Homilia na solenidade de Santa Joana Princesa padroeira da cidade e da diocese de Aveiro

1.Santa Joana Princesa de Portugal é padroeira da Diocese de Aveiro e protectora da nossa Cidade. Viveu em Aveiro durante dezoito anos como religiosa dominicana do Mosteiro de Jesus e aqui faleceu em 12 de Maio de 1490. Foi beatificada em 1693 e declarada nossa padroeira pelo Papa Paulo VI em 1965. Aveiro celebra 1050 anos da primeira referência pública ao povoamento das suas terras e 250 anos da elevação a cidade. A Diocese vive com devoção a solenidade litúrgica de Santa Joana e une-se com alegria a estas datas marcantes da história de Aveiro. O Santo Padre Bento XVI associa-se a estes sentimentos de fé e de júbilo de todos nós aveirenses ao conceder-nos a sua bênção apostólica e ao enviar-nos uma oportuna mensagem, a exemplo do que há 50 anos fizera o Papa João XXIII, a quando da celebração dos 200 anos da cidade. Vivemos como Cidade e como Igreja as vicissitudes da mesma história e partilhamos as alegrias do mesmo percurso. Tudo nos diz muito, em Aveiro: a terra, a ria e o mar, as pessoas e as instituições, a memória e a identidade, o passado e o presente, as realizações e os sonhos, as alegrias e as esperanças. Sentimos a alegria de formarmos a mesma família humana, a família aveirense, plena de valores e de projectos e temos consciência de sermos, em cooperação e em convergência, construtores de uma cidadania responsável e solidária, neste chão sagrado e nesta terra de liberdade. 2. Santa Joana Princesa ajuda-nos nesta missão e ilumina-nos neste caminho. Ela escolheu viver em Aveiro e ser aveirense ao descobrir a sua vocação de consagração a Cristo e de serviço à Igreja. Aveiro foi o tempo da concretização deste ideal de vida e o lugar desta opção por Cristo. Retomemos as palavras que D. Manuel de Almeida Trindade, de saudosa memória, numa imaginada carta de Santa Joana, escreve aos jovens de Aveiro: “Não sabeis quantas barreiras foi preciso vencer. Mas estava decidida. Havia uma força interior que me impelia. Era o amor de Jesus Cristo que me chamava a segui-l’O. O meu desejo e a minha meta eram o Mosteiro de Jesus, em Aveiro. Houve relutância à minha volta. Senti-me a combater sozinha. Foi em Aveiro que eu realizei o meu sonho.” A coragem da sua fé e a lucidez e a firmeza da sua convicção permitiram-lhe vencer as naturais resistências da família real e as incompreensões humanas dos planos para ela concebidos na Corte de Lisboa. São bem oportunas as palavras de Paulo na segunda leitura de hoje: “Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele renunciei a todas as coisas para ganhar Cristo e n’Ele me encontrar” (Filip 3, 8 e 9). Santa Joana é, para Aveiro, cidade procurada e escolhida por tantos jovens para hoje viver, estudar e trabalhar um belo exemplo de juventude e uma abençoada presença que a todos atrai e envolve. A estátua que a Cidade ergueu frente a esta Catedral, ao lado do Mosteiro de Jesus onde viveu a santa princesa de Portugal é uma presença que assinala o amor e a devoção dos aveirenses pela sua padroeira e afirma o elevado sentido da homenagem de todos nós. 3. Neste solene testemunho de veneração e de homenagem a Santa Joana espelha-se a gratidão de todos nós pelo trabalho, generosidade, coragem e fé dos homens e mulheres que edificaram a nossa cidade e moldaram a identidade do povo que hoje somos. A Igreja tem consciência da responsabilidade que emana da missão recebida de Cristo para ser no coração da cidade sinal de esperança, promotora de uma cultura de humanidade e certeza da presença de Deus. “Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus” (Ap 21, 3). O exemplo de vida e o carisma profético de Santa Joana convidam-nos a valorizar na cidade e na diocese a experiência de comunidades orantes, dedicadas à escuta e ao anúncio da Palavra de Deus, centralizadas na Eucaristia, e que sejam acolhedoras e missionárias, evangelizadas e evangelizadoras. Evangelizar com novo ardor e entusiasmo é o primeiro e maior serviço que a Igreja presta à Cidade. Aqui nasce a fé em Deus e o sentido de pertença a uma comunidade daqui partem as iniciativas pastorais nas várias frentes da missão que a Igreja recebeu de Cristo e devem irradiar as decisões e actividades multiplicadas no tempo da nossa história e no espaço da nossa diocese. Este objectivo preside ao Plano Diocesano de Pastoral proposto à Diocese para este quinquénio, na perspectiva da celebração dos setenta e cinco anos da restauração da diocese e da realização da Missão Jubilar Diocesana. 4. Sabemos que a hora que vivemos, marcada por circunstâncias e acontecimentos que toldam o horizonte de esperança do mundo contemporâneo, exigem da Igreja que não se limite a reconhecer o que se vive, mas saiba inspirar critérios de ética, de responsabilidade e de fé e consiga mobilizar pessoas, grupos, movimentos apostólicos e comunidades para, em conjunto com a sociedade civil, com as Autarquias e com o Governo do País, construirmos com renovada esperança um mundo melhor. São campos específicos deste mundo melhor com que sonhamos a exigir e a merecer esta presença actuante e esta acção interventiva da Igreja a vida humana, a família, a educação, a solidariedade social e a solicitude atenta aos doentes, aos reclusos, aos desempregados, aos pobres e aos desfavorecidos. Nestes campos como em tantos outros e usando algumas imagens bíblicas, precisamos de abrir as portas da cidade aos que nos procuram. Devemos ser casa onde a palavra, o pão e o trabalho se multiplicam e se transformam em alimento de vida, sinal de esperança e experiência de fraternidade para todos. 5. Estamos em comunhão com o Santo Padre que se encontra em Israel e na Palestina, na terra onde Jesus nasceu e viveu. Terra tão santa quanto dolorosa e sofrida. Está aí como peregrino do berço da nossa fé, como construtor do diálogo inter-religioso com os judeus, com os cristãos e com os muçulmanos e como mensageiro da paz entre os povos. Agradeço-lhe a mensagem que nos enviou e transformo em oração as palavras da sua mensagem: “Queira Deus fortalecer cada vez mais a alma da cidade, ou seja o amor recíproco entre os seus habitantes, para que cada família, cada rua, cada bairro se torne uma comunidade, onde ninguém se sinta sozinho, rejeitado ou desprezado”. Que Santa Joana a todos proteja e abençoe. Ámen Sé de Aveiro, 12 de Maio de 2009 +António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro

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