Igreja/Cultura: Teólogo Tomás Halík, perseguido na antiga Checoslováquia, denuncia emergência de novos populismos

Ensaísta católico denuncia aproveitamento da religião para discursos nacionalistas

Lisboa, 21 nov 2018 (Ecclesia) – O padre e teólogo Tomás Halík, perseguido na antiga Checoslováquia, disse hoje à Agência ECCLESIA que os novos populismos na Europa são uma “doença infeciosa”, denunciando o aproveitamento da religião para discursos nacionalistas.

“Há sempre pessoas frustradas, zangadas, mas se o sistema imunitário da sociedade não funcionar como deve ser, isso é muito perigoso. Esse sistema imunitário é a Igreja, a Universidade, os responsáveis públicos, principalmente a família”, observou o autor, que está em Portugal para apresentar o seu novo livro, ‘Diante de Ti os Meus Caminhos’ (ed. Paulinas).

O sacerdote constata que muitos políticos se aproveitam de sentimentos de “ansiedade, de confusão” da população.

“O populismo, chauvinismo, nacionalismo, xenofobia, são muito, muito perigosos e temos de desenvolver uma biosfera moral para a democracia. Não bastam as instituições políticas, o Parlamento, os partidos, que são como os órgãos no corpo, mas também precisamos da circulação sanguínea, que é a sociedade civil”, assinala.

As pessoas estão a utilizar erradamente a religião, para apoiar identidades de grupo, étnicas. O aproveitamento da religião pelos populistas é perigosa”.

Nascido em Praga em 1948, foi ordenado padre na clandestinidade e vigiado pela polícia secreta; na sequência da queda do regime comunista, em 1989, prestou serviço como conselheiro do presidente checo Václav Havel.

O padre Tomás Halík tem dedicado a sua reflexão teológica ao diálogo entre crenças e descrença, considerando que se vive “um tempo em que as pessoas procuram por uma profundidade espiritual”.

“Este é o futuro da Igreja, estar lá para todos, para todas as pessoas. Todos têm uma dimensão espiritual e devemos evitar ‘empurrar’ essas pessoas para as estruturas que já existem na Igreja, institucionais ou mentais, mas abrir e alargar essas estruturas, para que receber a experiência das outras pessoas”, defende.

No novo livro, o autor relata uma experiência em que correu perigo de vida, no mar gelado da Antártida.

“Procuro falar sobre isso, sobre como nesse momento de stress, de perigo, alguma coisa acontece nas profundidades do coração, da mente, desta experiência espiritual”, refere.

O autor descreve a sua infância no estalinismo, a sua conversão ao cristianismo, a ‘Primavera de Praga’ e a ocupação soviética em 1968, com o seu trabalho na “Igreja clandestina”, bem como a “Revolução de Veludo” em 1989 e as mudanças ocorridas durante a construção da democracia.

O teólogo, filósofo e ensaísta vai proferir hoje a conferência ‘Fazer que o mundo volte a pensar – Razão, esperança e fé numa era de populismo’, às 18h30, no auditório do Colégio São João de Brito, em Lisboa.

OC

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