Vaticano: Francisco reza pelos «milhares de mortos» no Mediterrâneo e critica «hipocrisia estéril» dos países mais ricos

Papa recorda 5.º aniversário da visita a Lampedusa com refugiados e socorristas vindos da Espanha

Cidade do Vaticano, 06 jul 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje a uma Missa com refugiados, no Vaticano, pelo 5.º aniversário da sua viagem à ilha italiana de Lampedusa, repetindo o apelo à “responsabilidade humana” pelos migrantes e refugiados.

“Infelizmente, apesar de generosas, as respostas a este apelo não foram suficientes e hoje choramos milhares de mortos”, disse na homilia da celebração, na Basílica de São Pedro.

Francisco recordou as vítimas da “cultura do descarte”, entre eles os migrantes e os refugiados que “continuam a bater às portas das nações que gozam de maior bem-estar” e são recebidos com a “hipocrisia estéril de quem não quer «sujar as mãos»”.

A Missa contou com a presença de cerca de 200 pessoas, entre refugiados e socorristas, alguns dos quais vindos de Espanha, junto ao altar da Cátedra.

“Quis celebrar o quinto aniversário da minha visita a Lampedusa convosco, que representais os socorristas e os resgatados no Mar Mediterrâneo”, explicou o Papa.

Em junho, o navio Aquarius, da organização não-governamental SOS Mediterranée, foi encaminhado para a Espanha, escoltado por duas embarcações da Marinha Italiana, depois de ter sido impedido de atracar na Itália e em Malta.

Francisco agradeceu a quem acolhe os migrantes e refugiados, considerando que encarnam hoje a parábola do Bom Samaritano, “que parou para salvar a vida daquele pobre homem espancado pelos ladrões, sem lhe perguntar pela sua proveniência, pelos motivos da sua viagem ou pelos seus documentos”

“Aos resgatados, o pontífice deixou uma palavra de solidariedade e encorajamento, recordando as “tragédias” de que estão a fugir.

“Peço-vos que continueis a ser testemunhas da esperança num mundo cada vez mais preocupado com o próprio presente, com reduzida visão de futuro e relutante a partilhar, e que elaboreis conjuntamente, no respeito pela cultura e as leis do país de acolhimento, o caminho da integração”, apelou.

A intervenção denunciou o “silêncio, por vezes cúmplice”, de muitos, perante o drama dos que fogem da guerra ou da fome, dos “últimos, os rejeitados, os abandonados, os marginalizados”.

“O Senhor promete descanso e libertação a todos os oprimidos do mundo, mas precisa de nós para tornar eficaz a sua promessa. Precisa dos nossos olhos para ver as necessidades dos irmãos e irmãs. Precisa das nossas mãos para socorrê-los. Precisa da nossa voz para denunciar as injustiças cometidas”.

O Papa apontou o dedo a quem constrói muros, “reais ou imaginários”, em vez de pontes e defendeu que a única resposta sensata é “a solidariedade e a misericórdia”.

“Uma resposta que não faz demasiados cálculos, mas exige uma divisão equitativa das responsabilidades, uma avaliação honesta e sincera das alternativas e uma gestão prudente”, precisou.

“Política justa é aquela que se coloca ao serviço da pessoa, de todas as pessoas interessadas; que prevê soluções idóneas a garantir a segurança, o respeito pelos direitos e a dignidade de todos; que sabe olhar para o bem do seu país tendo em conta o dos outros países, num mundo cada vez mais interligado”.

Após a homilia, houve um momento musical e de evocação dos defuntos, dos sobreviventes e daqueles que os assistem.

No final da Missa, o papa cumprimentou os presentes, um a um, durante vários minutos.

A viagem do Papa à ilha italiana de Lampedusa, a primeira do pontificado, no dia 8 de julho de 2013, evocou o drama dos milhares de migrantes que tentam entrar na Europa e acabam por perder a sua vida no mar Mediterrâneo.

OC

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