Passar fazendo o bem: a dimensão social no agir de Luiza Andaluz

Isabel Martins, snsf

«A Fé em Deus, que me orientou desde os primeiros anos, levou-me a procurar o bem do próximo, sobretudo dos pobres, dando-lhes, na medida do possível, educação, amparo moral e material, habilitações para poderem enfrentar a vida»1.

Com estas palavras, aos 89 anos de idade, sintetizava Luiza Andaluz o seu percurso de vida. A vivência da caridade cristã, como virtude teologal que traduz a fé em obras, atravessa toda a sua existência, reflecte-se numa vasta obra social e educativa e em incontáveis histórias individuais de acompanhamento e dignificação da pessoa em situação de fragilidade.

No contexto da Primeira República, em ambiente hostil à religião e de grande instabilidade política, Luiza Andaluz fundou e dirigiu obras sociais e educativas em Santarém e Lisboa. A sua intervenção enquadra-se no catolicismo social, fortemente impulsionado pela Encíclica Rerum Novarum de Leão XIII, publicada em 1891. Numa sociedade em processo de descristianização e marcada pela pobreza e exploração das populações, o laicado tomava consciência que a sua missão evangelizadora se joga precisamente aí, no terreno social.

É nesse mesmo ano – 1891 – que Luiza inicia a sua intervenção social na qual se verificam dois períodos distintos: até 1923, como leiga – primeiro em resposta ao seu bispo e depois, a partir de 1915, integrando a Obra das Escolas das Filhas de Maria de S. Luís – e após 1923, como fundadora da Congregação.

Luiza Andaluz funda Obras Sociais e educativas por iniciativa própria ou apoia outros nessa mesma acção. São Obras estruturadas para responder às necessidades específicas de cada contexto, que dão assistência, educação e, sempre que possível, se ocupam da transmissão da fé. Centram-se no serviço à pessoa; são lugares onde não se faz política, mas caridade2. Luiza deseja que sejam estruturas para espalhar o bem. Um bem realizado de forma organizada mas com flexibilidade, utilizando todos os meios – os mais modernos – para o levar a cabo.

Para além das Obras sociais e educativas Luiza Andaluz mantém uma solicitude constante pelos outros, principalmente um agudo sentido de protecção dos mais frágeis, procurando resolver situações humanas problemáticas. Destaca-se o seu envolvimento na assistência às famílias afectadas pela epidemia da pneumónica em 1918 na cidade de Santarém e o facto de ter acolhido 60 meninas do distrito que ficaram órfãs. Luiza mantém contacto com as pessoas a quem ajudou, retém no coração percursos de vida, êxitos e fracassos.

Sobressai ainda a solicitude de Luiza pelos doentes: desdobra-se em visitas e quando a morte se aproxima acompanha os últimos momentos, permanecendo junto da pessoa até ao fim. As relações humanas que estabelece são marcadas pela proximidade, amizade, sabedoria, empatia, destacando-se a força do seu olhar que irradiava alegria e caridade, inspirava confiança e transmitia paz.

Com a luz da fé bem acesa Luiza Andaluz passou fazendo o bem, dando Deus aos que têm fome e sede de justiça, reconstruindo vidas em ruínas, dando instrumentos para que elas permaneçam firmes, mesmo perante as tempestades da vida.

                                                        

  • ANDALUZ, Luiza – Discurso na atribuição da Medalha de Ouro da cidade de Santarém, a 28 de abril de 1966
  • ANDALUZ, Luiza – História da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, §178
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