MAAC: Crianças e adolescentes querem transformar o mundo a partir do bairro Cova da Moura

«Estas pessoas não são outras, estão ao nosso lado e não é uma ação de solidariedade num dia que nos vai colocar em contacto. É vivermos com elas, sermos comunidade com elas”, afirma o animador João Pedro Cruz

Lisboa, 19 fev 2018 (Ecclesia) – Cátia Tuna e João Pedro Cruz pertencem ao Movimento do Apostolado de Adolescentes e Crianças (MAAC) e no bairro da Cova da Moura, na periferia de Lisboa, procuram criar uma consciência cívica capaz de realizar mudanças sociais.

“O autoconhecimento é um passo fundamental para qualquer conversão, seja de fé ou de cidadania”, indica João Pedro Cruz à Agência ECCLESIA.

Os encontros semanais começam com a realidade de cada participante e é a partir do que conhecem que se pode propor a mudança.

“Discussões com amigos, com professores, os problemas em casa. Quer-se que aquele seja um espaço de segurança afetivo, onde se sintam à vontade e confiança para partilharem o que quiserem”, indica a animadora, mestre em Teologia.

Cátia Tuna dá o exemplo de quando abordaram o tema da solidariedade uma criança do grupo ter partilhado que a sua vivência deste valor acontecia quando, em casa, tinha de separar a mãe do pai em situações de violência doméstica.

“Achei bonito e uma graça muito grande ter este nível de partilha num grupo que se reúne naquele contexto e em Igreja”, traduz.

O MAAC, que assinalou 40 anos de presença em Portugal, “não tem um catecismo nem trabalha com objetivos”.

“Jesus está presente nas reuniões, no nosso testemunho, nas nossas orações, quando tentamos tirar conclusões para a vida mas não é o principal nas reuniões: as crianças participam para se conhecerem a elas próprias”, reforça João Pedro sublinhando o trabalho de “longa duração” que desenvolvem.

No bairro da Cova da Moura e no próprio grupo do MAAC coexistem várias religiões e ali fomenta-se um trabalho ecuménico e de respeito pela diferença.

“Se queremos que as crianças sejam agentes de mudança temos de saber transmitir esses valores”, traduz o animador.

João Pedro Cruz fez um percurso de formação cristã na catequese e num grupo de jovens na paróquia da Buraca mas, afirma, “raramente, enquanto paroquiano” ter atuado no bairro.

“Lembro-me de um rapaz cujo maior problema que tinha era o irmão estar preso. Na altura pensei: «Tenho mais 15 anos e não tenho um problema desta dimensão na ninha vida». Não tenho respostas, mas ao mergulhar nestas comunidades, viver a fé com elas, ir a festas, ganho uma visão mais profunda das suas vidas”, manifesta.

Para este animador a integração e a justiça social acontecerá quando cada pessoa der passos para construir uma verdadeira comunidade.

“Em Lisboa há muitas paróquias com bairros que não estão verdadeiramente integrados. É este o chamamento que o papa Francisco nos faz: estas pessoas não são outras, estão ao nosso lado e não é uma ação de solidariedade num dia que nos vai colocar em contacto. É vivermos com elas, sermos comunidade com elas”.

 

“Às vezes auto-representamo-nos como os que estão a fazer o favor de ajudar, mas é exatamente o contrário. Aquelas pessoas é que me ajudam a viver a alimentar com espanto a força da fé do outro”.

Já Cátia Tuna traduz o quanto viver no bairro da Cova da Moura a ajuda a construir uma Igreja dos pobres.

“Eu sou muito grata às crianças e às pessoas que vivem na Cova da Moura porque me dão o privilégio de fazer a experiência extraordinária da Igreja dos pobres e eu só posso agradecer-lhes”.

A animadora afasta-se da ajuda referencial e prefere sublinhar o crescimento mútuo que acontece naquele contexto.

O testemunho e o trabalho de João Pedro Cruz e Cátia Tuna esteve em destaque no programa Ecclesia deste domingo, em que antecipamos o Dia Mundial da Justiça Social data criada em 2007 pela Assembleia Geral das Nações Unidas com o objetivo de chamar a atenção para os problemas da pobreza, do desemprego e da exclusão, e criar oportunidades que combatam as assimetrias.

LS

 

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