Europa: Avanço da secularização exige esforço suplementar de evangelização, diz padre Duarte da Cunha

Sacerdote português deixa cargo de secretário-geral do CCEE, após 10 anos, e regressa a Lisboa como pároco

Foto: Episkopat.pl

Poznan, Polónia, 15 set 2018 (Ecclesia) – O padre Duarte da Cunha, que nos últimos 10 anos foi secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), disse hoje à Agência ECCLESIA que o avanço da secularização exige o abandono de uma posição defensiva, por parte dos católicos, e um esforço de evangelização.

“Julgo que a coisa que mais levo para casa, ao voltar da Europa para Portugal, é verificar que há uma vida eclesial forte, espalhada por toda a Europa, mesmo que hoje já não seja maioria – na maior parte dos países, já não é uma maioria viva, mas é forte e dá esperança”, referiu, na cidade polaca de Poznan, onde decorrem os trabalhos da assembleia plenária do CCEE.

“Ao mesmo tempo vi isto numa sociedade muito secularizada, onde se vive como se Deus não existisse. Isso por todo o lado na Europa – norte, sul, leste ou oeste”, acrescentou.

O responsável, que deixou o cargo de secretário-geral esta sexta-feira, fala da “novidade” de ter visto, numa década, a “complexidade” do continente, que tem “bases” comuns, nas suas raízes cristãs, mas que se multiplica em diferenças na alimentação, nos horários, na forma de viver, na “relação com a própria identidade”.

O padre Duarte da Cunha diz ter visto uma “uma grande tensão entre o leste e o oeste”, com uma certa “aversão” ao ateísmo por parte de quem viveu sob regimes comunistas, no último século.

Aquilo que lhes peço é que não sejam só protetores da sua fé, mas sejam anunciadores da fé nos outros países. Por isso, que haja na Europa não só o movimento da secularização, que se alarga para o leste, mas o movimento da evangelização que se espalha por toda a Europa”, apelou.

O futuro imediato do sacerdote passa agora pela Paróquia de Santa Joana Princesa, no centro de Lisboa, a pedido do cardeal-patriarca, com o desafio de trabalhar numa cidade que é “laboratório de multiculturalidade”, com diferenças presentes “em diálogo, em tensão”.

“A Igreja é chamada a fazer comunidade de todas as pessoas, mantendo e vivificando aquilo que é próprio de cada um, ao mesmo tempo fazendo viver aquilo que nos une, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, a graça de Deus”, refere.

Foto: Episkopat.pl

Sobre as temáticas mais importantes destes 10 anos, no trabalho do CCEE, o padre Duarte da Cunha disse aos jornalistas que estas passaram pela nova evangelização e pela família, bem como pela crise económica, com atenção ao problema do desemprego, das migrações internas, dos refugiados.

“Vi quanto se empenhou a Igreja, a nível local, com projetos concretos, que muitas vezes não são conhecidos”, relatou.

O responsável fala ainda num “despertar do religioso” na Europa ocidental, em busca de um sentido para a vida.

“A Igreja tem esta missão de estar ao lado das pessoas, em qualquer situação, porque é o rosto de Jesus, é a presença de Jesus que salva”, conclui.

O padre Duarte da Cunha foi eleito como secretário-geral do CCEE durante a assembleia plenária em 2008 em Budapeste (Hungria), e reconduzido no cargo cinco anos depois.

O sacerdote do Patriarcado de Lisboa nasceu a 1 de junho de 1968 e foi ordenado sacerdote em 1993; depois da licenciatura em Teologia na Universidade Católica Portuguesa fez o doutoramento na Pontifícia Universidade Gregoriana sobre “A amizade na obra de S. Tomás de Aquino”.

OC

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