Sociedade: «Transcendência» é «forte lugar de contacto» entre desporto e experiência religiosa

Colóquio internacional promovida pela Universidade Católica termina em Braga

Lisboa, 27 nov 2018 (Ecclesia) – O diretor do Instituto de Estudos de Religião da Universidade Católica Portuguesa disse que o desporto, “experiência humana fundamental”, tem “pontos de contacto com a experiência religiosa”.

“O ponto possível entre desporto e experiência religiosa acaba por encontrar nesta dimensão de busca de uma transcendência um forte lugar de contacto”, referiu Alfredo Teixeira à Agência ECCLESIA,  um dos conferencistas do Colóquio ‘Desporto, Ética e Transcendência’, que começou esta segunda-feira, em Lisboa, e se conclui hoje, em Braga.

Segundo o antropólogo, a atividade desportiva, “em particular no quotidiano das pessoas e desporto de lazer”, de alguma maneira preenche um espaço, um tempo, “na vida das pessoas que de alguma forma também era preenchido por práticas votivas, devocionais, religiosas”.

O diretor do Instituto de Estudos de Religião da UCP revela que, quando sai de casa ao domingo de manhã, em muitos casos, consulta “o plano de atividades desportivas” da sua zona, porque a mobilidade pode “ficar afetada”, quando “há umas décadas parte dessas pessoas estaria a mover-se não em função do desporto, mas em função da Igreja, do espaço celebrativo”.

“Esta experiência do desporto também ocupa de alguma forma um lugar na vida das pessoas que passa pela dimensão celebrativa, sentir-se estar vivo, estar-se no mundo”, desenvolveu Alfredo Teixeira.

O professor universitário Josep Maria Esquirol, por sua vez, destacou que para os humanos viver “significa sentir-se vivendo”, ou seja, darem-se conta do que estão a fazer e que o “sentir-se vivo é algo prazeroso, satisfatório”.

“O desporto é uma destas modalidades que faz sentir mais vivo. É uma destas ações que intensifica este sentir-se vivo, as ações maiúsculas são pensar – conhecer, meditar, investigar, estudar – e amar – amizade, companhia, amor erótico. Dá mais força à vida e intensifica o viver”, disse o filósofo da Universidade de Barcelona.

O colóquio internacional ‘Desporto, Ética e Transcendência’ termina hoje em Braga (14h00-18h00), depois de um dia inteiro de reflexão e partilha esta segunda-feira, em Lisboa.

Para o antigo atleta olímpico e recordista mundial dos 10 mil metros, Fernando Mamede, a ética “está agora em causa” no desporto nacional pelos acontecimentos no futebol e “valores que não são do desporto”.

“O futebol tomou uma proporção muito grande em que efetivamente choca com o dia-a-dia das pessoas, com a sociedade”, afirmou o antigo atleta do Sporting Clube de Portugal, recordando que no seu tempo, no atletismo, queriam “ganhar” mas depois “havia essencialmente amizade entre todos” e respeito.

Segundo Fernando Mamede “faz todo o sentido debater-se” o tema da ética no desporto e lembra que quando chegou ao Sporting, em 1968, “os dirigentes” tinham “uma certa cultura, uma ética muito forte” mas considera que “o desporto tem de ser visto de uma forma positiva”, e agora, “que já bateu no fundo”, “transmitir aos jovens que praticam desporto esses novos valores”.

Alfredo Teixeira contextualiza que a violência “não é um fenómeno meramente desportivo, mas humano” e está presente em muitas atividades humanas.

“Grande parte do investimento que hoje se faz no desporto em termos educativos se centra muito na dimensão de pensar no desporto como experiência de cidadania, de humanismo”, exemplificou o diretor do Instituto de Estudos de Religião da UCP.

Para o colóquio foram convidados investigadores de diversas áreas e desportistas, como o ultramaratonista Carlos Sá, Bruno Valentim do tiro adaptado, Luís Sénica do hóquei em patins.

A professora Ana Santos, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, no painel ‘habitar o mundo: Meio, desporto e pedagogia’, alertou, por exemplo, para “os corpos atléticos que no início do século eram diferentes dos de agora”.

“Uns muito pequenos para a ginástica, outros muito grandes para o basquetebol e isto vai colocar questões éticas ligadas com o treino e especialização precoce”, observou.

À Agência ECCLESIA, Ana Santos, formada em sociologia e antropologia, deu ainda como exemplo que o homem “sempre se procurou ultrapassar a si próprio” e tende “a transcender-se, o herói desportivo” que é saltar como o Nelson Évora, “uma coisa de Deus, não é o comum mortal que faz 17 metros e tal”.

CB/OC

Igreja/Sociedade: «Na medida em que for mais humano, serei melhor desportista» – Manuel Sérgio (c/vídeo)

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