Setúbal: Vila piscatória de Sesimbra celebrou o Senhor Jesus das Chagas

D. José Ornelas realçou uma tradição religiosa que tem sido decisiva para a «identidade» da região e que tem de ser preservada

Foto: Junta de Freguesia de Santiago – Sesimbra

Sesimbra, 05 mai 2018 (Ecclesia) – A vila de Sesimbra, na Diocese de Setúbal, viveu esta sexta-feira o momento alto da sua festa principal, em honra ao Senhor Jesus das Chagas, com uma procissão que juntou as populações pelas ruas desta localidade piscatória.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o bispo de Setúbal, que celebrou a missa festiva da iniciativa, destacou uma tradição religiosa que contribuiu ao longo dos anos para a “formação da identidade” destas comunidades, que serviu de suporte para os sacrifícios e desafios enfrentados pelas pessoas, e que por isso tem de ser preservada.

O culto ao Senhor Jesus das Chagas em Sesimbra remonta ao século XVI, mais concretamente a 1534.

De acordo com a tradição oral passada de geração em geração, esta representação do Senhor das Chagas terá chegado à vila durante a afirmação do Protestantismo em Inglaterra, quando todas as imagens católicas foram deitadas ao mar.

Esta devoção acompanhou por isso “lutas de séculos que se espandiram por esses mares fora”, de quem “partiu daqui para garantir a subsistência e a economia desta terra”, frisou D. José Ornelas.

Neste sentido, pelo valor que têm, este género de manifestações de fé “não podem ser simplesmente um marco do passado”.

“A religiosidade popular é muito importante porque responde a necessidades, a visões de vida, a perspetivas do mundo e da própria existência que são as questões que a humanidade sempre se colocou. E hoje viver para o passado só não chega, mas perder o passado não ajuda a ninguém”, alertou o bispo de Setúbal.

Atualmente a festa em honra do Senhor Jesus das Chagas é encarada pela Igreja Católica local como uma iniciativa “fundamental” para a vivência de fé das pessoas mas também para a promoção e dinamização deste território.

Isto porque, de acordo com o padre Manuel da Silva, responsável por esta comunidade, estamos a falar de uma paróquia cada vez mais “envelhecida”.

“As casas ficaram caras, os jovens vão morando para a Paróquia do Castelo onde se fez construções novas e ficaram aqui só os idosos. Mas nestes dias vêm todos”, salientou o sacerdote.

Organizada pela Irmandade do Senhor Jesus das Chagas, a festa começou este ano a 29 de abril e vai prolongar-se ainda até dia 08 de maio, com várias iniciativas pastorais, desde novenas diárias até à benção ao mar e às embarcações dos pescadores da vila.

O padre Manuel da Silva realçou o imperativo pastoral de continuar a estar próximo desta comunidade, nas suas dificuldades e desafios, aproveitando estes momentos de expressão de uma religiosidade mais popular.

“Temos este ideal e depois é fazer o que se pode, manter as pessoas unidas, sendo também uma Igreja acolhedora, de portas abertas e acessível”, sustentou.

Esta sexta-feira, as ruas da vila engalanaram-se para prestar homenagem à passagem do andor do Senhor Jesus das Chagas, a principal festa religiosa de Sesimbra, onde o dia 04 de maio é feriado municipal.

“Numa vila com uma forte comunidade piscatória, como a nossa, esta festa assume um grande significado, daí o Senhor Jesus das Chagas ser também o padroeiro dos pescadores”, apontou Tiago Sanches, membro da comissão organizadora da festa, e da Irmandade do Senhor Jesus das Chagas.

Todos os anos, a festa tem um tema diferente, a partir de uma palavra com nove letras, correspondente a cada uma das novenas de oração que são realizadas ao longo destes dias.

Este ano, o tema escolhido foi o da “esperança”, uma palavra que quis ir ao encontro da realidade austera que muitas das pessoas desta comunidade enfrentam, no seu trabalho ou pela falta dele, também por estarem mais idosas e sozinhas.

E ao mesmo tempo, colocou também um desafio aos mais jovens que ainda vão colaborando com esta festa e mantendo esta tradição, como é o caso de Tiago Sanches, que foi “puxado” para este serviço “pelo seu pai e também por familiares que já estão na comissão há mais tempo”.

“Convém termos malta nova, com novas ideias, com sangue na guelra como se costuma dizer, para não deixar cair esta festa em desuso, para as coisas não acabarem”, interpelou este jovem de 27 anos.

CB/JCP

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