Igreja: Pessoas com deficiência são minoria «sequiosa» a quem «não se pode fechar portas»

Sacerdote de Coimbra quer dar sinal à diocese e à paróquia com criação de eucaristia semanal com língua gestual

Coimbra, 02 jul 2018 (Ecclesia) – A Igreja Católica “não pode fechar as portas” às pessoas com deficiências, sendo necessário procurar “meios para comunicar” com aqueles que a procuram e a quem a Igreja deve acolher, assinala o responsável pelo setor na Diocese de Coimbra.

“Há aqui uma população minoritária, é certo, mas que tem direito à evangelização e catequese e que nós lhe fechamos as portas por não termos os meios para comunicar com eles. Se eles não percebem como podem estar interessados?”, indica à Agência ECCLESIA o sacerdote Jorge Santos, pároco em São José, no centro da cidade dos estudantes, que em setembro vai inaugurar uma Eucaristia semanal com interpretação em língua gestual portuguesa.

O sacerdote reconhece uma “lacuna” na formação dos futuros sacerdotes que, no seminário, não recebem os ensinamentos adequados para responder a esta realidade pastoral, onde bastaria “um curso de língua gestual porque até não é muito difícil”.

“É verdade que são minorias mas hoje está-se muito atento às minorias. E Jesus deixa as 99 ovelhas e foi à procura da que estava perdida”, sublinha.

Antes de assumir a paróquia no centro da cidade, o padre Jorge Santos estava numa paróquia frequentada por “várias pessoas surdas” e recorda, em especial um acólito, cuja família “muito cristã” queria dar formação correspondente ao seu filho.

“O rapaz era muito interessado mas acabou por desistir porque, dizia à mãe, não percebia nada. Foi acólito e via-se que gostava”, relembra o padre que assume, no sacramento da confissão “não sabia como agir com ele”.

“Fazia-lhe sinais, mas ele não compreendia muita coisa. Mas eu tinha um grande desejo de falar com ele porque via que era terra sequiosa, sem água. Outras pessoas mais velhas quando se iam confessar só lhes fazia o sinal para rezarem o terço porque não sabia mais como comunicar”, refere.

Já na cidade de Coimbra, o padre Jorge Santos, ao encontrar um rapaz surdo na sua paróquia, “muito interessado por estas questões”, resolveu frequentar um curso de língua gestual portuguesa onde, afirma ter aprendido, mas “quando não se pratica, esquece-se”.

Por isso, afirma com alegria que, a Eucaristia paroquial das 11h00, “dedicada à catequese, que está sempre cheia”, será acompanhada de interpretação em língua gestual portuguesa, esperando desta forma emitir um sinal de inclusão.

O responsável admite que a pastoral para pessoas com deficiência é um vasto terreno.

“Neste caso, com os surdos, é apenas um aspeto. Há todas as outras deficiências a que precisamos estar atentos”, indica.

“Aparecem muito na catequese crianças com trissomia 21 e os catequistas desconhecem o que fazer. Isso merece uma reflexão mais aprofundada de como dar resposta a todas as deficiências, e não apenas uma, que aparece na catequese”.

No mês de maio esteve em Portugal a irmã Verónica Donatello que na Conferência Episcopal Italiana desenvolve instrumentos para adequar a catequese a pessoas com deficiência.

O sacerdote Jorge Santos, que esteve no encontro promovido pelo Serviço de Pastoral a Pessoas com Deficiência, dá conta da importância de se darem os primeiros passos para respostas adequadas.

“Em primeiro lugar temos de colocar o problema: discutir em reuniões de padres e com leigos. E depois começar a dar passos. Creio que é possível fazer mais”, sustenta, baseado na experiência partilhada com a religiosa italiana onde percebeu uma preocupação partilhada.

“O que para mim era uma preocupação, percebi no encontro, ser uma questão refletida na Igreja há muito tempo. Foi um abrir perspetivas para este trabalhão pastoral”.

Os projetos pastorais da paróquia de Coimbra estiveram em destaque no programa Ecclesia deste domingo na Antena 1, com exemplos de práticas pastorais de acolhimento a pessoas com deficiência.

LS

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