cultura, esses e essas que representam “árvores da vida” pela fecundidade dos seus percursos criadores.

 

Nesse sentido, chegar ao seu nome foi uma tarefa que entusiasmou o júri e alegrou tanto a Igreja como o mundo da Cultura. Não é difícil reconhecer em si uma “Árvore da Vida”, caro Arquiteto Nuno Teotónio Pereira. Com efeito, deixa-nos uma marca pessoalíssima e de rara qualidade na arquitetura portuguesa, a que sempre aliou outros dois traços que se diriam pouco frequentes: o grande gosto pelo trabalho em equipa e uma genuína preocupação pela dimensão social do trabalho arquitetónico. 

Não me vou debruçar sobre o notável conjunto das suas obras, de onde justamente se destaca esta igreja do Sagrado Coração de Jesus que agora nos acolhe. Quero antes reconhecer que este prémio sublinha uma dívida de gratidão que a Igreja em Portugal tem por si, e pela sua geração, pelo nível a que elevaram o diálogo entre a Fé e a Cultura. De maneira particular evocamos o programa e a ação do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR), de que o Senhor Arquiteto foi o primeiro presidente. Devemos-vos um significativo contributo para a tradução plástica da reforma litúrgica que o Concílio Vaticano II protagonizaria, mas não só. Devemos-vos igualmente o testemunho do que pode ser a presença cristã no meio do mundo, uma presença afável e de serviço, uma presença profética e comprometida, de quem se sabe chamado a ser “sal” e “luz”.

 

Como escreveu João Paulo II, “para transmitir a mensagem que lhe foi confiada por Cristo, a Igreja precisa da arte” (Carta aos Artistas, n. 12). Gostaria nesta hora de dizer: a Igreja em Portugal precisa do contributo dos artistas e das epifanias de sentido e de beleza que eles realizam. Sem os artistas a expressão do mistério de Deus seria mais pobre, e o homem seria um estrangeiro de si mesmo; sem os artistas a Igreja ver-se-ia privada de uma linguagem expressiva, para muitos a única linguagem ainda inteligível.

 

Em 2009, falando aos Artistas reunidos na Capela Sistina, o Papa Bento XVI dizia: “Queridos Artistas, gostaria de vos dirigir também eu, (…) um cordial, amistoso e apaixonado apelo. Vós sois guardiães da beleza; vós tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e coletiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. Sede portanto gratos pelos dons recebidos e plenamente conscientes da grande responsabilidade de comunicar a beleza, de fazer comunicar na beleza e através da beleza! Sede também vós, através da vossa arte, anunciadores e testemunhas de esperança para a humanidade!”

 

Caro Arquiteto Nuno Teotónio Pereira, obrigado por mostrar-nos como este apelo se cumpre.

Lisboa, 11 de julho de 2012

D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto,

Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais

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