João Paulo II faz balanço do seu 2003

Discurso aos cardeais e membros da família pontifícia e da Cúria romana Senhores cardeais, Distintos membros da Cúria e da Prelatura romana: 1. Ao aproximar-se o Natal, faz-se mais intenso o convite da Liturgia: «Descendit de caelis Salvator mundi. Gaudeamus!». É um convite à alegria do espírito, e a Liturgia explica o porquê: «Desceu do céu o Salvador do mundo». Em Belém, numa pobre gruta, nasceu o Messias esperado e invocado pelos profetas: o Filho de Deus veio para nós. Maria continua a oferecê-lo aos homens de todas as épocas e culturas: nasceu para a salvação de todos. Estes são os sentimentos que experimento neste tradicional e desejado encontro de final de ano. O cardeal decano, em vosso nome, formulou fervorosos auspícios para as eminentes festividades, com as celebrações do vigésimo quinto aniversário de pontificado como pano de fundo. Saudo-o e dou-lhe graças, igualmente que vos saúdo a todos vós, senhores cardeais, bispos e prelados, abarcando em um só gesto de reconhecimento e de afecto os oficiais e colaboradores da Cúria romana, do Vicariato de Roma e do Governo do Estado da Cidade do Vaticano. Estou espiritualmente próximo de todos vós. Agradeço o trabalho que ofereceis ao serviço desta Cátedra de Pedro, cada qual segundo as suas próprias competências e seus encargos. Que Jesus, que nasce, vos encha com seus dons de graça e de bondade, e vos dê recompensas pelo esforço quotidiano que com frequência ofereceis no silêncio e na discrição. Fazei chegar estes meus sentimentos aos sacerdotes, aos religiosos e aos leigos que colaboram convosco. 2. Recordo o primeiro encontro com os membros da Cúria romana, que aconteceu em 22 de Dezembro – um dia como hoje – de 1978. Há vinte e cinco anos! Desejo dizer-vos antes de tudo, queridos irmãos, que durante estes anos pude admirar com gratidão a inteligência e a entrega com a qual ofereceis vossos serviços ao sucessor de Pedro. «Vos estis corona mea», vos dizia então, citando São Paulo (Cf. Filipenses 4,1). Repito-o hoje com gosto, pois vós «vos haveis convertido de maneira sumamente particular em meus “familiares” segundo esta comunhão transcendente… que se chama e é a vida eclesial» («Insegnamenti», I, 1978, p. 394). Como poderia cumprir as tarefas que me foram confiadas sem a vossa fiel colaboração? Recordo com reconhecimento a todos os que, durante os anos passados, se sucederam nas respectivas tarefas. Rezo todos os dias por aqueles que o Senhor já chamou para sua presença, invocando para eles a recompensa merecida. 3. O fim pelo qual todos juntos nos fatigamos é único: anunciar o Evangelho de Cristo para a salvação do mundo. É uma missão que queremos realizar com espírito de fé e com disponibilidade ao sacrifício, se fosse necessário, até à «passio sanguinis», de que fala Santo Agostinho. Como observa o bispo de Hipona, estamos de facto ao serviço de um rebanho que não foi comprado nem com ouro nem com prata, mas com o sangue de Cristo (Cf. «Sermo» 296, 4 : «Discorsi V», Città Nuova, p. 326). Que não desfaleça nunca em nosso ministério a fidelidade àquele que nos associou intimamente a seu sacerdócio! Que no centro da vossa vida esteja sempre e somente Ele: Cristo! Com o passar dos anos faz-se cada vez mais profunda em mim esta convicção: Jesus pede que sejamos suas testemunhas, que nos preocupemos somente com a sua glória e o bem das almas. É o que quis sublinhar na encíclica «Ecclesia de Eucharistia», assim como nas exortações apostólicas pós-sinodais «Ecclesia in Europa» e «Pastores gregis», promulgadas no ano 2003. É o que pretendia ao publicar a recente carta apostólica «Spiritus et Sponsa» no quadragésimo aniversário da «Sacrosanctum Concilium» e no quirógrafo com motivo do centenário do «Motu proprio» «Tra le sollecitudini» sobre a música sacra. Não é acaso o amor por Cristo o que moveu em Outubro o colégio dos cardeais a reunir-se, com os presidentes das Conferências Episcopais e os Patriarcas, para fazer uma ampla e profunda reflexão sobre as exigências actuais da evangelização? O amor por Cristo guiou também as viagens apostólicas que fiz este ano à Espanha, à Croácia, à Bósnia-Herzegóvina, e à República Eslovaca. A consciência do anseio de Cristo para que se alcance a unidade dos crentes – «ut unum sint» – (Jo. 17, 22) levou-me por último a intensificar os contactos ecuménicos com os representantes das venerandas Igrejas ortodoxas, com o primaz da comunhão anglicana e com os expoentes das demais Igrejas e Comunidades eclesiais, em particular com as quais atuam na Europa. 4. Europa! Não posso deixar de constatar que o continente europeu viveu este ano e continua a viver uma fase crucial de sua história, enquanto amplia as fronteiras a outros povos e nações. É importante que a Europa, enriquecida através dos séculos pelo tesouro da fé cristã, confirme estas origens e revitalize estas raízes. A contribuição mais importante que os cristãos estão chamados a dar à construção da nova Europa é, antes de tudo, a sua fidelidade a Cristo e ao Evangelho. A Europa tem necessidade em primeiro lugar de santos e de testemunhas. As cerimónias de beatificação e de canonização, celebradas ao longo do ano, permitiram assinalar, como modelos dignos de ser imitados, alguns filhos e filhas de Europa. Basta recordar Madre Teresa de Calcutá, imagem do Bom Samaritano, que se converteu para todos, crentes e não-crentes, em mensageira de amor e de paz. 5. Ser testemunhas de paz; educar na paz! Este é o outro compromisso mais urgente que nunca para a nossa época, que vê como continuam a aumentar no horizonte riscos e ameaças para a convivência serena da humanidade. A solene comemoração da encíclica «Pacem in Terris» do beato João XXIII, no quadragésimo aniversário de sua promulgação, fez-nos reviver o optimismo, calcado de esperança cristã, desse grande pontífice em momentos tão difíceis como os nossos. A paz continua a ser possível também hoje e, se é possível, é um dever. Quis repeti-lo na Mensagem para o próximo Dia Mundial da Paz. Que o Menino de Belém, que nos dispomos a acolher no mistério do Natal, traga ao mundo o dom precioso da sua paz. Que a alcance Maria, a cujo Santuário de Pompeia viajei em peregrinação no passado mês de Outubro para coroar de maneira solene o Ano do Rosário. Com estes sentimentos apresento as minhas felicitações a todos vós com motivo das próximas festas natalinas e do ano novo, enquanto envio de coração minha benção.

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