Eutanásia: Presidente do Núcleo de Lisboa da Associação dos Médicos Católicos Portugueses questiona «aproveitamento político»

Sofia Reimão pede clarificação de conceitos na opinião pública

Lisboa, 17 abr 2016 (Ecclesia) – A presidente do Núcleo de Lisboa da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) considera que existe um “aproveitamento político” do tema da eutanásia e destaca que os médicos têm um “papel importante” na clarificação de conceitos.

“Este esclarecimento é fundamental quando estamos a falar em morte provocada, em provocar a morte de alguém com essa intenção, seja a pedido do próprio ou mesmo da família. Coisas a que temos assistido na Europa”, assinala Sofia Reimão.

À Agência ECCLESIA, a especialista em Neurorradiologia observa que morte assistida é o que querem que sejam todas as mortes, que as pessoas “não morram sozinhas e tenham cuidado, afeto” e o que hoje a medicina consegue dar de apoio nessas alturas tão difíceis.

A presidente do Núcleo de Lisboa da AMCP afirma que o debate na sociedade portuguesa sobre a eutanásia “é provocar deliberadamente a morte a uma pessoa”, por isso, sublinha que há a “necessidade de clarificar conceitos”.

“Acima de tudo não passarmos para a opinião pública ideias erradas e um bocadinho manipulação dos conceitos e dos termos”, acrescenta.

Para Sofia Reimão “é estranho” e há, “claramente, motivos políticos”, “aproveitamento do momento”, para o tema aparecer porque para quem “lida” com doentes nos cuidados de saúde é “confrontado no dia-a-dia com carências”.

“Gostávamos de ver a sociedade e os políticos a investirem de facto em soluções para melhorar nomeadamente o Sistema Nacional de Saúde”, revela a entrevistada que numa altura de crise económica quer que sejam proporcionados melhores meios.

Segundo a mestre em Filosofia – especialização em Filosofia e Medicina – existem aqui também um debate filosófico interessante e afirma que a vida “é o direito primordial” sem o qual “não há sequer liberdade”.

“Quando estamos a negar a uma pessoa o direito à vida estamos a negar a liberdade. Não há liberdade sem vida, isso parece-me essencial”, sublinha, interrogando-se sobre quantas dessas pessoas “não estão coagidas”, com “decisões pouco livres”, por causa do seu sofrimento, da sua dor.

Sofia Reimão acentua que há um “trabalho grande” de acompanhamento desses doentes, e das pessoas em geral, na compreensão que sem um direito à vida não pode-se “sequer falar de liberdade”.

A presidente do Núcleo de Lisboa da AMCP na discussão sobre a eutanásia destaca ainda a “noção clara” da dignidade e do respeito pela vida que para si “é transversal a qualquer religião”.

“Precisamos de redescobrir essa dimensão na nossa vida e acho que a sociedade ocidental perdeu um bocadinho essa noção ao afastar a morte até da própria sociedade. Nós não somos confrontados com a questão do sentir”, declara.

Sofia Reimão é uma das entrevistadas do programa ‘70×7’ (RTP2) que vai ser transmitido hoje às 13h30, tendo como pano de fundo a recente nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa sobre a Eutanásia, tema em destaque na mais recente edição do Semanário ECCLESIA.

PR/CB

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